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Concentração de frigoríficos mobiliza criadores do MT e MS


Pecuaristas do Mato Grosso e do Mato Grosso do Sul se mobilizaram ontem (14), em Campo Grande (MS), para buscar medidas de contenção ao processo de concentração da indústria frigorífica no País. Os criadores de bovinos estão preocupados com o esvaziamento da concorrência no setor, em que apenas três empresas controlam um quarto da capacidade de abates do País.


Os líderes do encontro, em carta, atribuíram à política de crédito do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) o principal motivo pelo fechamento de mais de dez frigoríficos de pequeno e médio portes, nos últimos três anos, e o avanço das grandes companhias do ramo em direção ao monopólio. Receberam apoio de pecuaristas do Pará e de São Paulo.

O movimento de concentração se intensificou nos últimos anos, principalmente no Mato Grosso, onde o grupo JBS, que recebeu pelo menos R$ 10 bilhões do BNDES, passou a deter 48% de participação de mercado, segundo o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea). Em 2009, a empresa tinha 14%.

O pecuarista Maurício Tonhá, do Vale do Araguaia (MT), disse que a região está "dominada pela JBS". Ele acusou a companhia de ter adquirido plantas frigoríficas de concorrentes apenas para desativá-las, concentrando a produção. De modo que, hoje, o criador do Vale do Araguaia está próximo de sete frigoríficos, dentre os quais, cinco pertencentes à JBS e quatro desativados (dois destes, de outras empresas).

"As indústrias menores estão sendo agredidas, com apoio do BNDES", afirmou Tonhá. O financiamento público aos projetos de expansão dos grandes frigoríficos é alvo de críticas entre os pecuaristas. "Com isso, temos vendido um número maior de animais em pé. Todos temos sido pressionados pelo preço", afirmou Tonhá.

"O que está acontecendo é que estamos entrando num ciclo de baixa de preços", observou o especialista em pecuária da consultoria Scot, Alex Lopez Silva. "Mas há também uma questão simples de mercado: reduzindo a concorrência, fica mais fácil controlar os preços", reconheceu, em referência direta à concentração dos frigoríficos. "O problema é maior no norte do Mato Grosso", disse. Procurados pelo DCI, JBS e Marfrig preferiram não se pronunciar.

Dados da Scot indicam que a capacidade de abate da indústria frigorífica brasileira se concentra na mão de três companhias: JBS (16%), Marfrig (7,2%) e Minerva (2,8%). "Nos últimos dias, a JBS arrendou plantas em Rondônia e no Mato Grosso, e há especulação de novas compras planejadas", afirmou Silva.


"A concentração vem ocorrendo em todo o País", reforçou o gestor Carlos Garcia, do Imea. "No Mato Grosso, que tem o maior rebanho e o maior número de abates, percebe-se mais", completou. O estado tem um rebanho com 29,2 milhões de cabeças (quase 50% do contingente brasileiro) e 39 frigoríficos registrados (12 fora de atividade). "Houve grande expansão da capacidade frigorífica do estado, superando a oferta do rebanho, num movimento anterior a 2008", analisou Garcia.

No ano da crise mundial, enquanto a Sadia e a Perdigão se fundiam, tornando-se a BR Foods, com forte presença no Mato Grosso, a JBS iniciou sua própria expansão no estado. Com a aquisição de frigoríficos, que antes lideravam a produção regional, a companhia chegou ao topo do ranque e viu desaparecer alguns nomes de frigoríficos tradicionais, como Quatro Marcos.

Em 2009, a capacidade de abate da JBS havia chegado a 12,2 mil cabeças por dia. Três anos depois, está em 18,3 mil. A concorrência, nesse período, só fez diminuir-se. Mesmo grandes companhias, como a Marfrig e a BR Foods, se mantiveram estáveis em participação de mercado (10% cada). Das 19 plantas adquiridas pela JBS, 13 operam.

Para Silva, da Scot, dois fatores podem limitar a expansão das redes frigoríficas. O primeiro deles é o próprio governo, por meio do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). O outro limitador é a própria ociosidade das plantas. Como apenas 20% do rebanho são destinados periodicamente ao abate, o excesso de plantas frigoríficas forçaria as empresas a manter partes operacionais inativas - o que, de certa forma, é feito pela JBS.

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