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Estudo diz que biocombustível de grama é mais vantajoso

Planta nativa gera ainda processo de produção com liberação de pouco carbono


Gramas e ervas que costumam cobrir os pastos das regiões temperadas do mundo são fontes com grande potencial energético e ambiental para produção de biocombustíveis, informa estudo publicado nesta sexta-feira (08-12) na revista "Science". Nas comparações feitas por um time de cientistas de Minnesota, nos Estados Unidos, um conjunto de 16 plantas nativas produziu uma quantidade de energia 238% maior que as culturas como soja e milho, em um período de 10 anos.

O estudo, liderado por David Tilman, ecólogo com experiência em pesquisas sobre sucessões ecológicas, mostra que no futuro, desde que várias questões técnicas sejam resolvidas, várias gramíneas poderão ajudar o ser humano a substituir o uso dos combustíveis fósseis, pelo menos em parte. As vantagens, nesse caso, além de energéticas, serão também de cunho ambiental.

Os pesquisadores americanos, primeiro, calcularam quanto o processo de produção de biocombustível, feito a partir de gramíneas, ervas e plantas do grupo das leguminosas, contribuiu para liberação de gases do efeito estufa. Depois, eles compararam os dados com os obtidos para a produção de biodiesel a partir da soja e também do etanol feito com a biomassa do milho.

O resultado dessa análise mostra claramente que o primeiro processo de produção é bem menos poluidor que o segundo. As plantas nativas, quando entram na cadeia, mostraram ser de 6 a 16 vezes menos nocivas que soja e milho.

Outra vantagem, segundo defende Tilman no artigo científico, é que as plantas nativas podem ser plantadas em regiões já degradadas, que estão em fase de regeneração. Isso faz com que esse tipo de cultura, além de ser útil para a produção de biocombustíveis, não entre em competição nem com as áreas usadas para a produção de alimentos e muito menos com áreas florestais, que devem ser cada vez mais preservadas por causa dos altos índices de biodiversidade.

Diferenças tropicais

Apesar de considerar o trabalho bastante interessante, e respeitar a produção intelectual do pesquisador norte-americano, Weber Amaral, diretor do Pólo Nacional de Biocombustíveis, que funciona dentro da Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz), na USP (Universidade de São Paulo), tem duas ressalvas importantes a fazer ao estudo estrangeiro.

"Os resultados são incontestáveis. O problema está na assimetria da comparação", disse à Folha o pesquisador brasileiro. Enquanto no caso das gramíneas não houve a necessidade de se fazer um cultivo em si, na soja e no milho, é sempre fundamental o produtor fazer um manejo da área de cultivo, lembra o pesquisador.

"O ciclo de longo prazo usado no trabalho não é muito compatível com a realidade da produção. Esse tipo de experimento, também, é válido apenas para as condições das regiões temperadas", disse Amaral. O pesquisador da Esalq afirma ainda que no Brasil os números seriam diferentes. "No nosso caso, se fosse feito uma comparação com a cana-de-açúcar, a diferença energética seria menor".

Segundo Amaral, acompanhamentos a longo prazo, como o feito pelos americanos, é algo que falta no país. "Temos que ter mais respostas técnicas para certas perguntas." Os cientistas da Universidade de Minnesota não têm dúvidas que as pastagens estudadas por ele formam o terceiro grande grupo, em termos de potencial, de produção dos biocombustíveis. Elas estão atrás dos grãos tradicionais, como soja e milho, e da biomassa descartada nos processos produtivos, como a palha do milho. Resta saber se alguém vai conseguir, nos próximos anos, colocar esse grupo em primeiro lugar dessa lista.

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