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Estratégia do governo impede o crescimento do biodiesel hoje

Para especialista, agricultura familiar deve ser complemento, não principal forma de produção


Apontado por especialistas como o futuro da produção de combustíveis, o biodiesel enfrenta um problema estratégico no Brasil hoje: a forma de produção.

Compromisso de campanha do primeiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a produção familiar dos componentes do biodiesel, em especial no Norte e Nordeste, foi incentivada pelo governo, com reduções que chegam a 100% de encargos como PIS/Pasep para quem comprar matéria-prima da agricultura familiar.

A lei brasileira determina que todo o óleo diesel consumido no país seja composto por uma mistura de 2% de biodiesel e 98% de diesel de petróleo até 2008, o que gera um mercado estimado em 800 milhões de litros anuais. Mas a produção familiar não alcança hoje os 50 milhões de litros.

“A opção pela agricultura familiar é importante, mas se limita a um complemento. Jamais vai atingir os números necessários para suprir o mercado nacional”, disse Carlos Freitas, engenheiro especialista na área.

Segundo o governo federal, para suprir a demanda, nos atuais moldes, será necessário que 1,5% da área agricultável do país seja dedicada a matérias-primas para o biodiesel, condição que parece difícil de ser preenchida pela agricultura familiar, que ocupa hoje apenas 0,25% do total das áreas. O governo pretende voltar a discutir o assunto.

Álcool é aposta da indústria

O domínio brasileiro da fabricação de álcool de cana-de-açúcar, ao contrário do biodiesel, aconteceu por uma aposta na escala industrial de cultivo para a formação de mercado.

No final dos anos 60 e começo dos 70, com o Pró-Álcool, o governo influenciou diretamente, por meio de subsídios, a produção e a distribuição de álcool em parceria com grandes proprietários que apostaram na monocultura de cana.

“O governo fez uma opção que deu ao país o domínio do processo de fabricação. Não é o único, mas não pode ser desprezado”, disse Carlos César Borges, do setor de logística da Secretaria de Agricultura paulista.

Piauí é exemplo negativo

No Piauí, cuja experiência de produção de mamona em assentamento foi a primeira do Brasil, há muitas queixas dos assentados, que para dar conta da produção e ter retorno financeiro, estão virando monoprodutores.

Em lugar de manter sua diversidade de produção, como idealizado pelo governo, eles estão produzindo apenas a mamona atualmente.

O rendimento médio mensal para os monocultores chega a R$ 3,5 mil. Já os policultores não conseguem mais que R$ 1,5 mil.

“Não temos muitas alternativas. Precisamos produzir e o único caminho é plantar apenas a mamona”, afirmou Cláudio Souza, um dos agricultores piauienses.

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