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Doença da língua azul já afeta gado na Europa

Novo surto da enfermidade soma 434 casos na Holanda e preocupa autoridades


Quando o trauma do mal da vaca louca começa a ser superado na Europa e o fantasma da gripe aviária ainda paira sobre o mundo, autoridades sanitárias européias demonstram preocupação com o avanço de outra doença animal, o mal da língua azul. Causado por um vírus transportado por um mosquito resistente ao frio, a enfermidade já soma 434 casos na Holanda, o país mais atingido. Em todo o norte da Europa, cerca de mil cabeças de gado apresentaram sintomas.

O primeiro caso do novo surto da doença foi verificado em agosto, em uma fazenda do sul holandês, perto da cidade de Maastricht e da fronteira belga. Atendendo à regulamentação sanitária internacional, o fluxo de animais entre a região afetada e o resto do continente vem sendo controlado. Na metade sul do país, os animais recebem tratamento com inseticidas.

A preocupação de virologistas, infectologistas e veterinários se deve ao progresso da contaminação. Fazendas da Bélgica, de Luxemburgo, da Alemanha e da França também já tiveram notificações. Um raio de 150 quilômetros no interior belga está sob vigilância e outros 100 quilômetros formam uma zona de proteção especial. Na França, onde um sexto caso foi comprovado, na região de Bondues, no norte, medidas de prevenção foram adotados em 17 departamentos - equivalentes a Estados - e pedidos de flexibilização do trânsito de animais vêm sendo negados pelo Ministério da Agricultura.

Ontem, em Paris, a Agência Francesa de Segurança Sanitária dos Alimentos informou que descarta riscos à saúde humana, mas reconheceu a possibilidade de que o comércio europeu de carne sofra novos prejuízos econômicos. "Não há ameaça aos humanos, mas há risco importante aos animais", diz Guillaume Gerbier, veterinário especializado na enfermidade.

Preocupação

O mal da língua azul, ou febre catarral da ovelha, é causado na Europa por um vírus transmitido pelo mosquito Culicoides dewulfi. O vetor inquieta especialistas porque se trata de uma variação do Culicoides imicola, de origem africana e agente de contaminações anteriores na África, no Oriente Médio e no sul europeu. A preocupação, manifestada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), se dá pela resistência do mosquito a regiões frias e pela progressão dos casos.

Nos animais, em especial no rebanho ovino, o mal causa febre, edema facial e necrose da língua, o que explica seu nome. Como prevenção, os governos europeus estão permitindo apenas a exportação de carne de animais comprovadamente sadios. O tráfego está liberado somente para caminhões equipados com sistemas inseticidas e cujo embarque da carga tenha se dado em horários de menor atividade de insetos.

Para Lucien Gratté, membro de uma ONG de defesa dos animais - que em 2000 denunciou ao Ministério da Saúde a possibilidade de surtos na França, quando o mal atingia em pequena escala a Espanha-, a precaução faz sentido. O perigo de repetição de um fenômeno como o mal da vaca louca, ainda que em menor dimensão, não pode ser descartado, disse o estudioso. "O risco é sério. O choque econômico pode ser enorme se o consumidor passar a se preocupar com o contágio", diz.

Gerbier concorda com a ameaça financeira. "A dimensão da doença será sentida na Europa caso alguma das regiões exportadoras de carne seja infectada."

A alusão ao mal da vaca louca é inevitável mesmo para autoridades sanitárias que ressaltam a incipiência do perigo representado pelo mal da língua azul. Todos lembram a recusa do europeu em consumir carne de gado ao primeiro sinal de riscos à saúde. A partir de 1996, com o início dos casos de contágio humano, a opinião pública se chocou com o fato de os animais não serem mais alimentados exclusivamente com pasto, mas com rações e proteínas sintéticas.

O impacto sobre o imaginário do consumidor nos anos 90 e início da década levou à bancarrota criadores de países como a Grã-Bretanha e a França. Em 1996, a União Européia chegou a decretar o embargo às carnes inglesa e irlandesa. Os casos de mal da vaca louca foram drasticamente reduzidos. Segundo a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), em 1992 foram 37,2 mil e em 2004, 148.

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