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Dólar estabiliza mercado da carne

Clima também auxilia o produtor; boa qualidade dos pastos permite escolher melhor momento de venda


A desvalorização do real afeta diferentemente setores da economia brasileira. A carne bovina sofre, a princípio, efeitos benéficos com o aumento da competitividade no mercado externo. O produto brasileiro, que já chegou a US$ 60,00 a arroba, esta semana foi comercializado a US$ 40,06 em contratos para 30 dias, muito próximo dos US$ 42,00 do Uruguai e US$ 49,00 do Paraguai. ‘‘A carne brasileira hoje é um produto atraente e competitivo’’, avalia o consultor Alcides de Moura Torres Júnior, de Bebedouro (SP).


  No último ano, O Brasil obteve bons resultados no exterior, com o aumento da demanda dos países emergentes. No mês de setembro houve recorde de exportações com 134,81 mil toneladas que renderam US$ 454 milhões. No mesmo período do ano passado houve um ganho de US$ 291,25 milhões com a comercialização de 128,1 mil toneladas.

  Os preços devem continuar estáveis também no mercado interno, apoiados na redução de oferta. Segundo o consultor, 75% do gado confinado já foi para o abate, o que vai diminuir a disponibilidade do produto, até que o boi do pasto esteja pronto. Nos últimos 10 dias, no Paraná, o valor passou de R$ 87,00 para R$ 88,00. No estado de São Paulo, o preço variou de R$ 91,00 para R$ 92,93, ‘‘uma escalada normal’’, de acordo com Torres.

  O setor fica na expectativa da disponibilidade e custo do crédito. De acordo com o consultor, espera-se que o Copom siga a tendência de bancos centrais de outros países que derrubaram os juros. Torres considera importante a decisão do governo de diminuir o depósito compulsório do bancos. ‘‘A destinação de R$ 60 bilhões ao mercado também foi ótima’’, avalia.

  O consultor afirma que, em tese, o crédito está disponível, mas o custo já subiu, o que atinge diretamente os frigoríficos que adquirem crédito em dólar. Mas, segundo ele, faltam linhas de financiamento à pecuária. ‘‘Temos um paradoxo: os produtores sofrem mais porque não têm crédito, mas sofrem menos porque não têm crédito’’, afirma. E explica: o pecuarista tem menos dívidas porque custeia sua produção com recursos próprios.


  O pecuarista José Antônio Fontes, da Associação Nacional dos Produtores de Bovinos de Corte (ANPBC), critica a falta de crédito ao setor. Segundo ele, toda a cadeia da carne bovina é penalizada pela falta de recursos. Ele prevê até mesmo redução da produtividade porque o produtor pode abrir mão da tecnologia para diminuir custos. Para ele, o governo peca ao não liberar recursos para a agropecuária.

  Fontes minimiza os efeitos da desvalorização da moeda. ‘‘São espasmos especulativos; já estamos voltando à normalidade’’, diz. Segundo ele, a estabilidade no mercado acontece porque estamos na entressafra.

  Mas o clima este ano é um aliado do produtor. ‘‘Com a ocorrência normal das chuvas, o pecuarista pode reter o gado pois ele não perde peso com a boa disponibilidade de pasto’’, afirma. Para ele, a situação permite que o produtor ‘‘administre’’ o gado, antecipando ou postergando a venda de acordo com o mercado.

  O pecuarista afirma que os produtores terão problema se houver redução de consumo nos países compradores do produto brasileiro, como a Rússia, o que pode ocorrer em função da crise financeira global. Mas neste momento, diz, o pecuarista brasileiro deve agir com prudência, avaliando constantemente os custos e aproveitando os benefícios do clima para reduzir impactos da crise. 

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