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Embargo de carne brasileira pode fazer efeito cascata

A ameaça da União Européia de embargar a carne brasileira pode provocar um efeito dominó em outros países que usam as exigências do bloco para suas compras


Se a UE restringir compra do produto brasileiro, outros países podem seguir o bloco. A ameaça da União Européia de embargar a carne brasileira pode provocar um efeito dominó em outros países que usam as exigências do bloco para suas compras. O Brasil tem até 31 de dezembro (ver matéria abaixo) para se adequar às normas européias, do contrário poderá ter a venda de carne bovina restrita. O bloco responde por quase 20% do volume comercializado pelo Brasil ao exterior e do faturamento. No ano passado, o País exportou US$ 4 bilhões em carne bovina.

Analistas e representantes do setor acreditam que além de um efeito cascata, as conseqüências seriam também o aumento do preço da carne no mercado mundial - pois o Brasil é o maior exportador em volume e em receita - e, do lado inverso, uma queda nas cotações do boi gordo no mercado interno - uma vez que haveria sobra de produto dentro do País.

Nessa terça-feira (17-07), o diretor de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Roberto Giannetti da Fonseca, disse que a instituição vai conversar com o Governo Federal e com as associações brasileiras dos Exportadores de Carne (Abiec) e de Alimentos (Abia) sobre a melhor estratégia de defender o Brasil das acusações que os europeus estão fazendo contra a carne brasileira. "Possivelmente, encaminharemos uma nota oficial aos órgãos estrangeiros. A acusação desse grupo é escandalosa", enfatizou.

Desde o surgimento do foco de febre aftosa em Mato Grosso do Sul, em setembro de 2005, que missões da União Européia têm vindo ao Brasil vistoriar as condições de produção tanto nas fazendas quanto nos frigoríficos e se manifestam quanto à necessidade de mudanças.

"Se nada for feito até dezembro deste ano, provavelmente o Conselho de Ministros da União Européia vai restringir ainda mais os estados que têm autorização de exportar para o mercado europeu", disse Jean Carfantan, consultor da Céleres. Segundo ele, há uma minoria de pecuaristas que não percebe que o mercado mudou e exige a rastreabilidade, enquanto, por outro lado, o governo não considera o setor estratégico. De acordo com o consultor, o Brasil é o único país exportador que gasta pouco para garantir a sanidade: R$ 0,54 por cabeça de animal - incluído aves e suínos -, o equivalente a dez vezes menos que a Austrália, principal concorrente brasileiro.

"Estamos tranqüilos. Vamos tratar de fazer o tema de casa", afirma Antônio Camardelli, secretário-executivo da Abiec. Segundo ele, o Brasil tem um histórico de nunca ter enviado produto que causasse problemas à saúde e tem captação técnica. Portanto, na avaliação de Camardelli, trata-se de um lobby da Irlanda e da Inglaterra, que não têm condições de competir com a carne brasileira. Enquanto o custo de produção do Brasil é de US$ 1 por quilo, o destes países é três vezes maior.

Para o ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, esse movimento está usando acusações falsas como alavanca para eliminar o Brasil, que é altamente competitivo. O receio, segundo ele, é que, se isso acontecer, pode causar efeito dominó com a rejeição de outros países. O analista Fabiano Tito Rosa, da Scot Consultoria, lembra que a Argélia e o Egito poderiam seguir a União Européia.

"O nosso controle sanitário não tão bom quanto gostaríamos, nem tão ruim como eles falam", afirma. Segundo ele, se os europeus embargarem a carne brasileira terão de pagar mais caro pela proteína animal. Isto porque há um déficit de 600 mil toneladas de carne bovina por ano entre a produção e o consumo da Europa. Ele diz que não existe país no mundo capaz de fornecer esta quantidade. Segundo Rosa, a não exportação à União Européia causaria um excedente no mercado interno.

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