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Custo da matéria-prima e carga tributária são gargalos da indústria do trigo

Mesmo com dificuldades, setor tem avançado


O custo da matéria-prima, a carga tributária elevada e a concorrência internacional são as principais preocupações dos empresários da cadeia produtiva da triticultura no Paraná. Apesar destas dificuldades, o setor tem avançado. Os industriais do setor investiram R$ 1 bilhão nos últimos 10 anos e a indústria do trigo paranaense tornou-se referência em todo o Brasil. Os investimentos, no entanto, foram direcionados mais ao processo produtivo e menos em inovação e lançamento de novos produtos, onde há espaço para mais avanços. As informações constam da versão atualizada do Panorama Setorial da Indústria do Trigo, lançado nesta segunda-feira (26) pela Federação das Indústrias do Paraná (Fiep) e Sindicato da Indústria do Trigo (Sinditrigo).

“A queda na atividade econômica que afetou, em maior ou menor grau, todos os segmentos, não poupou a cadeia produtiva do trigo. O setor tem inúmeros desafios a serem superados e o Panorama Setorial traz informações relevantes para auxiliar no planejamento de estratégias, na tomada de decisões e na implantação de ações que impulsionem os negócios do setor”, disse o presidente da Fiep, Edson Campagnolo. “Este estudo é muito representativo porque foi construído não apenas com base em dados de organismos oficiais, mas também com informações coletadas juntos aos industriais”, disse Reinaldo Tockus, superintendente da Fiep, durante o lançamento. “Esperamos que este estudo seja um instrumento de direcionamento para toda a cadeia produtiva do setor e que possa fazer diferença em seus negócios”, frisou.

“O Paraná tem vocação e tradição em moagem de trigo e produção de farinha. A tecnologia no campo também evoluiu muito nos últimos anos, o que nos permite produzir vários tipos de farinha com muita qualidade e para diversas finalidades, como varejo, panificação e indústria de massas e biscoitos”, destacou Daniel Kümmel, presidente do Sinditrigo. Segundo ele, a farinha de trigo produzida no Paraná está presente hoje em pelo menos 15 estados brasileiros. “A produção e a participação do Paraná no Brasil pode crescer porque nossa capacidade instalada permite ainda um aumento de 20% na moagem”, disse.

O presidente do Conselho Deliberativo da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), Marcelo Vosnika, destacou a importância da união do setor. Segundo ele, não existe uma empresa sozinha obtendo êxito e colhendo resultados se uma indústria não estiver bem. Vosnika defendeu a atração de investimentos para a instalação de indústrias dos demais segmentos da cadeia produtiva para o Paraná. “Hoje exportamos praticamente toda a farinha que produzimos para os estados do Sudeste que a transformam em produtos com maior valor agregado, como massas e biscoitos. Podemos atrair estas indústrias para o Paraná e agregar valor à produção dentro de nosso Estado”, disse.

De acordo com dados da Fiep, a cadeia industrial do trigo reúne 1.461 estabelecimentos industriais no Paraná que geram 23.712 empregos. Nestes números estão representados os moinhos que transformam o trigo em farinha e as indústrias que processam a farinha e a transformam em pães, biscoitos e massas.

Rodrigo Boaventura, diretor da Infasa Indústria de farinha, de Santa Tereza do Oeste, acompanhou o lançamento da segunda edição do Panorama Setorial da Indústria do Trigo e disse que o estudo atualizado vai contribuir para avaliar os resultados dos investimentos feitos pelo setor nos últimos anos. “O setor investiu bastante nos últimos anos e agora precisamos avaliar os reflexos disso”, disse. Ele aponta como gargalos do setor a falta de crédito especialmente para capital de giro e o elevado custo do pedágio que prejudica a competitividade da indústria paranaense. “A indústria do trigo precisa manter estoques elevados, o que gera um custo significativo”, pontuou.

Produtividade alta
O engenheiro agrônomo, doutor em Administração e especialista em cadeias de valor do agronegócio, e diretor da consultoria Agroicone, André Nassar, fez um comparativo da produtividade da indústria paranaense com a média nacional. Segundo ele, o Paraná é mais produtivo. “No Paraná, cada trabalhador da indústria moageira gera R$ 800 milhões de receita ao ano, enquanto na média brasileira esta receita é de R$ 650 milhões por trabalhador”, comparou. Mesmo assim, para Nassar, que já foi secretário de política agrícola do Ministério da Agricultura, ainda há espaço para melhorar a produtividade e a automação, com ganho de escala na indústria.

Nassar disse que um fator limitante para a indústria de farinha é a disponibilidade do trigo e hoje o produtor rural precisa ser incentivado a optar por esta lavoura. “O trigo é uma cultura de alto risco e, por isso, o produtor precisa ter acesso ao seguro rural”, enfatizou. Segundo ele, o Paraná chegou ao limite em termos de área agricultável. “São 9 milhões de hectares cultivados e isso não deve aumentar. Portanto, o preço do produto e a política agrícola serão fatores decisivos para o produtor escolher qual lavoura vai cultivar”. De acordo com Nassar, tanto para o produtor rural quanto para a indústria do setor seria muito interessante que tivesse mais disponibilidade de crédito e seguro para a lavoura do trigo. “Se o produtor rural tivesse acesso ao seguro agrícola e ao crédito para plantar trigo teria menos propensão a buscar outras lavouras”, disse. “A verdade é que os bancos estão fugindo do financiamento desta lavoura. Não sabemos ao certo se é pelo fato de ser uma lavoura de risco ou se pelo fato de o crédito estar mesmo muito escasso”, pontuou.

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