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Estudo aponta expansão de 13,8% da área plantada de soja


O crescimento da área plantada da soja sofreu uma explosão nos últimos três anos, com expansão média anual de 13,8% - quatro vezes mais do que a média de 3,6% dos dez anos anteriores. O dado consta de um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que conclui que um avanço tão rápido quanto este se deu, basicamente, em cima de "pastagens degradadas" e não de "áreas virgens". Para 2005, contudo, o cenário é de perda de rentabilidade e crise financeira, com as quedas da cotação da soja.

Gervásio Castro de Rezende, um dos autores do documento, explica que o texto preparado tem o objetivo de demonstrar que, ao contrário dos ataques dos ambientalistas, o rápido crescimento da soja no País não ocorre por causa do desmatamento do cerrado e da floresta amazônica. "Nosso trabalho desafia essa facilidade com que se falam as coisas no Brasil. É fácil demonizar a soja, mas três anos não seriam suficientes para todo esse protesto de desmatamento. Isso é ignorância", sustenta o pesquisador.

O veterinário Sardi Trevisol há 15 anos migrou do Rio Grande do Sul para Mato Grosso, empurrado pelo deslocamento de produtores rurais que se deu então. Faz parte de uma família de pequenos produtores de soja e milho. Hoje, é secretário de Agricultura do município de Sorriso, o maior produtor isolado de soja do País, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

"Não se abre uma lavoura de soja na mata de uma hora para outra. O crescimento que tem ocorrido nos últimos três anos na cultura de soja em nosso município tem se dado nas áreas de pastagens", diz o secretário, estimando o crescimento econômico de Sorriso em 12% ao ano nos últimos cinco anos.

O Instituto Socioambiental (Isa) está concluindo um estudo, com base na região de Mato Grosso, que mostrará que a soja faz estragos, sim. "Isso ocorre quando o preço da soja justifica e banca a conversão da floresta e o preparo do solo. Além de desmatar florestas, a soja empurra o gado para novas fronteiras", diz o advogado do Isa, André Lima. Ele explica que o ciclo que vai do desmatamento até o plantio, que levava cinco anos, já chega a ser realizado entre dois e um ano no Estado.

O pesquisador do Ipea cita dados do último Censo Agrícola feito pelo IBGE, referente a 1995/96, para mostrar que a área de lavoura da região Centro-Oeste é de 6 milhões de hectares, muito inferior aos 73 milhões hectares de área de pastagem. Os pecuaristas arrendam área para os agricultores que, segundo ele, já encontram solo preparado para o plantio. O avanço se dá basicamente na microrregião denominada "Nortão do Mato Grosso", alvo de intensas denúncias de organizações não-governamentais (ONGs).

"O Nortão e o Vale do Araguaia foram desmatados na década de 70, durante o regime militar. O governo queria ocupar a Amazônia e a pecuária cresceu às custas dos subsídios oficiais. No município de Querência, por exemplo, não havia até pouco tempo nenhum produtor de soja, eram só pecuaristas. Agora há uma espécie de simbiose entre lavoura e pecuária. Mas quando a soja chegou não havia mais vegetação nativa. Aquela região é uma área onde há muitos interesses e pouca pesquisa séria", declara Rezende.

Segundo o estudo, o crescimento do rebanho bovino da década de 1990 foi de 1,1% ao ano, taxa que nos últimos três anos praticamente quadruplicou, chegando a 4,3%. Castro de Rezende explica que o próprio avanço da pecuária exige a melhoria das pastagens, o que, em última análise, é possível com o plantio da soja. Na prática, o pecuarista arrenda a terra ao plantador, que prepara o terreno, paga o aluguel com sacas do produto e devolve a terra, três anos depois, numa condição melhor.

Mesmo a utilização das pastagens traz prejuízos, segundo avalia o Isa, já que o gado acaba deslocado para florestas. Lima explica que o estudo feito no Estado, "fronteira quente da soja", não é teórico, envolve pesquisa de campo e até sobrevôos. Resultados preliminares já foram apresentados ao ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, em dezembro.

Cotações baixas:

A não ser que haja quebra de safra no Brasil e Argentina ou a safra americana seja curta, "é provável que os preços da soja sejam baixos também em 2005, com conseqüente queda da rentabilidade agrícola e, possivelmente, uma crise financeira na agricultura brasileira, devido ao seu nível de endividamento contraído na fase anterior de preços favoráveis", registra o estudo feito por técnicos do Ipea e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).

O secretário Sardi Trevisol estima que o preço da soja continue em queda pelos próximos dois anos, trazendo crise para a região. "O preço da commodity caiu, mas dos insumos, não. Somos o maior produtor do País, mas também temos agora o maior custo de produção", disse, atribuindo às dificuldades logísticas o encarecimento da produção. Ele defende outra medida que motiva mais um confronto com ambientalistas: rasgar a Amazônia, do norte do Mato Grosso a Santarém, no Pará, com a estrada BR-163, para escoar a produção.

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