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Economista da FAEP analisa comportamento das commodities

De janeiro/maio, uma somatória de fatores exerceu pressão nos preços internacionais


Por Gilda Bozza, economista da FAEP

No período de janeiro/maio de 2012, uma somatória de fatores exerceu pressão nos preços internacionais das commodities agrícolas. Além dos fatores ditos fundamentais – oferta, demanda, estoques, houve também a interferência dos fatores macroeconômicos, fundamentalmente a questão financeira na zona do euro e mais recentemente, a entrada no jogo, do “mercado do clima”.

O imbróglio da economia grega, não permite o avanço das tratativas de acerto na comunidade europeia e com isso sãopostergadas soluções no curto prazo.

A fragilidade político-financeira da comunidade europeia, com a questão da Grécia em não acordar um partido de coalizão e “sai não sai” da Comunidade Europeia, deixa os investidores temerosos quanto aos rumos da economia mundial, criando um imbróglio que assume proporções assustadoras.

Como se não bastasse a encrenca da crise grega, agora é a vez da Espanha, com o questão dos bancos espanhóis, que imergiram no financiamento imobiliário na década passada. Veio a recessão, desemprego e as dívidas foram para a estratosfera, assumindo proporções gigantescas, ameaçando o sistema financeiro espanhol.
Os fatores macroeconômicos vêm interferindo nos preços das commodities agrícolas na Bolsa de Chicago, haja vista a fuga de ativos de risco, mais especificamente da soja.

Com isso, tem-se um quadro econômico baixista para as commodities agrícolas, com sinalização de volatilidade pela frente.

A taxa cambial pelos motivos expostos variou positivamente, alcançando 10,9% no acumulado de janeiro a maio de 2012.

Paralelamente, do lado fundamental, tem-se um quadro de oferta apertada e estoques baixos, decorrente da quebra de safra na América do Sul, com redução d safra nos dois principais países produtores mundiais, o Brasil e a Argentina. A produção brasileira foi reajustada para 65,00 milhões de toneladas, no relatório de abril a previsão era de 66 milhões de toneladas. Para a Argentina, a produção foi reavaliada para 40,00 milhões de toneladas, um corte 15 milhões de toneladas. Com isso, a produção mundial foi reavaliada para 236,87 milhões de toneladas.
Este quadro tem ocasionado grande volatilidade ao longo de 2012, comos preços ora em limite de alta, ora em limite de baixa. Principalmente no caso da soja, quefoi a commodity que mais valorizou, sendonatural que agora sofra as maiores quedas.
 
De janeiro a maio de 2012, os preços da soja, na Bolsa de Chicago, apesar do sobe e desce registrado, subiram 17,7%, passando de US$ 26,51 para US$ 31,21por saca. Já a média de janeiro a maio de 2012 foi de US$ 29,38 por saca, cerca 3% inferior àqueles praticados em igual período de 2011, cuja média foi deUS$ 30,29 por saca, contrariamente ao observado em 2011 quando o aumento sobre mesmo período de 2010 foi de 42%.

No mercado do milho, os preços internacionaismantiveram-se praticamente estáveis no período analisado, fechando com média de US$ 14,98 por saca, no entorno de 9% inferiores àqueles praticados em igual período de 2011 (US$ 16,48 por saca). O foco concentra-seno “mercado do clima” que se estende de maio a agosto e que a qualquer variação climática influenciará as cotações da Bolsa de Chicago. O cenário internacional para o milho é de umaprodução mundialde870,45 milhões de toneladas.

De acordo com dados divulgados, os estoques mundiais finais de milho deverão registrar recuperação e poderão alcançar os maiores níveis das últimas seis safras, estimados em 152,3 milhões de toneladas. É um dado que poderá influenciar nos preços do grão no mercado internacional. Por outro lado, a demanda mais fraca para o grão não possibilita a manutenção dos preços vigentes.

A produção brasileira de milho está prevista em 67 milhões de toneladas, o consumo doméstico em 53,50 milhões de toneladas e as exportações estimadas em 11,50 milhões de toneladas. O estoque final previsto em 13,08 milhões de toneladas.

No mercado internacional do trigo, o último relatório do USDA aponta um quadro de oferta e demanda ajustado, com aumento do consumo mundial, avaliado em 667 milhões de toneladas.

O preço médio de janeiro a maio/12 foi de US$ 14,15 por saca, com recuo de 0,4% desde janeiro. Em igual período de 2011, o preço médio de janeiro/maio foi de US$ 17,37 por saca. Cumpre ressaltar que a partir de maio os preços do cereal ganharam força e apresentaram altas significativas. Além doquadro climático, contribuiu para oaumento dos preços,a redução dos estoques mundiais em 3 milhões de toneladas (5%), estimados em 188,1 milhões de toneladas. Em 21.05,o preço do cereal alcançou na Bolsa de Chicago o patamar de US$ 15,52 por saca.

BOLSA DE CHICAGO (CBOT)
 
                                                                                                                                   Fonte: CBOT

Preços da soja, milho e trigo na bolsa de Chicago - CBOT (US$/saca)

Produtos

Média jan/maio 2012

Média jan/maio 2011

Variação (%)

SOJA

29,38

30,29

-3,0

MILHO

14,98

16,48

-9,1

TRIGO

14,15

17,36

-18,5

                                                 
 
Mercado Paranaense

De janeiro a maio de 2012, os preços recebidos pelos produtores de soja, com média apurada pela SEAB de R$ 48,16/saca foram 11,5% superiores sobre igual período de 2010 (R$ 43,17/saca).

Com a quebra da safra paranaense de soja, de 3,35milhões de toneladas e um prejuízo financeirode R$ 2,59 bilhões, a safra seria de dificuldades para os produtores. Ocorre que com as perdas de soja no Brasil e na Argentina, baixando a oferta para 66 milhões de toneladas e consequentemente a safra mundial reduzida para 236,79 milhões de toneladas, os preços na Bolsa de Chicago começaram a reagir. Com a valorização do dólar, provocada pela crise na zona do euro, houve um alívio nas perdas financeiras.

O dólar chegou a valer R$ 2,1200, voltando dias após para a casa de US$ 1,9890. Mas mesmo assim, trouxe um retorno favorável para o produtor. Em 07 de maio, a saca na Bolsa de Chicago valia US$ 32,26, equivalente ao dólar aR$ 61,97 por saca, um preço remunerador para um custo operacional de R$ 29,46 por saca. Com isso, os preços médios da soja foram alavancados pelasustentação do mercado garantida pela valorização cambial. Esta valorização é resultante do temor dos investidores quanto aos rumos da economia mundial no tocante aos problemas político-financeiros.

Já no mercado do milho, apesar da sinalização de preços mais baixos no Paraná, os produtores alcançaram bons resultados este ano, a partir da comprovada eficiência na utilização de tecnologia, com bons índices de produtividadee preço até remunerador, apesar de um custo operacional de produção de R$ 18,24 por saca.

No período analisado, o preço médio do milho foi de R$ 22,02 por saca, inferior àquele praticado em igual período de 2011 de R$ 22,55 por saca. A maior oferta paranaense, no total de 16,3 milhões de toneladas, sendo 6,4 milhões da safra verão e 9,9 milhões da safra de inverno, registrando uma safra recorde, pressiona os preços para baixo. Por outro lado, a pressão vendedora foi maior que a pressão compradora.

Quanto ao mercado do trigo, os preços praticados de janeiro a maio de 2012, com média deR$ 24,38 por saca, foram 6% inferiores aos praticados no mesmo período de 2011 (R$ 25,97 por saca). A situação é desconfortável, porquanto para um preço médio de R$ 24,41 por saca, tem-se um custo operacional CONAB de R$ 30,68 por saca. Pela primeira vez em 37 anos, o Paraná deverá plantar a menor área (785 mil hectares), queda de 25% em relação à safra passada,cedendo espaço para o milho. NoBrasil, a redução da área com trigo, consoante a CONAB, é de 9%. A produção nesta safra deveráser 13% inferior comparativamente com o ano passado.

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