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Exportações para a China podem inviabilizar plantio transgênico de soja


As exportações brasileiras de soja em grão atingiram 15,960 milhões ton no ano de 2002, cerca de 2% acima do ano anterior. As vendas brasileiras para a China foram de aproximadamente 4,142 milhões ton, com um crescimento de 30% em relação ao ano anterior. A participação da China na pauta da exportação brasileira da soja em grão subiu de 20% em 2001 para 25% em 2002.

Quase 60% das exportações brasileiras de soja em grão destinam-se a União Européia, mas a China é a maior compradora individual do Brasil e atualmente a maior referência de mercado para as exportações mundiais de soja.

Nesta safra 2002/03, estima-se que a China deva importar cerca de 14,5 milhões ton do grão, com um adicional de mais de 4,0 milhões ton em relação à safra anterior. Este país será responsável pela compra de quase 25% de todo o volume a ser exportado em todo o mundo, na sua grande parte pelos EUA, Brasil e Argentina. A China é, portanto, a grande sustentação atual da demanda mundial pela oleaginosa e conseqüentemente dos preços internacionais.

O maior fornecedor de soja para a China é os Estados Unidos. Na safra 2001/02, em torno de 40% das importações da China foram originárias dos EUA. Mesmo nesta safra 2002/03, quando as exportações americanas estão 6% abaixo da safra passada, o fluxo de vendas dos EUA para a China já cresceu em mais de 20% até o momento. A participação do mercado chinês nas vendas americanas subiu de 15% na safra passada para 24% nesta safra (até o dia 23/janeiro), praticamente com o mesmo nível de importância para o mercado brasileiro.

A queda das exportações americanas neste ano tem pressionado significativamente os mercados internacionais do milho e do trigo. Mas no caso da soja, mesmo com um decréscimo semelhante, as ótimas vendas para a China têm anulado quase que absolutamente o impacto negativo da queda das vendas americanas de soja para outras regiões (especialmente para a União Européia) sobre os preços internacionais.

A abertura significativa do mercado chinês é atualmente uma das variáveis mais importantes para a contínua recuperação dos preços internacionais da soja, os quais já subiram de US$ 4,34 para 5,61/bushel no período dos últimos 12 meses. Neste sentido, o mercado internacional também permanecerá no médio prazo muito sensível a qualquer notícia que porventura indique barreiras a importação de soja por parte da China, como no caso dos grãos geneticamente modificados.

Por enquanto, o Ministério da Agricultura da China aprovou temporariamente o modelo brasileiro de certificação da soja. Mas a proposta aceita é de uma certificação provisória válida até 20 de setembro deste ano, informando basicamente que a soja brasileira é livre de organismos geneticamente modificados (OGM). Neste certificado, o governo brasileiro admite ainda, que se no meio de algum carregamento de soja nacional para a China houver grão transgênico, este seria da variedade Roundup Ready, que não representa riscos à saúde ou ao meio ambiente, de acordo com o comunicado 54 da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio).

Após 20 de setembro, caso a justiça brasileira não tenha decidido se libera ou não o plantio de soja transgênica, o Ministério da Agricultura será obrigado a emitir certificado de soja livre de OGM nas exportações, baseado em Instrução Normativa 79 da Secretaria de Defesa Agropecuária, publicada no Diário Oficial da União de 31 de dezembro de 2002. Esta Instrução Normativa regulamenta a certificação de soja convencional e estará sob consulta pública até o final do mês de fevereiro. Isto significa, que caso continue o impasse entre o uso ou não de sementes transgênicas no Brasil, o produtor rural que mesmo assim utilizar estas sementes estará sob grande risco de ter a exportação de seu produto dificultada para o mercado chinês e conseqüentemente com menor liquidez de venda no mercado interno em relação ao grão convencional.

Caso o Brasil liberar o plantio de soja transgênica, o setor exportador nacional terá que aceitar as normas chinesas para importação de OGM, que inclui neste momento a inspeção do Ministério da Quarentena em cada embarque de soja que chega àquele país. Mas já é muito visível que os chineses têm preferência pela soja convencional e que as regras de importação de OGM podem mudar a qualquer momento e de forma repentina no país asiático.

Se de repente, o Governo chinês decidir não mais importar produto transgênico de qualquer natureza, boa parte da safra brasileira estará sob suspeita de contaminação, pois ao contrário dos EUA, não existe infra-estrutura de separação interna da soja transgênica e não transgênica, tanto nos armazéns quanto nos embarques para exportação.

A urgente regulamentação definitiva no Brasil para o plantio de OGMs é extremamente necessária para a manutenção da competitividade da soja nacional no mercado externo, especialmente no mercado chinês, atualmente o maior e mais promissor consumidor mundial. Qualquer erro de estratégia por parte do Governo brasileiro, do setor industrial/exportador e inclusive dos produtores rurais, certamente pode resultar em perda significativa de mercado para a soja dos Estados Unidos, o que provocaria um grande prejuízo à agricultura nacional.

Levando em consideração os fechamentos da Bolsa de Chicago para os contratos com vencimento em março e maio, a SoloBrazil projeta preços para os Estados do Paraná, São Paulo, Goiás e Mato Grosso, em média a US$ 9,75/sc, cerca de R$ 34,20/sc ao dólar atual. Neste mesmo período, os produtores de soja do PR poderão estar recebendo em média US$ 10,11/sc, SP (US$ 10,11/sc), GO (US$ 9,64/sc) e MT (US$ 9,16/sc).

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