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Criador relata as dificuldades da suinocultura antigamente

Ele também relata a morte de suínos importados dos EUA nos anos 50


Foto: Pixabay

Flauri Migliavacca é fundador de uma empresa de nutrição animal para suínos, bovinos, aves,e quinos, ovinos e peixes, em Casca, no Rio Grande do Sul. O médico veterinário nasceu em uma família de suinocultores e relembra os tempos difíceis de quando o Brasil não era livre de febre aftosa.

Ele enviou um texto ao Portal Agrolink onde cita o papel importante que o Instituto de Pesquisas Veterinárias Desidério Finamor (IPVDF), órgão oficial de diagnóstico e pesquisa em saúde animal do Governo do Estado do Rio Grande do Sul, ligado à Secretaria Estadual de Agricultura (SEAPDR) teve no processo de erradicação da febre aftosa no Estado e a Peste Suína Clássica.

Em 1956 o pai de Migliavacca importou suínos da raça Duroc, da Carolina do Norte (EUA) para o Rio Grande do Sul. Nessa viagem o avião teve que aterrissar em Belém (PA) pela suspeita de estar carregando armas. Com o forte calor, depois de 2h30, dos 100 suínos, 70 morreram. A aeronave veio para Porto Alegre (RS) inclusive com os animais mortos. Os outros seguiram para a Granja Ideal, em Casca.

Confira o vídeo que mostra a trajetória do IPVDF e, abaixo, o texto de Migliavacca e algumas fotos históricas dessa importação de suínos no aeroporto Salgado Filho.

"PARABÉNS a estes heróis que continuam segurando a barra viva deste QUERIDO E AMADO LABORATÓRIO IPVDF. Creio que além de ouvir histórias sobre FEBRE AFTOSA que foi o maior espinho da sanidade animal do RS e do mundo. Sim do mundo. O IPVDF também produziu por muitos e muitos anos a vacina contra PESTE SUÍNA CLÁSSICA, chamada CRISTAL VIOLETA. Lembro de todas as passagens deste maldito vírus na granja do meu pai. 

Esta vacina CRISTAL VIOLETA, contra a pesta suína clássica, era tão eficiente que num desafio de desmame de 200 leitões, meu pai assinalou 1 animal, deixando-o sem vacinar e disse para os funcionários que apenas este iria ficar doente e morrer de Peste Suína. Dito e feito....Tal era a credibilidade do IPVDF.....Fantática a experiência e jamais se deixou de vacinar.

Eu como Veteriário formado, em 1975, na UFSM, ia para o IPVDF no mínimo 1 vez por semana, levando material de necrópsias e 3 a 5 dias depois estava com o diagnóstico na mão e assim salvava grandes contingentes de animais.

Este IPVDF foi a melhor escola de sanidade animal que tive oportunidade de frequentar, juntamente com todo seu corpo técnico.  Gente de gabarito e um grau de formação de primeiro mundo. O INSTITUTO DE PESQUISAS VETERINÁRIAS DESIDÉRIO FINAMOR, produzia antígeno para brucelose, tuberculina para tuberculose, tinha ali departamentos de doenças de bovinos, de suínos, de ovinos, de equinos, enfim, hoje praticamente esquecido pelas autoridades gaúchas, onde seguramente poderia estar produzindo vacinas contra este maldito CORONAVÍRUS.

FEBRE AFTOSA que acometeu a maternidade da Granja Ideal em 1962 onde eu me emociono até hoje ao lembrar de tamanha DOR que as porcas sentiam e só podiam caminhar ajoelhadas com GRUNHIDOS ensurdecedores, as unhas destas porcas se descolavam dos dedos como se tivessem sido cozidas. Era um filme de terror. Todos chorávamos e meu pai, todos os dias levava comida e café da manhã pros funcionários não sairem de lá de dentro  da maternidade, pra não infectar todo o resto do rebanho.

Nesta época a GRANJA IDEAL já era uma das maiores do Brasil, com mais de 300 matrizes, todas reprodutoras PO (puras de origem) da raça DUROC, sendo muitas ainda importadas dos Estados Unidos. Portanto, tinha outros setores da Granja, lotados de animais pra venda, de reposição, animais de reprodução gestando, enfim, a doença ficou retida somante dentro da maternidade........Morreram todas as porcas e todos os leitões e as que abortavam todos os fetos, tamanha a febre alta devido a AFTOSA.

Eu tinha apenas 12 anos, mas posso afirmar que foi o pior filme de terror que já ssisti na minha vida......Eu também morava e residia dentro da maternidade com mais um funcionário chamado Fernandes Bordignon.....perdi mais de 20 dias de aula nesta epoca. A maternidade já era equipada com quarto pra dormir e tinha banheiro pra banho e todas as necessidades.....Meu pai era um visionário.

Era comum na epoca muitos viajantes e veterinários de várias multinacionais de medicamentos, diariamente visitavam a granja pra vender seus produtos e comentavam que na europa se tomava tais e tais atitudes, diante de focos de aftosa e assim o pai procedeu.

Neste mesmo ano meu pai contratou um senhor chamado PEDRO LOVERA, (amigo da familia) lhe deu um cavalo e este ia de casa em casa num raio de 6 km com frascos da vacina de AFTOSA dentro de baldes cheios de serragem e gelo na garupa do cavalo e vacinava de casa em casa. A energia elétrica chegou nesta região em 1963 ou 64, se não me falha a memória....Meu pai comprava gelo em barras de distribuidores de bebida. Na nossa casa tinhamos uma geladeira a querosene.....

A vacina provocava tumores no pescoço de alguns animais e muitos colonos escondiam alguns pra não passarem pela vacinação. (vacas prestes a parir). Certamente no dia seguinte papai ficava sabendo por denuncia, que "fulano de tal escondeu uma vaca pra não vacinar" A vacina era oferecida de graça, a granja comprava e ia vacinar sem custo algum.

Aí meu pai mandava o cara vacinar com a Polícia.  Não tinha arrego e nem perdão. Creio que a partir destes acontecimentos que se começou fazer e se chamar vacinação peri-focal......Isto seria de vacinar em massa todos os bovinos e ovinos num raio de 6 km de diametro ao redor do foco de aftosa, para conter a doença......

Nunca mais aconteceu a doença na granja.....desde lá, graças a audácia do meu pai.
Histórias lindas que ao descrevê-las tenho que secar as lágrimas seguidamente pra poder continuar escrevendo".

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