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Escassez eleva preço do açúcar na Índia

Política do governo levou agricultores a queimar colheitas


A família de Sanjay Gujar plantou cana-de-açúcar por gerações. Mas, no ano passado, depois que os preços do açúcar caíram mais de 40%, ele replantou com bananeiras seus 2,5 hectares em Loni Kalbhor.

Um ano depois, quando Gujar e milhares de outros agricultores indianos já abandonaram o açúcar, os preços estão aumentando. O custo do açúcar refinado nos mercados internacionais saltou 60% desde o final do ano passado, para US$ 0,51 o quilo, enquanto outras matérias-primas alimentícias se estabilizaram ou caíram.
Todas as matérias-primas se movem em ciclos, mas o açúcar na Índia é um caso de oscilações extremas, em que colheitas fartas são seguidas por safras anêmicas a cada dois ou três anos.

A volatilidade é agravada -ou causada, segundo alguns analistas- pelas iniciativas do governo para controlar os preços e equilibrar os interesses de plantadores e consumidores. Quando os preços estavam aumentando, por exemplo, o governo restringiu as exportações, o que ajudou a criar um excedente.

Quando os políticos inverteram o curso e subsidiaram as exportações, muitos agricultores como Gujar já tinham trocado de cultivo.

"O açúcar é uma matéria-prima política", disse M. R. Desai, presidente da Federação de Fábricas Cooperativas de Açúcar local.

Enquanto a Índia corre ao futuro como uma locomotiva de tecnologia e serviços, houve um progresso lento e intermitente em sua economia agrária, que ainda sustenta mais da metade de seus 1,1 bilhão de habitantes. Com obstáculos como o pequeno tamanho das propriedades agrícolas, uma dependência das instáveis chuvas de monções e o controle do governo, os agricultores são menos produtivos e mais vulneráveis que os de outros países em desenvolvimento, como Brasil e China.

Economistas dizem que a abordagem da Índia à regulamentação do açúcar é um exemplo de como políticas populistas podem prejudicar as próprias pessoas que elas pretendem ajudar: os agricultores e os pobres da zona rural.

Mesmo hoje, com os preços do açúcar em forte alta, a demanda é crescente porque a população indiana está aumentando, disse o analista Sanjay Manyal.

Para suprir essa demanda, a Índia provavelmente importará de 20% a 30% do açúcar que utilizar neste ano fiscal. Menos de dois anos atrás, o país exportou 20% do açúcar que fabricou.

Para compreender os problemas do açúcar na Índia, autoridades do setor dizem que é importante considerar o que aconteceu em 2006, quando o governo proibiu as exportações para reduzir os preços. Essas iniciativas quase foram bem-sucedidas demais. Em poucos meses, os preços começaram a cair quando ficou claro que os agricultores tinham plantado cana demais.

Os fazendeiros dizem que as condições eram tão ruins em 2007 e 2008 que as usinas de açúcar, que geralmente cuidam da colheita da cana, nem sequer se deram ao trabalho de enviar equipes. Muitos agricultores, incluindo Gujar, queimaram sua safra no campo.

"A política do governo, embora bem-intencionada, parece ter agravado o ciclo", disse Samir S. Somaiya, presidente da Associação Indiana de Usinas de Açúcar e dono de uma usina.

O governo então tentou ajudar subsidiando as exportações. Ao mesmo tempo, os agricultores começaram a mudar para outros plantios. O terreno estava sendo preparado para a atual escassez.

Autoridades e analistas do setor dizem que o recente aumento dos preços atraiu alguns agricultores de volta para a cana, mas a Índia não produzirá o suficiente para atender a demanda interna até pelo menos 2011.

Gujar, agora plantador de bananas, espera conseguir plantar por mais uma década antes que sua terra seja engolida pela expansão urbana em Pune. Muitos de seus parentes já deixaram a agricultura, e seus filhos adolescentes não se interessam por banana ou cana. "Eles não querem isso", disse. "Eles vão mudar."

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