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Desaceleração global deve impactar exportações de commodities do Brasil

Acordo comercial entre China e EUA também pode impactar agro nacional


A desaceleração da economia global e a perspectiva de redução das tensões comerciais entre China e EUA devem fazer com que duas das principais commodities exportadas pelo Brasil – complexo soja e minério de ferro – tenham embarques menores em 2019, impactando a balança comercial brasileira.

“A diminuição do ritmo da economia global, de forma geral, causa uma menor demanda por commodities. Também é preciso saber como ficará o acordo comercial entre China e EUA, que pode afetar as exportações de soja do Brasil”, avalia o sócio e economista-chefe da Modalmais, Alvaro Bandeira.

A Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) prevê redução de 38,6% no saldo da balança comercial brasileira – cujos principais destaques são a soja, o minério de ferro e o petróleo – , totalizando um superávit estimado de US$ 33,757 bilhões em 2019.

Neste ano, a alta de juros do Banco Central dos EUA (Federal Reserve, o Fed) fez com que investimentos fossem retirados de mercados emergentes, migrando para instrumentos mais seguros, como títulos do tesouro norte-americano. Bandeira aponta que o ciclo de altas deve prosseguir em 2019, mas de forma mais moderada do que o previsto anteriormente. “Chegou-se a falar em quatro altas ao longo de 2019, mas agora provavelmente serão duas e mais uma em 2020.” Isso reduziria o risco de fuga de capital, mas as commodities ainda têm que lidar com outras ameaças.

O consultor da Scot Consultoria, Rafael Ribeiro de Lima Filho, acredita que o volume de exportações de soja deve ser menor do que em 2018 devido a uma possível retomada de negociações entre EUA e China. A Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) estima que, neste ano, o País deve exportar recorde de 82,7 milhões de toneladas de soja. “A previsão para 2019 é de 73,9 milhões de toneladas. Ainda é um volume grande, acima de 2017, mas inferior ao desse ano”, assinala.

Além do volume de exportações, Ribeiro explica que o complexo soja deverá sofrer com a queda dos preços. “Brasil e Argentina terão produção maior em relação a 2018, com tendência de menor demanda. Dessa forma, a cotação global será mais baixa".

A China também deverá ser um fator de impacto como principal importadora do minério de ferro brasileiro. “A economia do país asiático continua desacelerando gradualmente e isso reduz a demanda por aço e, consequentemente, por minério de ferro”, diz o analista da Tendências Consultoria, Felipe Beraldi. A expectativa é que a maturação de investimentos nos dois principais exportadores da matéria-prima, Brasil e Austrália, aumente a oferta e cause queda de preços. “Espera-se a retomada de operações da Anglo American e a produção adicional da Vale. As cotações devem ter queda gradual no 1º semestre, chegando a US$ 63 a tonelada, recuo de 5,3% em relação a 2018,” aponta Beraldi, ressaltando que, ainda assim, o patamar é superior aos níveis médios entre 2015 e 2016.

Petróleo

O analista da Tendências, Walter De Vitto, afirma que o avanço da produção de petróleo no Brasil em 2019 refletirá investimentos dos últimos anos e não há risco de queda. “Devemos ter um crescimento bem expressivo, na casa de 10%. A produção só não cresceria se o preço de extração ficasse acima do barril, mas está bem longe disso.

”Vitto explica que a queda do Brent nos últimos meses decorre da redução das projeções de crescimento da economia global. “Houve uma venda exagerada de posições futuras de petróleo e o preço desabou. A incerteza do que virá em 2019 causou esse comportamento de manada.” Para 2019, a tendência é de maior estabilidade. “A demanda por petróleo deve crescer 1,5%, um patamar razoável. O controle de produção da Opep [Organização dos Países Exportadores de Petróleo] deve gerar um cenário equilibrado de preços”. Bancos de investimentos preveem que o barril deverá oscilar na casa dos US$ 69 em 2019.

“O preço deve se ajustar ao longo do ano, a não ser que ocorra uma piora na guerra comercial entre China e EUA”, prevê o analista.

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