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Ex-ministro vê risco de ‘apagão’ do transporte da safra de grãos

Para produtores, safra boa expõe gargalos de logística do país


Problemas de infraestrutura encarecem produtos para os consumidores. Para produtores, safra boa expõe gargalos de logística do país

Em ano de preço alto, demanda mundial crescente e otimismo entre os produtores para a safra de soja – que, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) deve atingir quase 70 milhões de toneladas em 2011 – a falta de infraestrutura para transportar e armazenar os grãos que serão colhidos é apontada como a principal vilã do crescimento da produção entre ex-membros do governo e líderes produtores.

“Atualmente nós vamos ter sérios gargalos no escoamento desta safra. Estamos chegando a um risco de apagão do escoamento no país”, afirmou ao G1 o ex-ministro da Agricultura Reinhold Stephanes durante o Show Rural em Cascavel.

O G1 percorreu por dois dias algumas cidades produtoras do Paraná, estado que deve colher 14 milhões de toneladas de soja – e ouviu diagnóstico recorrente durante os primeiros passos da colheita: produtores terão que enfrentar filas, perder dinheiro e até estragar grãos na tentativa de secar, armazenar e transportar o produto colhido até seus compradores.

“Não há nenhum plano no Brasil de escoamento de safra (...) específico. Pensando bem, o que estamos produzindo hoje? O que vamos produzir amanhã? Como vamos levar isso às fontes de consumo? Não existe”, disse Stephanes, que criticou a precariedade de estradas e portos brasileiros como o de Paranaguá, em que muitos navios têm dificuldade para atracar porque os berços estão mais rasos que o normal por falta de obras de dragagem.

As críticas são reforçadas pelo ex-presidente do Banco Central Gustavo Loyola, que também esteve em Cascavel para o evento.

“O Brasil é muito dependente de uma infraestrutura rodoviária bem estrangulada, temos poucas alternativas ferroviárias, hidroviárias, realmente é bem complicado. Acho que o grande problema que nós temos na agricultura é de infraestrutura”, afirmou Loyola ao G1.

A reportagem percorre desde segunda-feira (8) alguns dos principais centros produtivos agrícolas do país para conferir o resultado da safra deste ano. A colheita já começa com atraso por causa dos dias chuvosos, mas, favorecida por condições climáticas melhores do que o previsto, promete trazer rentabilidade maior do que no ano passado para o setor.

A grande preocupação é que, com muito grão sendo colhido ao mesmo tempo, os agricultores percam prazos de entrega e tenham aumento de custo para conseguir fazer os produtos chegarem até seu destino.

Em Toledo, onde 75 mil hectares de soja foram plantados nesta safra, o produtor Nelson Paludo reclama das condições precárias de infraestrutura que, afirma, aumenta os custos da porteira para fora.

“Claro que de uma forma ou de outra as coisas vão acontecer. A safra vai ser escoada, as filas vão ficar no porto, você vai pagar mais custos dos navios que estão aguardando no porto para embarcar, vai ter mais custo transporte. Tudo isso bate na renda do produtor”, avalia Paludo, que diz que o mercado prevê ainda aumento no preço do frete. “Isso encarece os insumos e toda a cadeia produtiva.

Jaime Neitzke, que deve colher nos próximos dias uma área plantada de 80 hectares de soja em Campo Mourão, diz que o atraso no plantio do milho e a venda antecipada de produtores que preferem se proteger antes da colheita contra a oscilação dos preços, será um dos fatores que influenciará a insuficiência da estrutura de colheita.

“Atrasou o plantio do milho e plantamos soja precoce. As duas colheitas vão coincidir. Vou ter que alugar máquina para colher, mas pode faltar. Nunca aconteceu isso antes”, diz.

Paludo, de Toledo, concorda. "Eu acho que com certeza vai afunilar esse negócio uma hora, principalmente porque vai ter a colheita e ainda as vendas antecipadas para entrega em março no porto. E como o preço está bom, o que não foi vendido vai vender logo. Quando a safra é boa expõe os gargalos logísticos que nós temos", analisa.

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