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Concentração de variedades de cana na mesma região pode oferecer riscos, alerta IAC

O levantamento teve início em maio passado e foi concluído agora, em novembro de 2016


O levantamento teve início em maio passado e foi concluído agora, em novembro de 2016

A concentração de variedades de cana-de-açúcar em uma mesma região pode oferecer riscos à produção da canavicultura nacional. É o que apresentou o Instituto Agronômico de Campinas (IAC) na terça-feira, 22 de novembro, em Ribeirão Preto (SP), baseado em um levantamento que traz resultados do censo varietal da cultura no Centro-Sul do país, realizado neste ano.

“Era um sonho antigo fazer um levantamento como esse, pois a região Centro-Sul tem uma área bastante expressiva de cana-de-açúcar. São mais de 6,1 milhões de hectares ocupados com essa cultura e uma diversidade de ambientes de produção e condições de clima bastante amplas”, informa o pesquisador Marcos Guimarães de Andrade Landell, do IAC, órgão vinculado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo (SAA).

O levantamento, que também tem como objetivo estimular a adoção de novas tecnologias por parte dos produtores de cana, teve início em maio passado e foi concluído agora, em novembro de 2016, oferecendo uma base de informação que é única.

“Nosso projeto era gerar a fotografia das regiões produtoras e se tornou o maior censo histórico de variedades de cana-de-açúcar do Brasil até os dias de hoje, superando todos os outros, o que até nos deixou surpresos”, comemora o pesquisador do IAC. Ele acrescenta que a ideia é sempre criar e utilizar essas informações a serviço do produtor para que ele seja mais eficiente.

De acordo com Landell, os dados foram pesquisados junto a 217 unidades de produção instaladas nos Estados de São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, Tocantins e Espírito Santo.

“A ideia era saber exatamente o que os produtores estavam plantando e quais as variedades principais utilizadas nessas regiões”, explica.

O pesquisador informa que foram usados dois indicadores, o Índice de Atualização Varietal, criado pelo Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) do IAC, e o Índice de Concentração Varietal.

“Esses índices foram utilizados para mostrar, em primeiro lugar, se os canavicultores estavam atualizando seu plantel varietal, com uso de tecnologias varietais mais recentes, e também se tinham o cuidado de usar de uma forma diversificada.”

Segundo Landell, os cuidados em relação à concentração de uma mesma variedade de cana são muito importantes para garantir a produtividade da lavoura.

“O levantamento ajudou a mostrar aos produtores que se eles ocupassem grande parte de sua área de cultivo com uma única variedade ou com poucas variedades poderiam traz um risco biológico, inclusive a possibilidade de desenvolver uma doença que poderia inviabilizar economicamente a lavoura, caso atingisse a principal variedade.”

Landell destaca que os riscos biológicos não são incomuns e que já aconteceram no passado, pelo fato da cana-de-açúcar ser uma cultura perene: “No passado, na época do Programa Nacional do Álcool (Pró-Álcool), a cada três cortes, o produtor renovava o seu canavial. Hoje, há empresas que renovam o canavial com dez cortes, então o risco é maior, porque não é possível, de um ano para o outro, mudar a variedade”.

“Diferentemente da soja e do milho, por exemplo, que o produtor planta e colhe no mesmo ano, a cana-de-açúcar é colhida durante seis a oito anos, então não é possível fazer essa troca radical, portanto, não se deve ter uma alta concentração de uma única variedade, para a ocorrência de doença que compromete. Por isso, é importante diversificar”, orienta o especialista.

DIVERSIDADE 

Conforme o pesquisador do IAC, a diversidade varietal, no caso da cana-de-açúcar, é fundamental e essa foi uma das preocupações principais do censo.

“Essa é uma recomendação feita diretamente pelos técnicos aos produtores, no sentido de evitar áreas de alta concentração com uma única variedade”, diz.

Landell menciona ainda um caso que ocorreu em 2010, com o surgimento da ferrugem alaranjada, que apareceu de uma maneira avassaladora em algumas variedades cultivadas na região de Ribeirão Preto (SP).

“Alguns produtores e fornecedores da região usavam demais uma determinada variedade que acabou se mostrando muito suscetível a essa doença. A queda de produtividade, em alguns casos, chegou à casa dos 50%.”

Para o pesquisador do IAC, o censo será uma referência para o futuro da atividade e a disponibilização das informações serão muito úteis para os produtores rurais.

“Durante o levantamento, verificamos que as regiões adotam tecnologias varietais bastante distintas porque, na verdade, as variedades são adaptadas regionalmente, algo que já era esperado por nós antes mesmo de concluirmos o levantamento, pois já estudamos esse tipo de coisa justamente pensando no melhoramento genético e na adequação de culturas”, relata.

“A tendência é que cada vez mais as variedades sejam exploradas sobre um perfil regional, o que ajudará a gerar ganhos para o produtor rural”, salienta Landell e lembra a importância de se incorporar novas tecnologias geradas pelos programas de melhoramento genético disponíveis no Brasil.

“Os produtores têm que perceber que essa é uma grande oportunidade, tanto o levantamento quanto os programas disponíveis que geram novas tecnologias varietais, e devem aproveitar isso a seu favor”, acrescenta e dá uma dica para os produtores: “o ideal é tentar identificar as oportunidades em termos tecnológicos, ser o menos tradicionalista possível e não se apegar àquilo que foi um dia, porque os ganhos com o melhoramento genético somam mais de 1% ao ano e, com isso, é preciso olhar as oportunidades e usar isso a favor do ganho na própria lavoura.”

PROGRAMA

O Programa Cana IAC recomenda que uma única variedade de cana não represente mais do que 15% do total de uma área, pois a diversidade varietal é estratégica para garantir a segurança biológica e evitar que, em caso do ataque de praga ou doença severa, grande parte da lavoura seja atingida, explica Landell.

Segundo o IAC, no próximo ano, a expectativa é que o plantio atinja 1 milhão de hectares de cana-de-açúcar, metade já mapeada no levantamento, “Muitos plantam variedades antigas, sem incorporar tecnologia”, diz.

Nos últimos dez anos, os programas de melhoramento genético do IAC, da Rede Interunivesitária para o Desenvolvimento do Setor Sucroalcool (Ridesa) e do CTC lançaram cerca de 100 cultivares.

“Durante o censo, apareceram dezenas de variedades, procuramos destacar as 15 mais citadas e encontradas em cada região; em um segundo momento, como um desdobramento do censo, faremos uma análise para checar quais as variedades mais adequadas para determinadas regiões”, conta.

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