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Estudo sugere como reduzir perdas no transporte da safra

Mais de R$ 2,5 bilhões ficam nas estradas do País a cada safra; redução do prejuízo exige modernização


A cena que se repete em todas as safras de grãos de cereais caindo das carrocerias dos caminhões durante o transporte, pode parecer inofensivo para muitos, mas representa um grande prejuízo na soma final da produção. O limite de perdas no transporte aceito pelo mercado atualmente é de 0,25%. Em um caminhão que transporta 30 toneladas de soja, por exemplo, a perda tolerada é de 75 quilos - mais de uma saca do produto. O transportador assume o prejuízo somente quando a perda ultrapassa esse percentual.

O exemplo ganha outra dimensão se comparado com a atual safra de soja no Brasil, aproximadamente 57 milhões de tolenadas, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas. Se a perda fosse uniforme em 0,25%, o País deixaria nas estradas 142,5 mil toneladas do produto apenas no transporte, ou quase 2,4 milhões de sacas de 60 quilos. Em termos de recursos, isto representa um prejuízo em torno de R$ 106 milhões, considerando a cotação do dia.

A boa notícia é que as perdas podem ser reduzidas em até 60%, dependendo da adoção de uma série de iniciativas no setor. A constatação é do administrador de empresas Pedro Antônio Semprebom, que realizou um trabalho de conclusão de curso a partir das estatísticas que levantou na empresa ATT - Armazenagem, Transporte e Transbordo, onde é gerente operacional há 25 anos. O trabalho intitulado "Perdas no Transporte Agrícola" foi apresentado no 14º Ciclo de Estudos de Política e Estratégia da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (Adesg), representação de Londrina.

A empresa, com sede em Londrina, trabalha com transporte e armazenagem de produtos agrícolas, chegando a exportar cerca de 20% de toda a soja brasileira em algumas safras. Semprebom identificou que as principais causas para as perdas no transporte são a idade avançada da frota, a má conservação dos caminhões e as péssimas condições de boa parte das rodovias brasileiras. Outros fatores apontados são a falta de qualificação de quem efetua o transporte e os furtos.

O pior, segundo ele, é que as perdas no transporte podem prejudicar o país também em termos de competividade no mercado internacional. ""Precisamos ter custos baixos para competir em condições de igualdade com outros países; toda vez que se fala em perdas, você deixa de ter remuneração daquilo que está se perdendo e traz para dentro do país aquilo que podemos chamar de custo Brasil"".

O administrador de empresas concluiu que as perdas no transporte podem ser reduzidas a partir das informações que levantou na própria ATT para sua pesquisa. Ele reuniu dados de vários produtos durante dez anos, mas para efeitos do estudo ficou apenas com a soja a granel e farelo de soja. O resultado foi surpreendente. "Temos uma base de dados confiável e representativa, que aponta para uma média de perdas de apenas 0,10%, o que é extremamente abaixo do que é aceito pelo mercado"". Semprebom admite que ""é impossível acabar com 100% das perdas".

Segundo ele, a iniciativa privada e o próprio governo devem despertar para a importância social que representa a redução das perdas no transporte agrícola. "Esse é um problema de âmbito nacional sim porque o Brasil tem milhões de pessoas passando fome e ao mesmo está desperdiçando esses produtos. Além disso, nós temos que nos preocupar em trazer receitas para o País e não perdê-las pelas estradas".

Solução depende do envolvimento de toda a cadeia

O ad­mi­nis­tra­dor de em­pre­sas Pe­dro An­tô­nio Sem­pre­bom apon­ta uma sé­rie de me­di­das que po­de­riam ser to­ma­das pa­ra re­du­zir as per­das no trans­por­te agrí­co­la e a pri­mei­ra de­las é a re­du­ção do ín­di­ce acei­to pe­lo mer­ca­do atual­men­te. ‘‘Acre­di­to que se co­me­ças­se com uma re­du­ção pa­ra 0,15% em um pri­mei­ro mo­men­to, já for­ça­ria o trans­por­ta­dor a to­mar ­mais cui­da­do com a ­carga’’. O pes­qui­sa­dor ci­ta que a per­da de 0,25% não é uni­for­me e po­de ser bem ­maior, de­pen­den­do da ida­de e da con­ser­va­ção do veí­cu­lo.

Por is­so, ele diz que há uma ne­ces­si­da­de ur­gen­te de mo­der­ni­za­ção no se­tor de trans­por­te. ‘‘Aci­ma de 20 ­anos, o veí­cu­lo co­me­ça a fi­car ca­ro por­que o pro­fis­sio­nal au­tô­no­mo, que de­pen­de da­qui­lo pa­ra so­bre­vi­ver, dei­xa de fa­zer al­gu­mas ma­nu­ten­ções pa­ra ter um lu­cro ­maior’’. Ele acres­cen­ta, in­clu­si­ve, que a ida­de da fro­ta já é ob­ser­va­da por al­gu­mas trans­por­ta­do­ras.

  Sem­pre­bom des­ta­ca ain­da que as per­das só po­de­rão ser mi­ni­mi­za­das se hou­ver um com­pro­me­ti­men­to de to­dos os en­vol­vi­dos na ca­deia pro­du­ti­va, in­clu­si­ve, com in­ves­ti­men­to em qua­li­fi­ca­ção pro­fis­sio­nal. ‘‘Tem gen­te que es­tá fa­zen­do a mes­ma coi­sa há 30, 40 ­anos e nun­ca mu­dou por­que nin­guém che­gou e dis­se que pre­ci­sa mu­dar. Por is­so, pa­ra es­sa pes­soa es­tá cer­to o que ela vem ­fazendo’’.

Ou­tra me­di­da ne­ces­sá­ria, su­ge­ri­da por Sem­pre­bom, é a re­cu­pe­ra­ção e ma­nu­ten­ção das ro­do­vias bra­si­lei­ras, em es­pe­cial na Re­gião Cen­tro-Oes­te do ­País. ‘‘Es­te é um agra­van­te mui­to sé­rio por­que há lo­cais em que os mo­to­ris­tas per­dem as car­gas ou até os veí­cu­los pe­la má con­ser­va­ção das es­tra­das. O go­ver­no tem que fa­zer a sua par­te por­que re­ce­be re­cur­sos de vá­rias fon­tes pa­ra cui­dar das ro­do­vias, mas tem ofe­re­ci­do mui­to pou­co na ­contrapartida’’.

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