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Eliminação da TEC divide setores econômico e agrícola do governo

A proposta do Ministério da Fazenda de eliminar a Tarifa Externa Comum (TEC), dos atuais 10%, pode depreciar os preços ao produtor nacional


A alta do preço do trigo pode levar a uma queda-de-braço dentro do governo. A proposta do Ministério da Fazenda de eliminar a Tarifa Externa Comum (TEC), dos atuais 10%, para facilitar a importação do trigo de países de fora do Mercosul pode depreciar os preços ao produtor nacional, advertiu o secretário-executivo da Câmara de Culturas de Inverno e coordenador-geral de Cereais e Culturas Anuais do Ministério da Agricultura, Silvio Farnese. Pode sobrar trigo nacional porque a safra começa a ser colhida. Caso a medida seja adotada, a pasta da Agricultura deverá adotar medidas de garantia de preços mínimos, para evitar que o plantio de trigo seja desestimulado no Brasil.

Portanto, o atual cenário não é factível para a eliminação da TEC. Esse foi o recado que a Câmara Setorial encaminhou à Secretária de Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, que negocia as tarifas agrícolas, por parte do órgão. Qualquer medida que possa alterar o preço, disse Farnese, pode trazer problemas à comercialização do grão no mercado doméstico, já que a safra nacional de trigo deve quase dobrar para cerca de 4 milhões de toneladas na safra 2007/08.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, sinalizou ontem a intenção de eliminar a TEC nos atuais 10% provisoriamente para poder conter a inflação dos alimentos. Há também a pressão da indústria de trigo para eliminar a tarifa e diminuir a dependência da Argentina, que é o principal fornecedor de trigo do Brasil. Em maio, o governo daquele país suspendeu os contratos de exportação do grão para conter a inflação nesta entressafra.

A indústria nacional de trigo apresentou ao governo uma proposta que propõe a necessidade de trazer de terceiros países pelo menos um milhão de toneladas do cereal, sem a incidência da TEC, segundo fontes do mercado. Mas, se for eliminada, analistas dizem que a medida não deve fazer grande efeito no mercado interno. O volume previsto para ser importado de terceiros países é pequeno e não compensa por conta do valor do frete. "Não resolve nada porque a melhor opção para se comprar o grão ainda é na Argentina, pois o frete que vai incidir no trigo trazido do Canadá, por exemplo, é bem maior em relação ao argentino’’, avaliou a analista de agronegócio da Tendências Consultoria, Amaryllis Romano. Amaryllis lembra que o preço do trigo está elevado no mundo inteiro diante do desequilíbrio entre a oferta e a demanda.

Ontem a cotação do cereal bateu um novo recorde de 805,50 centavos de dólar por bushel na Bolsa de Chicago (CBOT) (ver na matéria abaixo). Segundo a Safra & Mercado, mesmo se o Brasil eliminar a TEC, o trigo americano chegaria ao porto de São Paulo a US$ 394 a tonelada, US$ 44 a mais que o da Argentina - hoje cotado entre US$ 290 e US$ 300 - que chegaria a US$ 350. O analista da consultoria, Élcio Bento, acredita que o governo manterá a tarifa em 10% porque a safra de trigo do País começa a ganhar fôlego. "Esse pedido foi negado quando estávamos na entressafra e é lógico que não vão tirar no momento de safra’’, estima Bento. Já o conselheiro do Conselho Regional de Economia (Corecon-SP), Carlos Eduardo Oliveira Junior, se mostra a favor da medida para reduzir a pressão inflacionária do trigo sobre a inflação.

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