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Exportador busca garantia na BM&F

Para o agricultor, a bolsa ainda permanece um "bicho de sete cabeças"


Depois de tomar calote, empresas aumentam as operações na bolsa para receber a mercadoria. Após o calote tomado na safra passada, quando produtores deixaram de honrar contratos de compra antecipada de soja, as indústrias e os exportadores decidiram aumentar suas operações na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F): o contrato futuro da bolsa garante o recebimento da mercadoria no vencimento do papel.

Somente em janeiro e fevereiro deste ano, foram negociados 7.985 contratos futuros de soja, volume maior que os 7.225 contratos negociados em todo o ano de 2004.

Parte da diferença deve-se ao fato de que, em agosto de 2004, a BM&F revisou o contrato da soja, que antes era de 100 toneladas e hoje é de 27 toneladas. Mesmo assim, quando se observa a média das operações, em 2004 foram negociadas 29,2 mil toneladas de soja por mês. Neste ano, a média mais do que triplicou, para 107,8 mil toneladas. "Decidimos fazer parte das nossas operações na BM&F porque a bolsa garante a performance do contrato, ou seja, ela garante que a soja será entregue", diz uma fonte da indústria. O setor foi cauteloso na concessão de crédito para o período 2004/05, por causa do calote tomado na safra passada. Em 2003/04, os agricultores deixaram de entregar o equivalente a R$ 1 bilhão em mercadoria.

Formação de preços

Brasil e Argentina aumentaram vertiginosamente a produção de soja nos últimos anos, ganhando, dessa forma, mais peso na formação de preços em Chicago. Somente no Brasil a produção dobrou de tamanho nos últimos oito anos e hoje é projetada em 54 milhões de toneladas. "O operador precisa de uma bolsa que reflita com mais fidelidade o que é o preço no Brasil, e não o que é o preço nos Estados Unidos", diz Félix Schouchana, diretor de mercados agrícolas da BM&F. "Operando diretamente no Brasil, o exportador e a indústria correm menos riscos financeiros do que se negociassem em Chicago", diz.

"Há alguns anos, a BM&F nem existia para mim. Hoje ela é uma alternativa interessante", diz um exportador, que já fez negócios de 5 mil toneladas na bolsa a título de "teste".

Para o agricultor, a bolsa ainda permanece um "bicho de sete cabeças". "Realizamos palestras por todo o interior do País. O agricultor sempre está interessado, mas resiste em participar, ainda que isso implique em riscos maiores na comercialização da safra", diz Luiz Miguel Costa Rocha, da SLW Corretora.

Sem arrependimento

O agricultor Rubens Silveira, de Passos (MG), começou a operar em 2003 e não se arrepende. "A segurança na comercialização é muito importante para mim. Afinal, tenho um custo fixo e preciso pagar todas as contas, mesmo que os preços caiam abaixo dos custos de produção", diz. O cafeicultor opera na bolsa somente para proteger sua safra, uma operação conhecida no jargão do mercado financeiro como "hedge".

Silveira costuma fazer hedge de até 30% de sua produção de café, milho, leite ou boi. No início do ano passado, ele comprou o contrato do boi a R$ 70 a arroba, com entrega para outubro. Quando o contrato venceu, a arroba era negociada no mercado físico a R$ 60. "Ganhei no mercado futuro, porém perdi no físico, onde os preços estavam melhores. O balanço final, no entanto, é que cobri meus custos de produção e garanti uma margem de lucratividade. E é isso que importa", afirma.

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