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Depois de anos na atividade, avicultores do RS são obrigados a parar por falta de pagamento


Depois de anos na atividade, avicultores do RS são obrigados a parar em função da falta de pagamento e buscam outras alternativas de ganhos na propriedade
 
O cuidado com o frio ou calor excessivos, com a ração que precisa ser abundante e com a água sempre fresca, além da luz, ventilação, limpeza, e o bem estar dos animais são preocupações que fazem parte da rotina de um avicultor. O trabalho envolve mais do que a possibilidade de lucro, requer cuidados, investimento em infraestrutura adequada e em equipamentos que facilitem e agilizem o trabalho. Alguns produtores de aves atuam no ramo há anos e investiram muito na atividade.
 
A falta de pagamento foi o motivo pelo qual o produtor Antonio Carlos Bala paralisou seu trabalho. Com o aviário vazio desde 05 de dezembro de 2011, ele pretende seguir na produção de grãos, soja e milho, nos 24 hectares que possui a sua propriedade. Os R$ 80 mil investidos em infraestrutura e equipamentos serão perdidos, o que gera um sentimento de frustração, já que ele que não queria parar com a atividade, exercida desde 2003. O integrado à empresa Doux Frangosul aponta que a oportunidade de lucro foi o que motivou o investimento, que na época era altamente rentável.

Indecisão e esperança

Indecisão. É o que descreve o produtor Volmar Goulart, que também enfrenta o problema. Em 15 dias, o produtor entrega o lote de frangos para abate e não sabe se continua na atividade. Aos 55 anos e há 14 anos na atividade, Goulart pensa em paralisar com a produção de aves em virtude da falta de pagamento, mas gostaria de continuar no segmento, principalmente função dos investimentos que foram feitos na propriedade.

Para atender as exigências feitas pela empresa, o produtor investiu de R$ 350 a R$ 400 mil nos três aviários, dois deles novos. Hoje, o avicultor se vê obrigado a paralisar, mesmo querendo continuar. “Todo esse tempo trabalhando, sendo a minha principal atividade, mas não tem outro jeito, tenho que parar. Como está não dá”, reclama ele.

O sentimento de perda é dobrado por parte do pai, que tem a ajuda dos dois filhos, um de 28 e outro de 18 anos, e da esposa no desempenho das atividades. Sem a avicultura, os filhos se veem obrigados a deixar a casa dos pais. “Eles querem permanecer aqui, mas se continuar desse jeito, serão obrigados a sair e buscar outro trabalho”, lamenta Goulart, que queria continuar na avicultura, em função do investimento que foi feito. “O galpão está dentro do padrão, investimos nos equipamentos automatizados e a perda é grande”, observa ele, lembrando que com a continuidade, os filhos também permaneceriam na propriedade.

Entenda o caso

Os produtores integrados ao grupo Doux Frangosul tem atraso no pagamento de seus lotes desde 2008. A cada 30 dias, após a entrega das aves, deveria ser feito o pagamento para os cerca de 500 produtores da região que são integrados a empresa. O não cumprimento dos valores da Doux para com a cadeia de integrados no Estado atinge mais de 2,3 mil produtores em 125 municípios gaúchos, segundo estimativa levantada.
O valor correspondente a três lotes é o montante que permanece em atraso. Diante da situação, alguns produtores decidiram paralisar atividades. Já foram realizadas diversas reuniões entre produtores e representantes da empresa, buscando a regularização dos pagamentos. A Secretaria de Agricultura do Estado apresentou uma representação junto ao Ministério Público Estadual, que até a última quarta-feira ainda não havia se manifestado sobre o caso. Enquanto o impasse não se resolve, produtores como Bala, que está com o aviário vazio, e Goulart, que fará a última entrega nos próximos dias, ficam com o orçamento familiar comprometido e procurando outras atividades para compensar as perdas.

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