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Continuar produzindo de forma sustentável é o próximo grande desafio do agro

Depois dos saltos de produtividade, a sustentabilidade é o destaque da nova revolução na agricultura brasileira apontaram especialistas reunidos no Desafio 2050


Depois de mostrar que é capaz de grandes saltos de produtividade que o tornaram um dos maiores produtores de alimentos do mundo, o Brasil tem agora mais um desafio pela frente: continuar aumentando a produção com qualidade e pouco impacto ambiental. Essa foi a tônica das apresentações de especialistas da pesquisa e produção do agronegócio, meio ambiente, educação, tecnologia e da Organização para Alimentação e Agricultura das Nações Unidas (FAO/ONU), reunidos na quinta-feira (10) em São Paulo no V Fórum Inovação, Agricultura e Alimentos para o Futuro Sustentável, que neste ano teve como tema Desafio 2050 – Unidos para Alimentar o Planeta.

Para Maurício Lopes, presidente da Embrapa, uma agricultura baseada em ciência fez toda a diferença para o Brasil fazer o que fez em termos de crescimento da produção de alimentos nas últimas quatro décadas. Nesses 40 anos, também idade da Embrapa que Lopes lidera, o Brasil foi capaz de apresentar saltos de produtividade que o fizeram sair da posição de importador de alimentos para se tornar um dos maiores produtores de produtos agropecuários e bioenergia do mundo, disputando com os Estados Unidos essa liderança. O desenvolvimento da pesquisa em agricultura tropical foi determinante para isso. Não tínhamos alternativa, pois nos anos 60 e 70 não havia modelo de agricultura tropical e tivemos que desenvolvê-lo”, diz.

Mas existem ainda desafios substanciais a serem superados ainda e o maior deles é continuar produzindo de forma sustentável. “A ciência provou que é possível”, afirma, enumerando os fatores de atenção: as mudanças climáticas, um desafio especialmente para um país que está no cinturão tropical do globo, como o Brasil; tornar a agricultura brasileira menos dependente de fontes fósseis de energia; migrar do paradigma da cura para a prevenção, na questão das pragas e doenças, onde tecnologias como a biotecnologia pode contribuir; a urbanização crescente e a adoção de novas tecnologias para atrair os jovens para atuar no agro.

Para Lopes, a próxima revolução é a dos sistema integrados, como a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), que nem um outro país tem. E conclui: precisamos ainda de lideranças “para desenvolver uma agenda de interesses comuns para continuar o processo de crescimento”.

ONG surpreende

Sustentabilidade também foi o destaque da apresentação de Suelma Rosa dos Santos, da ONG ambiental The Nature Conservancy (TNC). Até aí nada diferente do esperado. Mas Suelma surpreendeu o público do evento ao afirmar que a entidade que representa reconhece, após diversos estudos, que ainda há áreas em que a agropecuária pode avançar no Brasil. “Há alguns anos era impensável uma representante de uma ONG ambiental falar em aumento da área agriculturável, não?”, provocou.

“Mas acreditamos que é possível planejar a paisagem e identificar onde é possível intensificar a produção, onde é possível aumentar a produtividade, crescendo verticalmente, e onde é preciso aumentar a conservação da biodiversidade”, afirmou Suelma, mencionando um programa de boas práticas desenvolvido pela TNC, que inclui certificações socioambientais, avaliação da “pegada” hídrica, rastreamento e consumo sustentável.

“Não vejo porque deva existir conflito entre agricultura e natureza”, questionou na última apresentação do evento, o jornalista Humberto Pereira, editor-chefe do programa Globo Rural. Para Pereira, o agricultor deve – por ser o maior interessado na preservação dos recursos naturais para poder produzir – assumir a gestão do ambiente que seu sistema produtivo está inserido.

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