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Exportar couro de maior valor agregado é meta do setor

China demanda pelo couro brasileiro em estado semi-bruto


Os mesmos chineses que inundam o Brasil de calçados, ocupando o espaço da indústria nacional, demandam pelo couro brasileiro em estado semi-bruto, o chamado wet blue (azul molhado), em detrimento do produto acabado. Para não perder território - como o mercado calçadista -, os curtumes do Rio Grande do Sul e de São Paulo, onde se concentra a produção interna, procuram beneficiar a mercadoria no próprio País e exportá-la com alto valor agregado, ou seja, pronta para a transformação em sapatos, bolsas e outros acessórios.


Essa busca tem dado resultado, considerando que a receita com as exportações do couro brasileiro subiu 17%, apesar de o volume exportado ter caído 2,2% nos últimos dois anos. Foram 26,7 milhões de peças embarcadas no ano passado, ante 27,3 milhões em 2010, com movimentação de US$ 2 bilhões e US$ 1,7 bilhão, respectivamente.

"As indústrias tentam exportar o couro com o maior valor agregado possível", afirmou o presidente-executivo da Associação das Indústrias de Curtume do Rio Grande do Sul (AICSul), Moacir Berger de Souza. "Mas os clientes pedem couro wet blue - só curtido", completou.

O couro "azul molhado" - azulado pelo cromo, que o torna imperecível - tem status de commodity e precisa passar por outras duas etapas de beneficiamento, antes de ficar pronto para qualquer tipo de manufatura. Alguns curtumes, como o A.P. Müller, em Portão (RS), investem no acabamento da matéria-prima e não trabalham com o couro wet blue.

"Já que não podemos competir com a China em larga escala, que possamos produzir no Brasil produtos de alto valor agregado", defende o diretor do Curtume, Cézar Müller, que registra uma produção de 45 mil m² de couro acabado por mês, algo em torno de 10 mil peças por mês. "A busca incessante do setor é por trabalhar em cima do alto valor agregado".

Trimestre em baixa

Um sinal de que a busca tem surtido efeito também pode ser encontrado na comparação entre os balanços trimestrais do segmento: entre janeiro e março do ano passado, os curtumes exportaram 7,1 milhões de peças de couro ao valor de US$ 493,8 milhões; nos três primeiros meses deste ano, a relação foi de 6,5 milhões de peças a US$ 464,3 milhões.


"Houve queda de 9% no volume. Mas a variação monetária é menor, de 6%, o que quer dizer que exportamos couro de maior valor agregado", observou Berger de Souza. "Quando aumenta a tonelagem das exportações, isso me preocupa, pois pode ser embarque de couro de menor valor agregado", afirmou. A peça de couro bruto pesa cerca de 25 quilos, enquanto a do couro acabado gira em torno de cinco quilos.

Vale registrar que os principais mercados do couro brasileiro estão, nesta ordem, a Ásia, os Estados Unidos e a Europa, na qual se destaca a Itália. Os chineses acabam por concorrer com os curtumes brasileiros ao comprar a matéria-prima do País e oferecê-la, depois de beneficiada, aos mesmos "clientes" do Brasil. "O comprador do wet blue é nosso concorrente", disse Müller.

Transformações

O presidente da Associação Brasileira dos Químicos e Técnicos da Indústria de Couro (ABQTIC), Etevaldo Zilli, aponta para novas demandas do segmento em relação ao meio ambiente - como na substituição, para a curtição do couro, do cromo por produtos naturais. "O couro curtido, seja de que tipo for, demora a se decompor. O objetivo é fazer com que o couro se decomponha, se recicle, de forma mais adequada", ele diz.

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