CI

El Niño puxa alta da safra de soja no Rio Grande do Sul


A nova safra de soja no Rio Grande do Sul, terceiro maior Estado produtor do país, deverá crescer 22% em relação à colheita passada devido às chuvas trazidas pelo El Niño, afirmou ontem (04-02) uma cooperativa local. Fernando Martins, diretor técnico da Cotrijal, do norte do Rio Grande do Sul, disse que o rendimento deverá ser de 45 sacas de 60 quilos por hectare na safra 2002/2003 (julho a junho), contra 37 sacas obtidas na estação anterior.

"Há uma excelente distribuição das chuvas -condições quase perfeitas de cultivo", disse Martins. Ele e meteorologistas locais atribuem ao clima favorável no sul do país ao El Niño, o aquecimento das águas superficiais do pacífico na costa do Peru que provoca alterações climáticas no planeta. O Rio Grande do Sul tem registrado índices pluviométricos acima da média neste ano, que acredita-se ser resultado de uma anomalia climática mundial.

O instituto de meteorologia Somar, com sede em São Paulo, afirmou que o Rio Grande do Sul registrou 148 milímetros de chuva em janeiro, ou 10% a mais do que a média mensal. Mas a continuidade de índices de chuva acima da média não será boa para a colheita, que tradicionalmente começa em março no norte do Rio Grande do Sul e atinge o auge em abril.

"Esta é a nossa única preocupação neste momento", disse Martins. "Se chover como esperamos, isto causará alguns problemas durante a colheita", acrescentou, referindo-se à dificuldade de se manejar máquinas em meio à lama e colher grãos úmidos. "Um grão seco tem cerca de 13% de água", disse. "É possível colher um grão com até 17% de umidade".

Sem doenças, por enquanto

Martins disse que cerca de 60% dos campos de soja na área de 140.000 hectares que abrange os 3.200 membros da Cotrijal estão florindo, 20%estão cobertos de sementes, e o restante está em pré-florescimento, na fase de crescimento. "Quando a soja floresce seu sistema imunológico começa a enfraquecer e as doenças começam a aparecer e a causar problemas", disse. "Até agora não tivemos estes problemas".

Cerca de 60% dos campos estão cultivados com grãos de ciclo curto, que não têm rendimento tão bom quanto às variedades de ciclo mais longo, mas amadurecem mais cedo. Segundo Martins, a soja que permanece mais tempo no campo está mais vulnerável à doenças e pestes. Ele também disse que o extraordinário rendimento que os agricultores estão obtendo com a soja em relação aos outros cultivos estão prejudicando a rotatividade de culturas, que ajudam a manter doenças e pestes sob controle.

"Historicamente, 30% da região era plantada com milho e 70% soja", disse Martins. "Agora, com a soja tão lucrativa, isto mudou para 20% de milho e 80% de soja. Isto permite que pestes e fungos desenvolvam um gosto pela soja, por assim dizer". Doenças como a ferrugem de soja ou pestes como nematóides são sempre seletivas sobre as culturas que atacam. Ao replantar a mesma cultura no mesmo campo safra após safra, disse Martins, "os problemas aparecem no solo e no ambiente ao redor e exigem um trabalho maior a cada ano".

As elevadas temperaturas nesta safra têm ajudado a evitar o alastramento da ferrugem de soja asiática na região, disse Martins. O fungo "prefere temperaturas mais frias" e apareceu com força pela primeira vez no Brasil no ano passado. Temperaturas em Não-Me-Toque, chegaram a 34 ºC, e o clima estava parcialmente nublado ontem (04-02). Há previsão de mais chuvas para o final de semana.

Assine a nossa newsletter e receba nossas notícias e informações direto no seu email

Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o site para tornar sua experiência personalizada. Leia os nossos Termos de Uso e a Privacidade.