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Descoberta nova espécie de nematoide de galhas

Parasita com grande potencial de dano foi encontrada em lavouras mineiras


Foto: Embrapa

Pesquisadores da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abapa), Embrapa Algodão e Fundação Bahia estão observando uma nova espécie de nematoide das galhas no Brasil. Descoberto por volta 2012, na Carolina do Norte (EUA), no ano passado, o parasita foi encontrado também em lavouras de Minas Gerais. 

Agora a nova espécie é observada de perto. Normalmente o nematoide das galhas tem grande potencial de dano para a cultura do algodão, mesmo não sendo o de ocorrência mais frequente. Os técnicos do Programa Fitossanitário pretendem descobrir se o verme também está presente em lavouras da Bahia. “Não que eles tenham migrado para aqui através de algum vetor. A grande descoberta que é que eles já existiam, não se sabe há quanto tempo, mas eram desconhecidos”, conta o fitopatologista Fabiano Perina, pesquisador da Embrapa lotado em Luís Eduardo Magalhães.

O achado mineiro aconteceu porque, em muitas fazendas, nas quais se usava a variedade resistente ao nematoide das galhas, a IMA 5801 B2RF, o problema continuava a aparecer. Agora, os pesquisadores estão verificando as áreas que usam esta variedade, para ver como elas estão se desenvolvendo. Se não estiverem dando conta do recado, pode ser um sinal de que outras populações dessa – supostamente nova – espécie de nematoide estão presentes por lá. A tecnologia se tornou, portanto, uma “sentinela”.

As galhas causadas pelos nematoides são deformidades que lembram tumores nas raízes das plantas, e comprometem o desenvolvimento delas. “Deduziu-se, então, que não era a IMA5801 que já não tinha eficácia, mas um outro tipo de parasita, daquele mesmo gênero, que escapava ileso à tecnologia”, conta Perina. Veja na foto:

De acordo com Antônio Carlos Araújo, coordenador do Programa Fitossanitário da Abapa, dos 18 integrantes da equipe do Programa Fito, formada por agrônomos e técnicos agrícolas, 16 estão dedicados à pesquisa nematológica neste momento. São eles que fazem a coleta de amostras de solo, que seguem para serem analisadas na Fundação Bahia. “Com isso, se pode fazer o diagnóstico durante a safra, um trabalho que só é possível graças à colaboração dos agricultores, que, proativamente, abrem suas fazendas para a pesquisa científica. Hoje, existe uma preocupação especial em descobrir evidências deste novo nematoide de galhas aqui no cerrado baiano”, afirma Antônio Carlos.  

Os nematoides medem de 0,3 a três milímetros. São vermes que atacam as raízes das plantas e causam grande prejuízo à produtividade, em lavouras como algodão, soja e milho. Três espécies nativas do cerrado atacam especialmente o algodão. Por ordem de ocorrência, a Pratylenchus brachyurus, também conhecida como o nematoide das lesões, com 85% de ocorrência no Oeste da Bahia, a Meloidogyne incognita, chamada de nematoide das galhas, com 37%, e a espécie Reniformis (Rotylenchulus reniformis), que tem este nome porque, quando na fase adulta, tem a forma de um rim, ocupa o terceiro lugar no pódio de incidência nas áreas produtivas, com 14%.

Uma vez que a infestação ocorre, zerar sua ocorrência é praticamente impossível. “O que podemos fazer é investir numa convivência controlada com a doença, como faz um paciente com problemas de pressão sanguínea ou diabetes. Ele tem de monitorar sempre e adotar medidas para manter os índices sob controle”, compara Perina.
 
Essas medidas, segundo o fitopatologista, são uma combinação de métodos químicos, biológicos, genéticos e culturais. Os químicos e biológicos são feitos através de nematicidas, sejam princípios ativos moleculares, aplicados no tratamento industrial de sementes ou diretamente no solo, ou, no caso biológicos, fungos e bactérias. Os métodos genéticos se referem ao uso de plantas resistentes, e os culturais são os relativos às práticas agronômicas. “Quanto mais simplificada é a matriz produtiva, pior. É preciso haver diversidade no sistema. Por isso, a rotação de culturas é essencial sobretudo quando alterna plantas de cobertura, como determinados tipos de crotalárias ou brachiárias, que são más hospedeiras ou antagonistas aos nematoides”, explica Fabiano Perina.
 
Há, pelo menos, três espécies de nematoides que são nativas e frequentes no cerrado, e pelo menos uma ataca a soja. “Vieram para cá de carona em máquinas agrícolas oriundas de outros estados. As máquinas são veículos de contaminação e disseminação também entre as fazendas, ou mesmo entre os diferentes talhões de uma mesma propriedade rural. Por isso, é muito importante fazer a sua limpeza antes do uso. Uma medida simples e eficaz”, conclui Perina.
 

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