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Escassez de café ameaça mercados interno e externo

Em 2011, a situação deve ser ainda pior em função do ciclo negativo da cultura


SÃO PAULO - Diante das incertezas climáticas e da queda na produção de café do Brasil e especialmente da Colômbia, o mercado prevê falta do grão em 2011. Por outro lado, o cenário atual do setor no País, apesar de preços historicamente altos, justamente na entrada da safra 2010, ainda é de indecisão quanto à situação financeira do produtor e investimentos na produção.

A Colômbia, cuja oferta de café é esperada em outubro, nos últimos dois anos registrou queda na produção de mais de 30%. Das 12 milhões de sacas produzidas antes, de acordo com Gil Carlos Barabach, analista da Safras & Mercado, agora são pouco mais de 8 milhões de sacas. "O excesso de chuva hoje pode atrapalhar a próxima temporada colombiana. Os furacões na América Central também devem impactar na oferta mundial de café", afirma.

Segundo Barabach, a produção atual no Brasil opera no limite, apenas para repor estoque.

Em 2011, a situação deve ser ainda pior em função do ciclo negativo da cultura. "No ano que vem, o País não deve produzir nem para o gasto e os estoques não vão atender a demanda."

De acordo com Caetano Berlatto, especialista em café da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), em 2011, sem contar com interferências climáticas, o Brasil deve colher entre 39 e 40 milhões de sacas de 60 quilos. No entanto, o atraso nas chuvas já compromete a floração do grão.

O volume do grão produzido no Brasil em 2010, segundo o especialista, apesar da safra cheia, de 47,2 milhões de sacas estimadas, é de qualidade inferior. "Em Minas Gerais, a seca em alguns municípios da Zona da Mata reduziu a produtividade em 30%."

A consolidação da previsão de chuva para esta semana e início de outubro, segundo Barabach, é que vai direcionar o mercado.

Para o analista, a escassez de café suave para blend da indústria, tradicionalmente produzido pelos colombianos, com a safra da América Central que não foi suficiente para suprir a demanda, além da falta de certificação do grão brasileiro em Nova Iorque, coloca em xeque o abastecimento mundial, causando consequentemente aumento nas cotações do produto. "Se os problemas climáticos se concretizarem os preços podem ultrapassar a casa dos 200 centavos de dólares por libra peso", conclui o analista.

Os valores do café, segundo Barabach, que começaram o ano em alta, em torno de 135 centavos de dólares por libra peso, não devem mais retornar a esse patamar. Já que a falta do produto com a queda na Colômbia e a previsão de um La Niña intenso devem contribuir ainda mais na elevação da commodity. Os contratos de dezembro, ainda de acordo com o analista, giram em torno de 182,75 centavos de dólares por libra peso.

"O mercado acomodou na média de 180 centavos de dólares por libra peso a espera de uma definição climática", explica.

O pico histórico nos preços ocorreu no dia 8 de setembro, quando o café atingiu 198,55 centavos de dólares por libra peso. "Esse foi o maior preço referencia em 13 anos", diz, acrescentando que os preços no mercado interno brasileiro acompanham a flutuação do externo.

De acordo com o especialista, no início de 2009 o diferencial de preços entre o café tipo cereja descascado e o tipo 6 ficava entre R$ 30 e R$ 40 por saca, e de julho para cá, o salto registrado está entre R$ 70 e R$ 80.

Dentro do panorama mundial, outro agravante, segundo Berlatto, está na queda anual dos estoques mundiais de café.

Nos últimos cinco anos, a relação produção e consumo mostra um déficit de mais de 6 milhões de sacas. "Esse cenário ainda deve se manter nos próximos anos", afirma. Para 2011, segundo ele, a tendência é de preços firmes.

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