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Esperança para os preços do arroz vem de Brasília

Reunião deverá definir ações para enxugar o mercado nacional e garantir os preços mínimos do produto


Em semana decisiva para a política governamental voltada à garantia de preços do arroz, as cotações seguem em baixa no Sul do País. No Mato Grosso os estoques estão quase esgotados e o mercado internacional acena com alta, que o Brasil não vai aproveitar por conta do câmbio desfavorável para a exportação

Esta semana, na qual a área plantada no RIo Grande do Sul deve aproximar-se de 70%, é decisiva para o futuro da comercialização de arroz no mercado brasileiro até a entrada da próxima safra. Reunião nesta terça-feira, no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), terá a presença de representantes do governo e dos arrozeiros. e deverá definir ações práticas governamentais para enxugar o mercado nacional e garantir os preços mínimos do produto, atualmente em R$ 25,80. A Federarroz reivindica R$ 1,5 bilhões em recursos para assegurar a recuperação do setor e o equilíbrio na oferta, em mecanismos como PEP, Prop, AGFs e contratos de opção.

Embora o governo federal ainda não tenha se manifestado, esperam-se ações práticas, pois a argumentação dos arrozeiros será forte. Em primeiro lugar, os preços médios no Rio Grande do Sul estão abaixo dos preços mínimos de garantia, o que automaticamente deveria deflagrar mecanismos de comercialização do governo federal. Além disso, os arrozeiros contam com um importante aliado da estrutura governamental, o Banco do Brasil, que já rolou as dívidas do setor e vem liberando um EGF para pagar outro.

Com esse montante de recursos na rua, o Banco do Brasil precisa que o produtor esteja capitalizado para cumprir todos os compromissos. E a presença das ações governamentais no mercado se torna vital.

Os produtores de arroz esperam que o governo federal faça pelo cereal o mesmo que foi feito com o milho, que através de PEP alcançou melhores condições para ingressar no mercado internacional. E que a liberação de contratos de opções balize o mercado futuro até a safra. O importante agora é reduzir a pressão de oferta no Sul do Brasil e os efeitos dos ingressos do Mercosul sobre o mercado, assegurando rentabilidade mínima ao produtor. A oferta de arroz é baixa, com maior giro do produto “a depósito” e estoques industriais, pois boa parte dos produtores que ainda seguram arroz estão melhor capitalizados e/ou são pecuaristas que arrendam as áreas de várzea para arrozeiros e seguram o produto referente à porcentagem.

A indústria está apoiando os mecanismos, principalmente o PEP, o que deve facilitar a negociação com o governo. Apesar de considerar-se praticamente abastecida, a indústria gaúcha sabe que precisa “desafogar” a oferta, pois sofre pressão baixista do varejo e, exceto aquelas que têm filiais ou parcerias no Mercosul, a concorrência com o arroz beneficiado – mais barato – dos países do Prata, está afetando a relação comercial dos gaúchos com seus clientes do Sudeste e Nordeste, reduzindo espaço nas gôndolas ou exigindo enorme esforço para mantê-lo. As compras estão sendo realizadas conforme o giro.

SAFRA

No Rio Grande do Sul, o Irga indica área plantada de 54%, que deve alcançar 70% até o próximo final de semana, em razão do tempo firme. Em Santa Catarina a semeadura está praticamente concluída, em razão do sistema de cultivo pré-germinado e a antecipação do preparo e do cultivo, pelo uso de sementes de ciclo mais longo. No Mato Grosso o atraso na estação das chuvas atrapalha o início do cultivo, além da concorrência por área do arroz com outras culturas, principalmente a soja. No Nordeste a semeadura deve acontecer a partir de novembro, principalmente, com grande preocupação referente ao clima. Alguns estados e municípios enfrentam problemas para a entrega de sementes aos produtores familiares.

MERCADO

O mercado brasileiro de arroz teve uma semana díspar entre o Sul do Brasil e o Centro-Oeste, mantendo a tendência de setembro e outubro. Enquanto os preços seguiram em queda no Sul, em razão de muitas indústrias estarem fora do mercado e dando mostras de que estão abastecidas para a entressafra, no Mato Grosso acentuou-se a alta em razão dos baixos estoques das beneficiadoras. Por essa razão, o Mato Grosso pede que o governo estadual reduza o impacto do ICMS sobre o produto e busca no governo federal apoio para um PEP que remova estoques excedentes do Rio Grande do Sul para abastecer a demanda do Centro-Oeste.

Embora a Conab já tenha divulgado que não pode interferir num mercado onde o preço ao produtor é muito superior ao mercado (R$ 40,00/60kg), o pedido do Mato Grosso faz sentido em razão da situação do Rio Grande do Sul. Ora, se a função dos estoques governistas é manter o abastecimento nacional em equilíbrio e garantir preços mínimos aos produtores, a remoção de aproximadamente 50 mil toneladas do Sul atenderia plenamente às duas regiões. Por um lado, asseguraria os estoques necessários para as indústrias mato-grossenses. Por outro, reduziria a pressão no mercado gaúcho. Essas 50 mil toneladas equivaleriam a cerca de 15% das exportações brasileiras de 2010/11. Um volume considerável na entressafra.

A falta de arroz no Mato Grosso está gerando um fenômeno interessante. Algumas indústrias do Centro-Oeste firmaram parceria com empresas e cooperativas gaúchas que operavam em ociosidade para beneficiar matéria prima sulista e atender aos mercados do Mato Grosso. A prática já foi reportada em pelo menos três empresas da Depressão Central gaúcha, mas ainda não o suficiente para mostrar um aquecimento nas cotações dessa região.

PREÇOS

A queda em outubro, segundo o Indicador do Arroz Cepea - Bolsa Brasileira de Mercadorias (BVM&F), alcançou 2,11% até a última sexta-feira (22/10), com cotação média de R$ 25,50 para a saca de arroz de 50 quilos (58x10) colocada na indústria gaúcha. Na segunda-feira passada (18/10), a saca de arroz deste padrão era cotada, em dólares, a US$ 15,51.

No mercado livre gaúcho as cotações médias ficam entre R$ 25,00 e R$ 26,00, dependendo da praça e das condições de entrega – colocado na indústria (a depósito) ou na porteira. O preço médio de R$ 25,50 é referência. No Litoral Norte, produto de qualidade superior (64% de inteiros) das variedades nobres é cotado entre R$ 29,00 e R$ 30,00. Mas, com venda muito trancada. Em São Borja, produto acima de 60% destas variedades alcança R$ 27,00 a R$ 28,00, pendendo para a cotação mais baixa.

Em Santa Catarina, as cotações médias ficam entre R$ 26,00 e R$ 27,00, com fluxo normal de comercialização. A indústria catarinense absover bem a produção local, principalmente para parboilização.

No Mato Grosso a oferta de produto na mão de orizicultor é rara. As indústrias, sofrendo com o desabastecimento, já sinalizam com até R$ 41,00 em Sinop pela saca de arroz de 60 quilos (55% acima), mas com baixa oferta. A solução tem sido buscar produto no Rio Grande do Sul e estados vizinhos (com oferta também muito restrita), em cotações que estão compensando. Algumas indústrias só arrendaram parte da linha de produção de cooperativas e empresas gaúchas e catarinenses, agregaram suas embalagens (ou dos clientes) e estão fazendo a ponte direta entre Rio Grande do Sul e seu cliente atacadista ou varejista.

BALANÇA COMERCIAL

A balança comercial do arroz fechou o sétimo mês do ano-safra ampliando seu déficit. Segundo dados do sistema ALICE, da Secex, analisados pelo consultor Carlos Cogo, as importações de arroz alcançaram 620.642 toneladas (base casca), de março a setembro de 2010. Segundo ele, esse volume é 15,2% maior do que a importação do mesmo período do ano passado. No mês de setembro, as importações recuaram para 91.009 toneladas (casca), contra 116.044 toneladas em agosto e 116.044 toneladas importadas em julho.

Ainda segundo Cogo, “nos sete primeiros meses do ano-safra, a média mensal de importações de arroz é de 88.663 toneladas (base casca). Essa média, projetada para todo o ano-safra 2009/2010, resultaria em importações de 1.063.958 toneladas. A projeção atual da Conab para as importações brasileiras de arroz é de 1,1 milhão de toneladas”.

À medida que o Brasil ampliou as importações, as exportações reduziram. Em setembro foram remetidas ao exterior 44.566 toneladas de arroz (base casca) uma queda de 27% perante as quase 61 mil toneladas vendidas ao exterior em agosto. Diferentemente de 2008 e 2009, quando as exportações foram marcadas pela presença maciça de arroz parboilizado, entre março e setembro de 2010 70,6% do cereal embarcado para o mercado internacional é formado por quebrados de arroz, contra 29,4% de branco, parboilizado e casca.

Isso faz com que o Brasil reduza, além dos volumes, também o ingresso de divisas com essa mercadoria, mas barata que o produto industrializado. No total, as exportações brasileiras atingem 340.127 toneladas de arroz (base casca), com média mensal de 48.590 toneladas (base casca). A queda é de 46,4% diante das 634.985 toneladas exportadas no mesmo período de 2009.

Projetando-se esta média, a expectativa seria do Brasil carregar ao exterior 583.076 toneladas (equivalente casca), resultado superior às expectativas iniciais do mercado, que ficava entre 300 mil e 400 mil toneladas. A Conab projeta 400 mil toneladas de arroz (base casca) exportados no ciclo 2010/11 (março/fevereiro), ou seja, até setembro 85% da projeção já teria sido realizada. Essa situação poderá ser alterada no próximo levantamento da Conab, em novembro, alterando o quadro de oferta e demanda brasileiro. Afinal, o volume de importações está se confirmando, mas a venda externa é maior que o previsto.

PREÇOS

A Corretora Mercado, de Porto Alegre, indica preços médios estáveis de R$ 25,50 para a saca de arroz de 50 quilos, em casca, no Rio Grande do Sul. A saca de arroz beneficiado em 60 quilos desvalorizou 50 centavos, cotada a 52,50 nesta segunda-feira (25-10). O farelo de arroz perdeu R$ 10,00 por tonelada no preço do mercado interno e é cotado agora a R$ 220,00 (CIF), enquanto a quirera é comercializada em estáveis R$ 22,00 (60kg). O canjicão segue valorizado em razão da demanda por quebrados brasileiros no mercado internacional, em R$ 30,00 (60kg/FOB Porto Alegre/RS).

TENDÊNCIAS

Uma intervenção do governo federal poderá determinar os rumos do mercado de arroz no Brasil nos próximos meses. Enquanto alguns analistas seguem muito pessimistas com relação a preços e acreditam numa estabilização na faixa dos R$ 25,00 a R$ 26,00, há exceções à regra. Élcio Bento, da Safras & Mercado, aponta alguns fatores que podem favorecer uma recuperação das cotações num futuro não tão distante assim: aumento da demanda por arroz gaúcho, puxada pelo Centro-Oeste e empresas do Sudeste acostumadas a compor o abastecimento com arroz do Mato Grosso, alta expressiva do arroz estadunidense, que abre espaço para o competitivo arroz do Mercosul a terceiros mercados com preços referenciais mais altos do que os que vinham sendo praticados na fronteira gaúcha.

Segundo o analista, com o preço de partida atual praticado no Uruguai para o arroz em casca, de US$ 290,00, e o dólar cotado a R$ 1,70, o arroz uruguaio seria internalizado na fronteira brasileira a R$ 27,24, contra uma média de R$ 25,55 dos preços internos. Ele afirma que diante deste cenário, haveria fôlego para o produto nacional recuperar parte das cotações. Principalmente se o governo federal entrar com os mecanismos reivindicados pelos produtores.

Elcio Bento acredita que o cenário externo já não é motivo para pressionar o mercado nacional para baixo. E considera que com o quadro de abastecimento apertado no âmbito doméstico, há uma possibilidade considerável do mercado engatar um viés de recuperação nas próximas semanas.

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