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Efeito Rússia perde força e preço do trigo recua no País

Preços do cereal no Brasil sinalizam queda e as cotações internacionais estabilizaram


SÃO PAULO - O mercado do trigo absorveu o efeito Rússia: os preços do cereal no Brasil sinalizam queda e as cotações internacionais estabilizaram. De acordo com Élcio Bento, analista da Safras & Mercado, a combinação do real valorizado e preços internacionais mais fracos derrubam a possibilidade de recuperações no mercado brasileiro. "O viés é de baixa em função do dólar e entrada de safra. O espaço para queda é pequeno, mas a alta foi estancada", afirma.

No início deste mês, segundo Bento, os preços do produto no Paraná permaneceram entre R$ 470 por tonelada para compra e R$ 480 para venda, o que corresponde a uma recuperação próxima a 4% em relação à praticada no início de setembro. No entanto, se relacionado à paridade de importação com algumas das principais fontes de abastecimento, houve recuo.

De acordo com o analista, a principal queda ocorreu no Paraguai, maior fornecedor atual do grão para o Brasil, com retração de 9%. A tonelada do trigo paraguaio, que chegava no início de setembro a São Paulo por R$ 581, no dia 1º de outubro passou a entrar a R$ 529. "O produtor que podia vender a tonelada a R$ 514, hoje teria que reduzir a R$ 465."

Segundo Lawrence Pih, proprietário do Moinho Pacífico, a tonelada do cereal na Argentina, safra nova, gira em torno de US$ 300 e US$ 305 a tonelada.

Para o empresário, se o real continuar sobrevalorizado, o triticultor vai ter dificuldade para comercializar o trigo no preço mínimo de referência estipulado pelo governo federal, a R$ 477.

"Se o câmbio voltar a R$ 1,80 o preço não cai. Caso contrário, o trigo com qualidade deve fixar em R$ 470", diz Lawrence Pih. De acordo com o executivo, o gargalo do setor no Brasil ainda é a qualidade. Como ocorreu em 2009, por problemas climáticos, em 2010 a qualidade do cereal também não agrada a indústria. "Só que desta vez pela falta de segregação do grão", diz.

Para o proprietário do Pacífico, ao mesmo tempo em que o triticultor precisa separar os grãos de trigo, o Brasil não possui estrutura para isso. "Quando ocorre a mistura do grão danifica a qualidade do produto bom."

Mais uma vez, segundo Pih, o produtor nacional vai acabar com o produto na mão. A solução seria exportar, porém entra a questão cambial.

Segundo Narciso Barison, presidente da Associação dos Produtores e Comerciantes de Sementes e Mudas do Rio Grande do Sul (Apassul), no Paraná a qualidade do trigo está de acordo com a necessidade da indústria, e os triticultores não vêem panorama de queda nos preços. "A Rússia trancou exportação e a Argentina está controlando embarques para atender a demanda interna."

O presidente considera que se houver redução nas cotações do grão nacional, em 2011 por mais que seja necessário ocupar a lavoura no inverno haverá redução na área cultivada. "Não vai ser bom para o triticultor nem para a indústria", afirma.

O clima, daqui para frente também deve definir o rumo dos preços no Brasil e no mundo. Segundo Pih, o trigo argentino a ser colhido no próximo mês pode sofrer com interferências climáticas. "Algumas regiões na Argentina já carecem de chuva", diz.

Por outro lado, as recentes chuvas na Rússia estão permitindo que os fazendeiros plantem a próxima safra, mesmo que com atraso, segundo o analista. "O clima adverso ao cultivo do trigo já foi digerido pelo mercado."

Para Bento, a possibilidade de compra do cereal nos Estados Unidos, apesar da queda de 3% nas cotações da bolsa e de 6% no câmbio frente ao real, está fora da realidade do mercado brasileiro. "A queda na bolsa pode forçar um realinhamento para baixo nos preços no Mercosul", observa.

O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos apontou uma safra grande norte-americana com estoques também grandes. "Além disso, o movimento de queda deve-se a uma correção da alta que atingiu o maior valor em quase dois anos no mês passado."

De acordo com Bento, no Uruguai, cuja oferta é da safra antiga, o preço da tonelada ao chegar em São Paulo, que estava R$ 594 no início de setembro, caiu para R$ 572 em outubro, retração de 3%.

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