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Exportador quer revisão de acordo com a Rússia para frangos e suínos

Os exportadores querem evitar novas quedas nas vendas


Os exportadores brasileiros de suínos e frangos pediram para o Itamaraty renegociar o acordo de carnes com a Rússia em troca do apoio brasileiro à entrada de Moscou na Organização Mundial do Comércio (OMC). Os exportadores querem evitar novas quedas nas vendas.

Pedro de Camargo Neto, presidente da Abipecs, entidade que reúne exportadores de suínos, disse que quando o Brasil finalizou seu acordo com a Rússia, há mais de dois anos, confrontou-se com acordos já assinados por Moscou que privilegiavam EUA e UE. Assim, afirmou, o Brasil ficou em uma "posição de parceiro marginal".

Camargo quer que a Rússia administre seu comércio dentro das regras de nação mais favorecida, isto é, sem privilégios para este ou aquele país. "O que não tem sentido é ser penalizado por privilégios oferecidos ao EUA e UE". A demanda coincide com a decisão de Moscou, confirmada na quinta-feira em Genebra, de rever as cotas que ofereceu para as carnes suína e de frango de EUA e UE em seu mercado, pelo acordo para aderir à OMC. "Podem até importar menos, mas que seja nas mesmas bases para todos, sem privilégios", disse Camargo Neto.

Maxim Medvedkov, chefe do departamento de negociações comerciais do Ministério Russo de Desenvolvimento Econômico, disse ter informado aos EUA, à UE e a outros parceiros sobre a intenção de rever as concessões feitas. Ele negou que a decisão esteja ligada com as tensões causadas pela reação militar russa na Geórgia, que resultou no enfrentamento diplomático com Washington e Bruxelas.

O comércio de carne de aves tinha sido quase todo reservado por Moscou para os EUA e o de carne suína, para a UE. Para suínos, os russos dão hoje cota de 53,8 mil toneladas aos americanos com tarifa de 15%. Volumes acima do montante são taxados em mais de 40%. A UE tem comércio de frango que lhe rende ? 600 milhões. "O momento é politicamente propício para a renegociação do comércio de carnes, em geral, e de carne suína, em particular", avalia Camargo Neto. Ele estará na semana que vem em Moscou com Ivan Ramalho, do MDIC, e Inacio Kroetz, do Ministério da Agricultura, para discutir com os russos inclusive a demanda de renegociação.

Camargo nota que a Rússia é o principal destino da carne suína brasileira. Foi o primeiro grande país consumidor a se abrir, sendo o responsável pelo crescimento das vendas brasileiras. Só que a situação mudou com os acordos diferentes que o Brasil, EUA e UE fizeram com Moscou, em troca de seus apoios a entrada russa na OMC. O Brasil acabou aceitando acordo que prometia a manutenção dos volumes existentes. "Não foi o que ocorreu", disse.

Em 2003, a Rússia representava 64% das exportações brasileiras. Nos últimos anos reduziu sua participação para cerca de 43% do volume. Essa diferença foi compensada por diversificação de mercados não representou em queda de exportações pelo Brasil. Camargo constata que o mercado russo continuou aquecido em virtude do crescimento de renda da população, resultado da alta de preços de gás e petróleo. E, embora os russos se esforcem para aumentar a produção interna, o crescimento do consumo passou a ser atendido por importações da UE, EUA e Canadá, "em prejuízo ao Brasil".

Agora, o executivo vê chances de rever a situação. "Importantes alterações políticas resultado do enfrentamento militar na Geórgia alteraram o relacionamento da Rússia com os EUA e UE inclusive causando impacto no processo de acessão da Rússia na OMC", disse. Com a intenção russa de rever as cotas para EUA e UE, as associações de exportadores de suínos e de frangos do Brasil pediu para o Itamaraty agir rápido.

Quem primeiro misturou a situação na Geórgia e OMC foi a secretária de Estado americana Condoleezza Rice, quando afirmou que a atitude russa contra o país vizinho colocava em risco a entrada de Moscou na entidade. O primeiro-ministro Vladimir Putin minimizou as ameaças, dizendo que não via "nenhum beneficio" em se tornar membro da entidade comercial, e sinalizou que poderia rever concessões feitas.

Camargo Neto pede pressão do Itamaraty também para "corrigir a discriminação que continua sendo feita" com as fábricas no Estado de Santa Catarina que perderam sua habilitação para vender para a Rússia por causa de foco de aftosa em bovinos no Mato Grosso do Sul em 2005. Santa Catarina tem o maior status sanitária perante a OIE (Organização Internacional de Saúde Animal) e "esta discriminação foi realizada com objetivos comerciais para reduzir as exportações do Brasil".

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