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Crise força sojicultores a abandonar São Gabriel do Oeste (MS)

As baixas cotações e a dificuldade dos produtores em acessar créditos têm levado muitos sojicultores a reduzir a área plantada


As baixas cotações da soja e a dificuldade dos produtores rurais em acessar créditos para custeio da safra 2006/2007, em função do alto grau de endividamento e da ausência de garantias solicitadas pelos bancos e multinacionais, têm levado muitos sojicultores de São Gabriel do Oeste, tradicionalmente, um dos maiores produtores de soja de Mato Grosso do Sul, a reduzir a área plantada com a oleaginosa. Em casos extremos, muitos produtores têm deixado de plantar nas terras próprias ou estão devolvendo as áreas arrendadas, já que não possuem recursos para compra das sementes e insumos necessários no plantio.

O reflexo, segundo o engenheiro agrônomo e produtor de soja em São Gabriel do Oeste Paulo Zanella, é a redução de 10% na área da soja do município. "Os produtores foram obrigados a eliminar as áreas de risco e, com isso, a produção de soja do município deve cair nesta safra", explicou. Segundo ele, o município já chegou a cultivar 140 mil hectares de soja nessa safra, enquanto a área plantada com a oleaginosa neste ano deve girar em torno de 125 mil hectares.

Ele explica que durante o período compreendido entre os anos de 2000 e 2004 muitos produtores de outras culturas e até pecuaristas passaram a cultivar a soja, atraídos pelos altos preços pagos pelos grãos. Naquele período, a saca chegou a ser comercializada por até R$ 50,00. Agora, com os custos de produção superiores ao valor pago, os sojicultores se viram obrigados a descartar as áreas menos produtivas, uma vez que o custo nessas regiões tende a ser mais elevado. Assim, pelo menos 15 mil hectares, que nos últimos anos eram utilizados para o cultivo da soja, voltaram para a atividade pecuária ou para o plantio de outras culturas, como pastagens com estilosante.

O superintendente da Agricultura de São Gabriel do Oeste, Leo Luis Grison, diz não acreditar que o número de produtores do município que estão deixando de plantar seja grande. Ele conta que muitos produtores estão reduzindo áreas ou devolvendo as terras arrendadas, mas acabam plantando pelo menos um pouco, já que dependem da atividade para manter os compromissos firmados nas safras anteriores e para garantir a continuidade da produção. "Não acredito que teremos grande queda na área cultivada com soja", disse. Ainda assim, o superintendente acredita que a área plantada com soja em São Gabriel do Oeste fique em torno de apenas 110 mil hectares, sendo que o milho primeira safra deve ocupar 15 mil hectares, segundo ele, e o algodão, aproximadamente, 5 mil hectares.

Menor rendimento

A queda na produtividade da soja é outro problema que os agricultores do município podem enfrentar, segundo Zanella. Ele lembra que o rendimento por hectare deve cair nesta safra que está sendo plantada, devido à redução de tecnologia nas lavouras. "Sem recursos, os produtores estão aplicando adubo e defensivos nas lavouras, o que pode diminuir a produtividade por hectare", comentou. Além disso, a ferrugem asiática, que no ano passado prejudicou muitas lavouras da região, pode voltar a ser um problema neste ano. No entanto, na tentativa de evitar o aparecimento da doença, muitos produtores adiantaram o plantio de acordo com a recomendação dos técnicos que estudam a ferrugem.

"O produtor está enfrentando uma situação complicada e não pode deixar de plantar porque assumiu compromissos com arrendamentos ou com bancos e multinacionais. Todos nós [produtores] temos a expectativa de que pelo menos o custo e a receita empatem nessa safra", disse. Zanella ressaltou que os produtores plantam essa safra na expectativa de que a próxima possa apresentar um cenário mais favorável à produção de soja. "O que anima é promessa futura de alta na demanda mundial por soja. Além disso, a perspectiva do setor produtivo é de desvalorização do real para que possamos ter pequenos lucros, suficientes para pagarmos as dívidas antigas", frisou.

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