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Estudo prova divergência na metodologia das tradings

Há relatos de produtores que tiveram a carga tão desclassificada que eles entregaram tudo e ainda ficaram devendo outra carga à trading


Dentro dos parâmetros da Instrução Normativa nº 11/2007 (IN 11), do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), a empresa de consultoria “O Classsificador”, de Cuiabá, aponta divergência entre metodologias de classificação observadas durante um estudo realizado em 2007, a pedido da Aprosoja. Há relatos de produtores que tiveram a carga tão desclassificada que eles entregaram tudo e ainda ficaram devendo outra carga à trading.

A classificadora avalia defeitos que algumas empresas não consideram, como é o caso do defeito “picadas de percevejos” que pertence aos ‘danificados’. Outro fator é que as empresas adicionam os valores do defeito "fermentado", que de acordo com a IN 11 é considerado defeito leve, dentro do defeito "ardido", que é considerado defeito grave.

Além de sérios problemas apontados na operacionalização da classificação, o sócio-proprietário de “O Classificador” e engenheiro agronômo, Sinibaldo de Souza e Silva Júnior, aponta que há falta de treinamento e de atualização aos operadores, “o que faz aumentar o volume de descontos pela má interpretação das avarias. Cerca de 90% das empresas não realizam o processo de amostragem – para avaliação da carga – de forma condizente com o preconizado pelo Ministério. Sendo assim, esta imperícia só aumenta o volume dos defeitos e descontos”. Num exemplo simples, onde uma carga excede em 4% os padrões toleráveis de descontos de uma trading, o percentual pode tirar do produtor R$ 911, considerando a cotação atual à saca da soja (média de R$ 36 no Estado). “os cálculos são totalmente incorretos. A literatura relativa ao assunto faz outras recomendações”.

Como o valor máximo de quebrados pode chegar até 30%, muitas empresas deixam de avaliar esse parâmetro como forma de agilizar os trabalhos. Com exceção da umidade que ficou dentro da margem de erro de 5 pontos percentuais, houve diferenças significativas na classificação tanto para mais quanto para menos. Nos itens impurezas, ardidos e esverdeados, a classificação das tradings foi maior. Já nos itens avariados e quebrados ocorreu o inverso. “Esse fato só reforça o quanto é desuniforme a classificação no Estado”, acentua o estudo.

Outro problema observado na comercialização de soja se trata dos padrões de desconto para a soja que não se enquadra nas especificações estabelecidas pelos compradores. Caso a soja em grão entregue pelo produtor esteja fora dos limites de qualidade daquela empresa, são praticados descontos. Contudo, os cálculos adotados para se chegar ao volume que será descontado da carga total variam de acordo com a empresa ou região.

Na safra 07/08, um projeto realizado pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) coletou e analisou 1,05 mil romaneios emitidos por diversas tradings do Estado. Notou-se, neste estudo, diferenças significativas no cálculo de descontos entre diferentes empresas receptoras de soja, sendo que, em nenhum dos casos estudados, foi adotado o cálculo oficial proposto pelo Mapa.

Diferente do que ocorre com outros produtos agrícolas, como a pecuária, por exemplo, onde a valoração é diferente em cada produto entregue, pois o mesmo não irá ser misturado, na soja toda as cargas entregues dos produtores para as empresas serão misturadas.

“Uma vez constatado isso, acreditamos que os descontos nos grãos defeituosos não devam ocorrer em cada entrega dos produtores, mas sim em um valor ponderado em relação à quantidade total entregue ao final da safra de soja”, sublinha o estudo, arrematando: “A forma como é calculado hoje os descontos é um problema, pois dependendo da área de soja que é colhida, podem haver defeitos na soja localizados naquela área e assim a carga de soja entregue teria um desconto maior, não refletindo a realidade da produção total daquele produtor”. (MM)

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