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Embrapa publica estudo sobre bioindicadores de qualidade de água na produção de híbrido jundiara

O Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento 65 avaliou a fauna macrobentônica presente em locais próximos e distantes de uma piscicultura com criação de híbrido de jundiara.


O Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento 65, dos pesquisadores Mariana Moura e Silva e Marcos Losekann, da Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna, SP) e Themis Franco, médica veterinária, avaliou a fauna macrobentônica presente em locais próximos e distantes de uma piscicultura com criação de um híbrido de jundiara (Leiarius marmoratus macho x Pseudoplatystoma reticulatum fêmea), e o período de colonização usado em coletor de substrato artificial, em reservatório do rio Sorriso, MT.

O reservatório estudado tem 66ha com profundidade média de 4m, pertencente a uma piscicultura comercial localizada em Primavera do Leste (MT). O experimento foi desenvolvido durante a estação chuvosa (outubro e novembro de 2010). O híbrido jundiara era produzido em quarenta tanques-rede de 72m³ cada um, com peso médio de 1,4kg.

Conforme os autores, "o uso de bioindicadores de qualidade de água permite uma avaliação integrada dos efeitos ecológicos causados por fontes múltiplas de poluição porque, no caso dos organismos bentônicos, eles são importantes componentes do substrato de fundo de rios e lagos, onde possuem um papel fundamental na dinâmica de nutrientes, na transformação da matéria e no fluxo de energia". Estes organismos também são parte importante da cadeia alimentar, sendo consumidores primários de algas e perifíton, e também presas de peixes, além de predadores de outros invertebrados. São também dependentes e influenciados pelas condições externas aos ecossistemas aquáticos, como a mata ciliar, a entrada de poluentes via escoamento superficial do ambiente de entorno, por exemplo.

Na aquicultura, o seu uso pode ser um dos mais eficazes métodos para avaliar a qualidade da água, pois os organismos bentônicos são os que melhor refletem as mudanças físicas, químicas e biológicas no ambiente aquático, e podem ser considerados mais sensíveis do que a avaliação momentânea por variáveis físicas e químicas locais, método de monitoramento mais comumente utilizado. A elevada concentração de nutrientes na água pode afetar a estrutura e a dinâmica das comunidades macrobentônicas, manifestada por uma diminuição na biodiversidade aquática e/ou por uma dominância de espécies tolerantes à poluição.

A produção intensiva de peixes produz efluentes resultantes de ração não consumida, excretas e metabólitos os quais podem, quando em excesso, ter impactos nos ecossistemas aquáticos que se deve, principalmente, ao aumento na concentração de nitrogênio e fósforo na coluna d'água, e ao acúmulo da matéria orgânica no sedimento, causando assim, interferências na qualidade da água. Em virtude disso, os bioindicadores também desempenham um papel importante no processamento da matéria orgânica dos corpos hídricos, acelerando sua decomposição e assim promovendo a ciclagem de nutrientes e a transferência de energia para níveis tróficos mais elevados. Assim, os macroinvertebrados bentônicos podem ser considerados espécies-chave na decomposição de detritos da cadeia alimentar.

De acordo com os autores foi observado que, no período inicial de 15 dias de colonização do substrato artificial, em pontos de coleta próximos dos tanques-rede a diversidade de espécies e o número de indivíduos de macroinvertebrados foi maior do que nos pontos distantes, indicando uma possível interferência da atividade aquícola sobre o sedimento próximo aos tanques-rede.

Porém, a carência de dados físicos e químicos na área e a necessidade de um tempo mais extenso de estudo não permitem afirmar se existe correlação entre alterações da comunidade macrobentônica e alterações na qualidade da água resultantes da aquicultura. Outros estudos de maior prazo (um ano pelo menos) e que contemplem a avaliação de dados físicos e químicos (principalmente com a medição de variáveis como a clorofila a e o fósforo) e com maior frequência, são necessários a fim de que haja um maior entendimento da associação entre organismos bioindicadores e a qualidade da água em sistemas de aquicultura. As medições também devem ser feitas no local em que a água entra no sistema, em local próximo aos tanques de criação, e no local de saída da água do reservatório.

O que pode ser afirmado a partir dos dados obtidos é que há uma maior diversidade de nicho alimentar em áreas próximas aos tanques-rede, em função da possível ocorrência de distúrbio intermediário. O microhabitat abaixo dos tanques pode ser beneficiado pelo aumento da matéria orgânica proveniente de fezes de peixes e restos de ração. Porém, na hipótese do processo de eutrofização se intensificar, a expectativa seria a queda no número de táxons e o aumento na densidade das espécies tolerantes.

Por fim, não houve diferença estatística significativa entre as comunidades habitantes de pontos próximos e distantes dos tanques-rede, tanto para 15 como para 30 dias de colonização, apesar da maior abundância de indivíduos e maior diversidade terem ocorrido nos pontos próximos aos tanques rede nos dois períodos amostrados. Sendo assim, pode-se adotar o período mais curto, de 15 dias, para o biomonitoramento em área de piscicultura em tanque-rede para este reservatório.

Este estudo fez parte do Projeto Aquabrasil, que teve como um dos objetivos transferir a técnica de biomonitoramento para produtores de peixe, na medida em que muitos não têm condições de comprar equipamentos caros para avaliar a qualidade da água, como sonda multi parâmetros, por exemplo. Assim, a qualidade da água foi investigada apenas com base em bioindicadores.

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