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Cresce armazenagem dentro das fazendas


De olho na queda dos preços internacionais das commodities, os agricultores estão apostando na armazenagem dentro das fazendas para tentar segurar ao máximo sua produção e conseguir preços mais atrativos durante a entressafra. A estratégia já fez com que a capacidade de armazenagem da safra nacional dentro das propriedades subisse de 5% para 10% em apenas dois anos. "Apesar do crescimento de 100%, é muito pouco perto dos nossos concorrentes. A Argentina armazena 25% de sua produção dentro das propriedades enquanto os Estados Unidos estocam 70%", afirma Glauber Della Giustina, gerente de negócios da consultoria Kom International.

Déficit nacional:

O crescimento da armazenagem dentro das fazendas, no entanto, não reflete a situação enfrentada pelo Brasil, que conta com uma rede de armazéns cadastrados composta por unidades privadas e públicas.

Dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) mostram que o País teve déficit de 22% em sua capacidade de estocagem de grãos na safra 2003/04. Para a colheita de 119,3 milhões de toneladas, havia espaço para 78% da produção, ou 93,3 milhões de toneladas. Teoricamente, se toda a safra fosse colhida de uma só vez, 26 milhões de toneladas ficariam fora dos armazéns.

E ao que tudo indica esse déficit será ainda maior para a próxima safra. O último dado da Conab, de outubro deste ano, indica que a capacidade de estocagem dos armazéns cadastrados é de 96,4 milhões de toneladas, para uma colheita estimada em 130,8 milhões de toneladas de grãos. "Dependendo do tamanho da próxima safra, poderemos ter um déficit de até 41 milhões de toneladas", afirma Duílio de La Corte, diretor comercial da fabricante de silos Kepler Weber.

O crescimento do déficit é reflexo de um aumento anual superior a 10 milhões de toneladas da safra nacional para um modesto acréscimo de 3 milhões de toneladas na capacidade de armazenagem do País. "O governo diz que o aumento da capacidade dos silos cresce entre 8 milhões e 10 milhões de toneladas por ano, mas esse número não condiz com a realidade. Seriam necessários investimentos de R$ 2 bilhões por ano, durante cerca de oito anos, para que esse déficit fosse eliminado", diz de La Corte.

A necessidade de investimentos do setor foi percebida pelo governo, que lançou o Programa de Incentivo à Irrigação e Armazenagem (Moderinfra). O governo destinou R$ 700 milhões para o Moderinfra em 2004/05, o equivalente a apenas 35% da real necessidade, que chega a R$ 2 bilhões.

"O governo anunciou R$ 700 milhões, mas na prática foram liberados somente R$ 80 milhões até julho. Pedidos para outros R$ 200 milhões estão em fase de análise", afirma de La Corte.

Atraso na liberação:

O baixo volume liberado de recursos do Moderinfra é explicado por uma falha do Tesouro Nacional na divulgação das normas de liberação dos recursos. Apesar do Plano Safra ter sido anunciado em junho, os pedidos passaram a ser aceitos apenas quatro meses depois. Aliado à burocracia, recente levantamento da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) mostra que 64,7% dos pedidos realizados pelos agricultores foram negados pelo governo.

Com tanta demora, os produtores preferiram tirar dinheiro do próprio bolso para investir em sistemas de armazenagem. Segundo de La Corte, de todas as vendas da Kepler Weber, 70% foram feitas com recursos próprios dos agricultores. "Apenas 30% das compras foram feitas com recursos governamentais. Mas acreditamos que essa configuração deve mudar a partir de 2005. Com a queda dos preços das commodities, os produtores devem preferir o financiamento às compras à vista", explica de La Corte.

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