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Conflito entre produzir alimentos ou biocombustíveis é um mito

Engenheiro Agrônomo fala sobre o conflito entre produzir alimentos ou biocombustíveis


Esta semana apresentei palestra no International Biofuels Seminar, promovido pelo World Petroleum Institute. Foi-me anteposto o repto de discorrer sobre o conflito entre produzir alimentos ou biocombustíveis.

No meu entendimento, este conflito é um mito, um sofisma. Existe um fato concreto: entre 2006 e 2008 houve uma elevação de 60% do preço dos produtos agrícolas, em escala global, e em valores deflacionados. Atribuo este encarecimento a diversos fatores, sem estabelecer um grau de importância, os quais aumentaram a demanda acima da capacidade de oferta. Entre eles, destaco: 1) aumento da população mundial; 2) aumento da renda per capita; 3) inflação do período, que afeta diferencialmente setores da economia; 4) subsídios agrícolas dos países ricos, que desestimulam a produção agrícola em países pobres; 5) desvalorização do dólar, moeda referencial do comércio internacional; 6) fretes internacionais, que cresceram 200% na década passada; 7) especulação e crise financeira de 2008; 8) aumento dos custos de produção dos agricultores, em grande medida por aumento do custo do petróleo; 9) mudanças climáticas, especialmente secas ou chuvas em excesso, que frustram safras agrícolas; 10) baixos estoques de produtos agrícolas, em escala global.

As culturas energéticas, para produção de biocombustíveis, ocupam 45 milhões de hectares (Mha) em todo o mundo, onde 1,4 bilhão de hectares é dedicado aos cultivos anuais. Destes, 18 Mha podem ser atribuídos aos coprodutos (por exemplo, o farelo representa 80% e o óleo 20% do grão de soja). Isto significa 1,1% da área da agricultura global. Especificamente na década passada, quando ocorreu o salto nos preços agrícolas, houve um aumento líquido de apenas 11 Mha, o que é uma área muito pequena para ocasionar aumento de 60% nos preços agrícolas.

Sempre que questões como essas são levantadas, eu pergunto: a quem interessa? Seguramente não ao Brasil, com enormes vantagens comparativas para produzir biocombustíveis, apesar do forte desestímulo governamental. Entender por que a bandeira deste falso conflito é levantada de quando em vez é fundamental para descobrir quais as reais intenções de brandir um sofisma como se verdade fosse.

O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja.

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