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Doenças e chuvas ameaçam grande safra de trigo no Brasil

O Paraná que colhe mais da metade do trigo do Brasil, ficará bem mais distante do recorde de produção previamente estimado


Reuters - Chuvas acima da média histórica nos últimos meses no Paraná, que colhe mais da metade do trigo do Brasil, devem deixar o Estado bem mais distante de um recorde de produção previamente estimado, avaliaram na segunda-feira (24) agrônomos e pesquisadores da Embrapa.

A elevada umidade causou um severo ataque de doenças fúngicas como a brusone e a giberela, que afetam a formação da espiga e o enchimento do grão, com produtores tendo dificuldades para entrar com máquinas nas encharcadas lavouras e realizar a aplicação de fungicidas.

Não bastasse isso, considerando que a colheita já começou no Paraná, a qualidade do trigo fica ameaçada pela alta umidade, que pode provocar a germinação do grão na planta, inviabilizando a utilização do produto para a fabricação de farinha.

"Já foi perdido. Existem lavouras com 80 por cento de prejuízo. Não são todas, claro. Mas o prejuízo é grande", declarou o pesquisador Manoel Bassoi, da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária).

Até o mês passado, a safra do Paraná estava estimada em um recorde de 3,37 milhões de toneladas, ante 3,21 milhões em 2008, segundo a Secretaria de Agricultura do Estado, que deve atualizar seus números esta semana.

Uma grande produção no Paraná é importante para o Brasil, que costuma importar cerca de metade de suas necessidades de aproximadamente 10 milhões de toneladas --contando com uma produção maior, o Ministério da Agricultura prevê que o país importe 5,35 milhões de toneladas em 2009/10, o menor volume desde 2004/05.

De acordo com o pesquisador, "de jeito nenhum" o Paraná conseguirá produzir o recorde previsto, considerando, segundo a Embrapa, que cerca de 60 por cento da área do Estado foi prejudicada pelas chuvas.

"Mas só daqui a 15, 20 dias, quando a colheita estiver mais avançada, será possível identificar os prejuízos."

Bassoi, coordenador de melhoramento de trigo da empresa estatal, teme também pela próxima safra, avaliando que a produção de sementes igualmente foi afetada.

Agosto já registra volume de chuvas de 80 milímetros, bem acima da média histórica, de 53 mm, segundo o Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), repetindo uma situação verificada nos últimos dois meses. Em junho, choveu 108 mm, e em julho, 244 mm, quase quatro vezes mais do que a média.

"Provavelmente vai ter redução de produtividade. A questão é saber quanto... No saldo final, acho que produziremos menos que estimamos", disse o agrônomo Otmar Hubner, do Departamento de Economia Rural (Deral), do governo paranaense.

Flávio Turra, gerente técnico e econômico da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), destacou que no momento o que mais preocupa o setor produtivo são os "problemas de final de ciclo", como a brusone --que ataca a espiga e acaba abortando a formação do grão-- e as chuvas na colheita.

"Mas temos de ver a intensidade do ataque para falar em produtividade."

PREOCUPAÇÃO NO RS

Os modelos climáticos apontam para mais chuvas nos próximos meses, o que poderia deixar o segundo produtor brasileiro de trigo, o Rio Grande do Sul, em condições semelhantes às vividas pelos paranaenses, de acordo com a Emater, o órgão de assistência técnica do governo gaúcho.

"Como a safra gaúcha ainda está em um estágio anterior, não temos problemas como brusone, mas também não estamos em um mar de rosas. Para os próximos três meses, o Rio Grande do Sul e o sul do Paraná devem ter chuvas, segundo os modelos climáticos", disse o agrônomo Ataides Jacobsen, da Emater-RS.

A colheita no Rio Grande do Sul começa em outubro e se intensifica em novembro.

Apesar da preocupação dos especialistas, dois representantes da indústria do trigo avaliam que ainda é cedo para falar em perdas, ainda que no Paraná.

"É prematuro dizer", disse Luiz Martins, presidente do Moinho Anaconda, revelando que seus técnicos estão percorrendo o Estado para avaliar a situação.

Um outro integrante da indústria, que preferiu ficar no anonimato, afirmou não ter "ouvido ainda conversas de ameaça à produção". "O setor gosta de criar... É uma forma de pressionar os moinhos para comprarem, porque ainda tem trigo no Paraná (da safra velha)", disse a fonte.

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