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Crédito de carbono chega à pecuária e atrai investidores no país

O interesse de investidores estrangeiros no mercado e a tecnificação dos pecuaristas começa a mudar esse cenário


Apesar de ter cerca de 190 milhões de bovinos, o Brasil até agora não aproveitou o potencial de geração de créditos de carbono desse rebanho. Mas o interesse de investidores estrangeiros nesse mercado e a tecnificação dos pecuaristas começa a mudar esse cenário.

Trata-se de uma alteração importante, que pode aumentar de maneira expressiva a presença do País em um mercado cada vez maior: de acordo com o Banco Mundial, o movimento de crédito de carbono somou US$ 10 bilhões no ano passado. Analistas prevêem que esse total vai fechar o ano em US$ 30 bilhões.

Os créditos de carbono podem ser gerados na bovinocultura através da biodigestão dos dejetos dos animais, processo que reduz a emissão de gás carbônico e pode produzir energia a partir de uma fonte renovável. Já nos frigoríficos, é possível queimar resíduos do sistema digestivo dos animais, além de sangue e gordura levados na lavagem da carne.

A consultoria ambiental irlandesa AgCert, líder no mercado brasileiro de créditos de carbono oriundos da suinocultura, começou recentemente a olhar para fazendas produtoras de leite e frigoríficos como potenciais investimentos, disse sua gerente de novos negócios, Josefa Garzillo.

A Metacortex, companhia de capital espanhol, português e brasileiro, destinou 1 bilhão de euros a projetos de crédito de carbono no Brasil e vai focar seus investimentos em bagaço de cana, frigoríficos e grandes confinamentos de gado bovino.

O diretor de Desenvolvimento de Negócios da Metacortex, Renato Girardi, conta que pretende atingir os dez principais frigoríficos do País e 23 dos 50 principais confinamentos, que representam 634,4 mil animais. “Segundo nossos cálculos, os principais confinamentos somados poderão gerar um número bem próximo da casa de 14 milhões de toneladas de gás carbônico”, prevê ele.

Soluções na metodologia

Uma possível solução para incluir um número maior de bovinos no potencial de geração de créditos de carbono do Brasil está sendo buscada em uma parceria da Assocon com a consultora Fabiana Tessele e a Escola Superior de Agronomia Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq/USP).

O projeto consiste no desenvolvimento de uma nova metodologia de contagem dos créditos, que leva em conta o ciclo de vida mais curto do animal de confinamento. “Um boi de pasto vive quatro anos, enquanto o de confinado leva apenas dois anos para ser abatido e por isso emite menos metano. Estamos realizando pesquisas para apresentar à ONU uma metodologia que considere isso e estimule o confinamento, o que vai reduzir a emissão de gases tóxicos”, conclui Fabiana.

Desafios

Dos 191 projetos brasileiros de redução de emissão de gás carbônico apresentados à Organização das Nações Unidas, 101 estão relacionados ao agronegócio, mas nenhum deles vem da pecuária.

O diretor da companhia de investimento e planejamento Ativos Técnicos e Ambientais (ATA), Jaime Bunge, explica que para queimar os dejetos é preciso que eles estejam concentrados, pois é inviável recolher fezes no pasto.

No cálculo da consultora Fabiana Tessele, apenas em confinamentos com mais de 20 mil cabeças o investimento é viável. Por isso, ela considera que o potencial de geração de receita para o setor, apenas com a geração dos créditos, é de US$ 6 milhões por ano. “Mas a grande vantagem associada à biodigestão é o aproveitamento do biogás para a geração de energia, tanto para consumo próprio quanto para venda ao sistema elétrico”, explica Fabiana.

Outro problema que dificulta os investimentos é a baixa geração de metano nas fezes bovinas. O diretor executivo da Associação Nacional dos Confinadores (Assocon), Fábio Dias, lembra que os bois geram apenas 5% a 9% do metano dos dejetos suínos.

“Por enquanto, os biodigestores na bovinocultura só são viáveis para cerca de 1% do rebanho nacional, que está em grandes confinamentos ou fazendas de leite de confinamento permanente”, avalia Jaime Bunge, da ATA. Segundo ele, o investimento é atraente para os grandes consumidores de energia, como os confinamentos permanentes e os frigoríficos, que podem usar a eletricidade do biogás nos horários de pico, quando a energia das concessionárias é mais cara.

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