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EUA temem danos econômicos e ambientais do etanol

Milho é ineficiente para produção de combustível, dizem críticos


O etanol é, na visão do governo dos Estados Unidos, a melhor forma de o país cortar a sua dependência do petróleo, mas para diversos setores da sociedade americana ouvidos pela BBC Brasil, o combustível alternativo traz pesadas implicações ambientais e econômicas.

O etanol americano é obtido predominantemente a partir de milho. Nos últimos seis meses, o preço do cereal subiu em mais de US$4 por alqueire. Por conta do aumento, produtores rurais americanos enfrentam gastos cada vez maiores para alimentar seus rebanhos.

Recentemente, produtores de gado bovino e suíno e avícolas, além de fabricantes de leite e derivados, enviaram uma carta ao Departamento de Agricultura dos Estados Unidos exigindo um estudo econômico por parte do governo para encontrar formas de atenuar os gastos que eles estão sofrendo por conta dos aumentos.

No documento, os produtores afirmam que "muitos temem que não poderão manter suas operações diante de uma robusta e crescente economia baseada no etanol". O texto afirma ainda que a alta de preços poderá levá-los a não ter como arcar com os custos do milho que usam como ração animal.

Preços mais altos

Christopher Galen, vice-presidente sênior da Federação de Produtores de Leite dos Estados Unidos, diz que se a situação atual perdurar, "se tornará mais caro criar gado, suínos e aves, o que causará redução de rebanhos e um aumento de preços para o consumidor. Muitos produtores enfrentarão uma situação difícil".

Na semana passada, durante um evento sobre combustíveis alternativos, o presidente americano, George W. Bush, reconheceu que o aumento causado pelo etanol tem afetado os produtores rurais do país. Por esse motivo, afirmou que é preciso investir no etanol celulósico, obtido a partir de fontes como grama e madeira.

Mas o etanol também vem aumentando a área dedicada ao plantio de milho nos Estados Unidos e gerando mais e mais investimentos no cereal. Na visão de Lynn Laws, diretora do Conselho Ambiental do Iowa, isso representa um risco para seu estado, que é o maior produtor de etanol no país.

"O etanol não é uma solução para os nossos problemas energéticos. É um combustível fóssil e é produzido em usinas que usam gás e carvão", Lynn Laws, Conselho Ambiental do Iowa.

Ela afirma ainda que o cultivo de milho não é uma cultura constante, o que obriga a terra a ser arada e preenchida por fertilizantes com certa periodicidade, o que enche o solo de nutrientes poluentes. De acordo com Laws, o problema é tão grave que Des Moines, a capital do Estado, conta com a maior usina de remoção de nitrato em todo o mundo.

A ambientalista acredita também que "o etanol não é uma solução para os nossos problemas energéticos". Isso porque, "ainda que mais limpo, o etanol ainda é um combustível fóssil, de transição, que também propicia emissão de gases poluentes".

No entender de Laws, as possíveis vantagens ambientais do combustível também acabam sendo anuladas, uma vez que as usinas de produção de etanol nos Estados Unidos utilizam carvão e gás para produzir o combustível.

Cana x milho

Para Lester Brown, o presidente do Earth Policy Insitute, conceituado instituto de pesquisas de Washington de desenvolvimento sustentável, o modelo de produção de etanol brasileiro, retirado da cana de açúcar, é bem mais vantajoso do que o americano.

"É um sistema bem mais eficaz. O lucro energético gerado pela etanol de cana é quase oito vezes superior ao gerado pelo etanol de milho." De acordo com ele, a vantagem do modelo brasileiro é que o processo de fermentação é feito a partir do bagaço da cana. Ao passo que a fermentação do etanol de milho depende muito do gás, "o que torna necessário usar uma quantidade muito maior de energia".

Segundo Brown, "foi uma estratégia equivocada investir em milho". No entender dele, "além de incrivelmente ineficiente", o uso do cereal para a produção do combustível poderá, inclusive, afetar a produção mundial de alimentos.

Efeito mundial

"Metade da safra americana de milho em 2008 será usada para produzir etanol. Isso deve gerar um aumento ainda maior de preços e poderá causar protestos violentos em diversas partes do mundo", Lester Brown, Earth Policy Institute.

"O milho é usado primordialmente para a produção de alimentos. Os Estados Unidos produzem 700 milhões de toneladas por ano e 70% do milho exportado mundialmente vem dos Estados Unidos. Quando o preço do milho dobra de valor, isso afeta o mundo inteiro."

Como exemplo desse efeito à distância, o analista cita os recentes protestos que reuniram milhares nas ruas do México, casados pelo aumento de preços da "tortilla", uma espécie de pão produzido a partir de milho e que constitui a base alimentar de boa parte da população humilde do país.

"Metade da safra americana de milho em 2008 será usada para produzir etanol. Isso deve gerar um aumento ainda maior de preços e poderá causar protestos violentos em diversas partes do mundo", prevê Brown.

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