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Dreyfus enxuga custos e investe em mecanização na Paraíba

A substituição dos cortadores já é uma realidade e deve continuar avançando em ritmo acelerado na região


Em pouco mais de duas semanas começa mais uma temporada de corte de cana no município de Pedras de Fogo, 65 quilômetros ao sul de João Pessoa, capital da Paraíba. Pelo segundo ano consecutivo, os trabalhadores da usina Giasa, comprada em 2007 pelo grupo francês Louis Dreyfus, assistirão à performance de uma máquina com capacidade de colher 700 toneladas de cana por dia.

Em pleno desenvolvimento no Centro-Sul do país, a colheita mecanizada ainda engatinha no Nordeste, onde a irregularidade dos terrenos dificulta a operação das máquinas. Apesar disso, a substituição dos cortadores já é uma realidade e deve continuar avançando em ritmo acelerado na região.

Presidente do Sindicato da Indústria de Fabricação de Álcool do Estado da Paraíba (Sindalcool), Edmundo Coelho Barbosa observa que, hoje, apenas 5% do corte de cana do Nordeste é feito por máquinas. Em cerca de oito anos, estima o dirigente, poderá chegar a 50%. Na Paraíba, beneficiada por terrenos mais planos, a mecanização poderá atingir até 80% no mesmo intervalo. "Na safra 2010/11, chegaremos aos 15%", diz.

O corte mecanizado, contudo, é apenas mais uma das muitas tarefas a serem cumpridas pelas usinas do Nordeste na busca por ganhos de eficiência. Hoje, os canaviais da região rendem, em média, algo em torno de 60 toneladas por hectare, um terço menos do que no Centro-Sul, onde o volume gira ao redor de 90 toneladas na mesma área.

Em contrapartida, a região conta com importante vantagem geográfica. A proximidade entre as usinas e os portos pode ser um diferencial importante na concorrência pelo mercado externo. Segundo Barbosa, o preço para se embarcar álcool no Porto de Suape, em Pernambuco, é quase 60% inferior ao praticado em Santos, por exemplo. "No caso do açúcar, é quase quatro vezes menor", diz.

Ainda assim, o Nordeste tem uma operação bem menos eficiente, o que exige uma operação mais enxuta. "Aqui é preciso encontrar não um, mas todos os caminhos para a redução de custos", afirma o presidente do Sindalcool. Além disso, ele sugere maior cooperação entre as usinas, como, por exemplo, para a compra conjunta de insumos. "Em Alagoas isso já está sendo posto em prática por meio de cooperativas. Gera uma redução de custos excepcional", conta.

Em Pedras de Fogo, que tem a Giasa como principal atividade econômica, a racionalização feita pela Dreyfus desagradou a parte da população. O chefe de gabinete da prefeitura, Manoel Virgolino dos Santos, diz ter ouvido queixas sobre as demissões e terceirizações realizadas pelo grupo francês.

Os comerciantes locais afirmam que a reestruturação feita pela Dreyfus afetou negativamente a economia da região. "Eles deixaram de contratar pessoas daqui, e o movimento caiu bastante", conta Joaquim Trajano, diretor da Câmara de Dirigentes Lojistas de Itambé (PE), município vizinho a Pedras de Fogo. O órgão representa os comerciantes das duas cidades.

Segundo o presidente do Sindalcool, houve, de fato, uma profunda racionalização nos custos da Giasa, que até 2007 pertencia ao grupo pernambucano Tavares de Melo. A mudança, necessária na visão de Barbosa, desagradou não só a moradores e comerciantes, mas também a fornecedores da usina.

"Anteriormente os fornecedores iam lá e falavam direto com o dono da empresa. Podiam conseguir alguma facilidade, às vezes ficavam devendo. Agora já não há mais a figura do dono, mas sim de profissionais perseguindo metas", conta Barbosa.

Entre as principais medidas adotadas pela empresa, diz o presidente do Sindalcool, está o alinhamento na gestão das duas usinas localizadas no Nordeste. As plantas de Pedras de Fogo e de Goianinha (RN) passaram a ser administradas pela mesma equipe de profissionais, o que acarretou redução de quadros e de custos.

Funcionário da Giasa há 36 anos, o almoxarife Luciano João se diz satisfeito com os novos patrões. "Para mim até melhorou, por causa do plano de saúde, que eu não tinha. Mas para a maioria piorou, por causa de demissão e terceirização", conta.

Segundo Barbosa, a Dreyfus já teria se movimentado no sentido de fazer novas compras de usinas no Nordeste. Procurada, a empresa preferiu se manifestar por meio de comunicado, pelo qual informa que o aumento da produtividade da usina Giasa tem criado "mais oportunidades de trabalho". A Dreyfus informou ainda que está investindo na mecanização da colheita mo município e que mantém aportes regulares em programas de educação, treinamento, saúde e segurança do trabalho, além de outras ações sociais.

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