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Desorganização limita oferta de laranja

Estudo mostra que conflito entre a indústria e produtor impede crescimento da produção em SP


Estudo mostra que conflito entre a indústria e produtor impede crescimento da produção em SP. A citricultura brasileira desfruta de condições ideais para o seu desenvolvimento. Os pomares são altamente tecnificados e a produção dispõe de infra-estrutura adequada. O clima é propício para a atividade e a única queixa dos produtores e da indústria é a excessiva presença de pedágios nas estradas que ligam os centros de produção de suco de laranja ao Porto de Santos. Essa situação favorável permitiu que o País conquistasse 83% do mercado mundial, com o embarque 1,37 milhões de toneladas de suco de laranja em 2005. O valor das vendas externas alcançou US$ 1,11 bilhão no ano passado.

Apesar das condições privilegiadas, segundo estudo feito pelo Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone), esse setor produtivo enfrenta um grande desafio, que se não for superado, continuará a amargar o crescimento medíocre, como o ocorrido nos últimos dez anos. Marcos Jank, coordenador do estudo e presidente do Icone, aponta a extensa desorganização da cadeia produtiva, que dificulta as relações comerciais entre produtores de laranja e a indústria. A falta de uma estrutura adequada para as formas de remuneração do setor produtivo dificulta a renovação dos pomares, o controle fitossanitário e abre espaço para o avanço de outras culturas sobre a área ocupada pelos laranjais, como pode estar ocorrendo com a laranja, segundo acrescentou Jank.

O presidente do Ícone acredita até que a recente derrota sofrida pela indústria na Justiça se constitui numa excelente oportunidade para que o setor "repense" suas práticas e avalie as relações que mantém com seus fornecedores de matéria-prima. Jank se refere ao fato de o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) ter rejeitado a proposta para um acordo que encerraria uma acusação de formação de cartel em troca do pagamento de multa de R$ 100 milhões.

Furacões na Flórida

A brusca queda a produção de laranja da Flórida, estado americano que é o segundo maior produtor da fruta, com 30% da produção mundial, pode colocar o Brasil, ou mais especificamente, o estado de São Paulo, como único grande produtor mundial de suco de laranja, diz o estudo. Para Jank, dificilmente a Flórida irá recuperar sua capacidade produtiva anterior à ocorrência dos grandes furacões, que além de destruir boa parte dos pomares locais, espalhou doenças cujo controle tornou-se difícil, por causa da mão-de-obra cara.

Os citricultores da Flórida enfrentam ainda o assédio do mercado imobiliário, uma vez que a região é cobiçada por se tratar de uma das únicas áreas tropicais dos Estados Unidos, cuja população deseja se proteger do frio. A valorização das propriedades é um dos fatores que pode desestimular os investimentos na produção.

O estudo foi desenvolvido pelo Ícone em conjunto com o Programa de Agronegócio da Universidade de São Paulo (Pensa) e se propõe fazer sugestões para que a melhor integração da cadeia produtiva. Marcos Fava Neves, coordenador do Pensa, diz que é preciso haver uma divisão entre a velha e a nova citricultura brasileira.

Perda de renda

Levantamento feito pela USP mostrou que o avanço da cana sobre as áreas de cítricos nas regiões tradicionais de cultivo representa uma grave ameaça para as economias locais. Estudo feito em Bebedouro (SP) mostrou que a receita proporcionada pela citricultura naquela cidade do interior paulista há cinco anos era de R$ 170 milhões e agora, depois da erradicação dos pomares de laranja para abrir espaço para a cana, a receita caiu para R$ 900 milhões.

"No caso dessas regiões tradicionais, o avanço da cana reduz renda e oferta de emprego", disse Neves. O diretor do projeto Pensa diz que citricultura deve ser tratada como uma grande riqueza. Embora tenha perdido posição para outros setores, como as carnes e a soja, deve merecer atenção. "Não foi a laranja que encolheu, mas outros setores que cresceram. Mas a laranja não pode ficar estagnada".

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