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Etanol ameaça produção de açúcar

Analistas alertam para o risco de dependência mundial do açúcar do Brasil


A cana-de-açúcar produzida no Brasil está estimulando a produção de etanol no País e em outros países e elevando rapidamente a capacidade de refino no Oriente Médio e no Norte da África. "É como uma torneira que nunca é desliga", argumentou Alan Wood, diretor de gerenciamento da corretora internacional, com sede em Londres, Czarnikow Sugar. "Não há outro real fornecedor de açúcar", afirma Wood.

As vendas brasileiras respondem por 50% da comercialização global de açúcar. Outros grandes exportadores são Tailândia e Austrália, cujas vendas somadas correspondem a 18%.

O artigo destaca que, à medida que o mundo se torna altamente dependente do Brasil, permanece sempre a possibilidade de quebra da oferta, seja pelas mudanças climáticas ou pela demanda interna, que pode puxar uma alta dos preços. "A indústria brasileira poderia exercer influência semelhante ao estilo Opec", afirma o presidente da divisão para açúcar da Cargill Internacional, Jonathan Drake, referindo-se à organização que reúne os exportadores de petróleo.

A Organização Internacional de Açúcar (ISO, na sigla em inglês) estima a produção brasileira de demerara em 2006/07 em 32,4 milhões de t., dentro da produção global de 160,2 milhões de t., o que representaria um recorde mundial.

Atualmente, a indústria brasileira conta com um bom superávit, mas os analistas receiam que este nível pode se reduzir se a demanda interna aumentar. Entretanto, a consultoria F.O. Licht lembra que a queda dos preços do açúcar em 2007/08 poderá fazer o Brasil produzir mais álcool em detrimento do açúcar. Na projeção da ISO, a safra 2006/07 deve ter um superávit de 7,2 milhões de t., tendência que deve persistir na próxima safra, em parte por causa do Brasil.

Com o bom volume ofertado, os mercados futuros de Londres e Nova York seguem pressionados, depois das máximas atingidas no ano passado por conta da demanda para etanol. Ainda assim, o preço do açúcar segue firme e as iniciativas para produção etanol também. O relatório da ISO aponta um crescimento da demanda em torno de 2,15% ao ano. Isso porque as políticas de incentivo ao uso de biocombustíveis, tanto na Europa como nos EUA, impulsionam a demanda e o etanol permanece como uma fonte de energia alternativa.

Outro fator importante é a ampliação da capacidade de refino de açúcar nos países do norte da África e do Oriente Médio, que deverá sustentar a demanda por matéria-prima. Os países dessas regiões estão atraindo investimentos estrangeiros de grandes companhias, como a Cargill International, Tate & Lyle e ED&F Man, depois da reforma no programa de açúcar da União Européia (UE), que deve transformar o bloco em grande importador da commodity.

Até o momento, o Brasil mantém o mercado bem abastecido, mas os analistas alertam que as usinas precisam manter a cautela ao depender "do gigante agrícola". O economista Julio Borges, da consultoria JOB Economia observa, "exportar não é uma questão de sobrevivência, mas uma opção para a indústria brasileira de açúcar".

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