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El Niño se fortalece e ameaça impactar agronegócio do País

O excesso de chuva aumenta os riscos de ferrugem asiática na soja no Brasil


O fenômeno climático El Niño se fortaleceu em novembro pelo segundo mês consecutivo e pode ter impacto no agronegócio mundial. O furacão pode resultar em aumento do preço das commodities, com seca prolongada na Ásia-Pacífico, prejudicando ainda mais a safra da Austrália (que já convive há meses com falta de chuvas), e inundações nas Américas.

Mesmo que as inundações não aconteçam, o excesso de chuvas aumenta os riscos de ocorrência de ferrugem asiática na soja no Brasil, doença que já causou perdas superiores a US$ 7 bilhões ao agronegócio brasileiro.

De acordo com informações do Departamento de Meteorologia da Austrália, “o El Niño do período 2006-2007 parece estar entrando em sua fase de maturação.Modelos criados em computador são quase unânimes em prever a incidência do padrão climático El Niño no restante de 2006 e no início de 2007.”

Os eventos meteorológicos gerados pelo El Niño ocorrem, em média, a cada período de quatro a sete anos e alteram os padrões climáticos mundiais.

O chamado Índice de Oscilação do Sul, que monitora as flutuações mensais da pressão do ar entre o Taiti, no Oceano Pacífico, e a cidade de Darwin, localizada no norte da Austrália, caiu pelo sexto mês consecutivo, disse o departamento. Esse é um dos indicadores da presença do El Niño.

Um padrão El Niño “clássico” continua a se desenvolver no Pacífico, disse ontem em entrevista David Jones, chefe do setor de análises climáticas do departamento australiano, sediado em Melbourne. O padrão, que este ano apareceu com atraso, está agora “firmemente consolidado”, disse ele.

Efeito no Brasil

Embora ainda não se possa medir os efeitos do El Niño no agronegócio brasileiro, os especialistas lembram que o fenômeno aumenta a quantidade de chuvas. Esse efeito pode ser benéfico pela possibilidade de trazer aumento da produtividade no campo, mas traz dois riscos: inundações, que podem representar perdas de produção; e a propagação da ferrugem asiática na soja, pelo excesso de chuvas.

Trata-se de uma possibilidade que preocupa os especialistas do setor, já que a ferrugem causou prejuízos superiores a US$ 7 bilhões para a soja brasileira.

Para esta safra, o efeito deve ser menor já que o plantio do produto está adiantado principalmente no Centro-Oeste, o que reduz a incidência de ferrugem. Mesmo assim, se houver alteração significativa do clima, há possibilidade de que a doença volte a trazer prejuízos para a cultura, para a qual a Conab prevê uma produção entre 53,916 milhões e 55,224 milhões de toneladas, com uma elevação de até 3,4% (sem considerar possíveis efeitos do El Niño).

20% mais de chuvas.

Segundo André Madeira, meteorologista do Grupo Clima Tempo, o volume de chuvas ocasionado pelo El Niño neste ano estará dentro dos padrões normais. “As precipitações pluviais ficarão de 20% a 30% mais freqüentes, ou seja, um aumento já esperado, mas que não deverá afetar negativamente as lavouras”, diz ele.

O meteorologista afirma que a incidência de chuvas será maior no norte do Rio Grande do Sul, no centro-sul do Mato Grosso do Sul, e nos Estados de São Paulo, Paraná e Santa Catarina. Já no Nordeste, a presença das chuvas deve reduzir em, pelo menos, 15%.

Para Steve Cacchia, analista de commodities da corretora de cereais Cerealpar, o El Niño “não apresenta riscos para os produtores brasileiros”. Na opinião dele, o segmento enxerga com bons olhos o fenômeno climático. “Quanto mais chuva, melhor será a safra de grãos, esse é o pensamento”, diz Cacchia.

Na mesma linha, Emílio Ferrari Ramos, analista de mercado da Agência Rural. “Os preços de soja e milho já subiram 10%, em média. Isso é reflexo do pensamento positivo do setor com relação ao El Niño”, diz ele.

O analista ainda ressalva que alguns produtores, que pensavam reduzir em mais de 15% as suas terras de cultivo, abandonaram a idéia. “Apenas em algumas regiões houve redução de 5%. No Rio Grande do Sul, por exemplo, além de não reduzirem as terras, os produtores compraram 20% a mais de insumos agrícolas crendo em uma safra promissora”, diz Ramos.

Austrália em primeiro lugar

Seja qual for o efeito do El Niño no Brasil, o departamento australiano constatou que as temperaturas oceânicas continuaram se elevando no Pacífico, os ventos se mantiveram mais fracos do que o normal e a quantidade de nuvens se apresenta acima da média na região ocidental central do oceano. O padrão aparece primeiro na Austrália e pode levar vários meses para se desenvolver.

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