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Erva mate: plantar agora, para arrancar depois?

Falta de matéria-prima suscita o aumento de área cultivada pelos produtores


Falta de matéria-prima suscita o aumento de área cultivada pelos produtores. Entretanto, especialistas recomendam cautela

Com a ‘possível falta de folha’ em referência a erva mate e o alto preço pago pela arroba, produtores estão pensando na possibilidade de ampliar a área cultivada com a planta no norte do Estado . O agrônomo da Emater de Passo Fundo, Ilvandro Barretto Melo, diz que de maneira geral, os envolvidos da cadeia produtiva remetem a “uma corrida repentina, impensada e temerosa a novos plantios da cultura, por vezes, sem planejamento, de forma errônea, técnica e economicamente”, explica. Segundo ele, esta situação pode causar, em breve, mais um ciclo de perturbação no setor ervateiro, como o visto nos últimos 18 anos, com excesso de matéria-prima, pouca qualidade, dificuldades de mercado. “Isso gera produtores desmotivados, arrancando, abandonando ervais, indústrias com penosas concorrências e pedágios abusivos para colocar seus produtos nas prateleiras”, alerta.


O agrônomo comenta que crise não existe em um cenário que valoriza o preço da arroba da erva mate, abre mercado para a indústria, facilita a comercialização do produto, motiva o produtor e, que em regra geral, estabelece mais procura que oferta.

Área x produtividade
No ano 2000, o Brasil cultivou 69.029 hectares de erva mate com produção ao redor de 522 mil toneladas. No ano seguinte, foram colhidas 443,5 mil toneladas em 71.185 ha. 

Na Argentina, em 2000 foram cultivados em 178.000 ha com produção de 814 mil toneladas. Em 2011, foram 779 mil toneladas em uma área de 202.000 ha. 

No Paraguai, em 2000 foram cultivados 31.609 ha com produção de 58.750 toneladas. Em 2011, foram 85.490 toneladas em uma área de 18.299 ha.

Nos anos extremos dessa década, segundo o agrônomo, ocorreu um acréscimo de área colhida e uma redução na produção de folha no Brasil e na Argentina, enquanto que no Paraguai, houve uma redução na área colhida e aumento da produção. “Incrementos ou baixas de produção e produtividade possuem muitas variantes como a tecnologia, idade dos ervais, manejo, condições climáticas, regionalização da produção, entre outras, que precisam ser verificadas caso a caso, inclusive, nível de motivação do produtor. O país que reduziu área foi o que elevou a produção e a produtividade. É possível pensar que os ervais ampliados são de plantas jovens e ainda não expuseram a sua total eficiência produtiva, ou que alcançaram a capacidade de saturação no mercado, ficando o manejo displicente. E, em conseqüência, sua produtividade reduzida”, diz.

Exportação
Com relação à exportação do Brasil, em 2000 foram 26.555 mil toneladas; e, em 2010, 33.144 mil t, com incremento de 6.589 mil toneladas nos anos extremos da década.

Já a Argentina em 2000 exportou 40,3 mil; e, em 2010, 39 mil toneladas, apresentando decréscimo.
O Paraguai por sua vez, em 2000 exportou 381 mil; e, em 2010, 562 mil toneladas, tendo um crescimento de 32%.

O agrônomo destaca que no Brasil, a redução de 15% na produção de folha e o incremento próximo a 20% nas exportações, não foi suficiente para mexer a tabela de preço pago ao produto, durante o período 2000 a 2010. Foi necessária a influência da forte estiagem entre 2012/2013, mais o ataque severo da giropsyla spezianinanna (ampola da erva mate) na primavera/verão, que somadas registraram perdas ao redor de 25%, para elevar significativamente o preço da arroba. “Matematicamente, se somarmos os 25% das perdas, mais os 15% da redução na produção da folha e os 20% do incremento das exportações na década, apontamos um excedente de 60%, para o equilíbrio de oferta e demanda. Sem contarmos a importação brasileira que em 2000 foi de 13.184 mil e em 2010, de 5.676 mil toneladas. Em 2000 o superávit exportado foi de 13.371 mil e em 2010 de 27.468 mil toneladas”, explica.

A dinâmica internacional envolvendo os países produtores no ano 2000 apresentou área colhida de 278.638 hectares, com produção de 1.394.750 toneladas e uma produtividade média de 333,7 arrobas/ha. Em 2011, a área colhida foi de 291.484 hectares e uma produção de 1.307.990 toneladas, com produtividade de 299,15 arrobas/ha. 

A flutuação nas exportações oscilou de 67.236 em 2000 para 72.706 toneladas em 2010. Neste período, ocorreu um incremento de 12.846 ha na área colhida, aumento de 5.470 toneladas na exportação, uma redução na produção de 86.760 toneladas e uma perda de 34,55 arrobas na produtividade por hectare.

“Mantidos os cenários de área colhida, de quantidade exportada, importada e um incremento leve no consumo interno para chimarrão, tererê e outros derivados de mate, mais o aumento natural de uma safra normal, sem redução por efeitos climáticos e/ou pragas, recentemente ocorrida, é ainda possível crer que a oferta de matéria-prima estará acima da demanda em 2014. Exceto alguma excepcionalidade que venha demandar erva mate, de maneira inesperada e em imenso volume. Portanto, precisamos ter muita cautela com incentivo ao plantio de novos ervais, aumento de área e propagação de viveiros, até porque, não temos material genético disponível, nem mudas aptas quantitativa e qualitativamente confiáveis, visto que para isso é necessário trabalho árduo em um tempo mínimo de 8 anos”, ressalta.

Outro argumento que indica o não investimento em novos plantios é a produtividade média dos ervais brasileiros, com 423 arrobas /ha. “Um simples manejo adequado, já amplia na safra seguinte aumento significativo na produção de folhas. Sendo assim, mais válido em uma eventual falta de folha é o incentivo a um bom manejo nos ervais já existentes, que a corrida desenfreada ao incremento da área plantada. Até porque, na atualidade o custo da implantação beira a R$ 5.000,00/ha”, ressalta.

“A redução momentânea na oferta de matéria-prima, serviu para nos mostrar a equivalência na curva da oferta e demanda. Passa por ai, a solução da grande parte dos problemas da cadeia produtiva da erva mate. O controle rígido na oferta de matéria-prima. Precisamos, nesse momento, sermos mais economistas. Observarmos mais as relações do mercado que pura e simplesmente focar na implantação de novos ervais”, observa.

Mello acrescenta que “as medidas de controle na cadeia produtiva são inúmeras, na equivalência para o arranjo mercadológico. Sem compreendermos isso, veremos uma única alternativa: plantar mais e ampliar área. Quanto a essa possibilidade, recomendo ser a última alternativa depois de esgotadas todas as possibilidades mais racionais, mais econômicas, menos simplistas, menos perigosas e apaixonadas. Uma análise fria e segura no presente, nos livrará quem sabe, de uma nova onda de arranquios de erva mate num futuro não tão distante. E, até porque a valorização merecida de um produto, também passa pelos seus instantes de escassez”, conclui.

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