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EXPORTAR OU MORRER - OU - EXPORTAR E MORRER?


EXPORTAR OU MORRER OU EXPORTAR E MORRER?

Por Humberto Barbato 22/04/2003

Foi no inverno de 2001 como costumam falar os europeus e americanos, que o então presidente Fernando Henrique declarou em seu discurso por ocasião da posse do Embaixador Sergio Amaral no Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio Exterior que o momento era de “exportar ou morrer”.

Esta afirmação na época foi motivo de muitos comentários acerca da mudança estratégica do governo do então presidente, afinal quem acompanhou a implementação do Plano Real, e sua “âncora cambial”, percebia que a exportação não era exatamente a estratégia utilizada para captar divisas estrangeiras, até porque nos anos 90 a abundância de capitais externos assim o permitia.

Ouvimos na ocasião muitas críticas feitas por empresários, que não perderam a oportunidade para apontar os entraves burocráticos, como uma das principais razões de desestímulo às exportações.

Pois bem, a prioridade dada pelo ex-ministro que junto com o Itamaraty, sua casa originária, deu maior celeridade às negociações internacionais, as diferentes ações desenvolvidas pela Camex e pela Apex, associadas a imprevisível desvalorização de nossa moeda, terminou por consolidar os esforços para aumentarmos as exportações, e iniciarmos um ciclo virtuoso, o que tem permitido alcançarmos até agora um desempenho formidável em nossa Balança Comercial.

No âmbito político, passamos por uma transição invejável e exemplar aos países do “primeiro mundo”, acostumados a ver verdadeiras anarquias abaixo da linha do equador, quando se trata de transição de governos, principalmente quando estas são mais profundas, e efetivamente marcam uma mudança filosófica no que tange às prioridades, e principalmente quando a conhecida “elite dominante” é apeada do poder. O principal custo da transição sem dúvida esteve refletido no tão falado “risco país” e na cotação do real frente às moedas estrangeiras.

Escrevo estes comentários logo após a celebração dos cem primeiros dias de governo do Senhor Lula da Silva, ocasião que para comemorar esta efeméride, nosso popular presidente em cadeia de rádio e televisão demonstrou seu otimismo, e uma vez mais apareceu com um ar sorridente, habituê desde os tempos de sua vitoriosa campanha. Na ocasião Sua Excelência disse que o mundo voltou a acreditar no Brasil, que todos os indicadores econômicos são positivos, que o mercado financeiro se encontra altamente otimista, que estamos vencendo a guerra contra a inflação, que a apreciação do real é um destes indicadores, e aparentemente deixamos a zona de turbulências, enfim parece que estamos entrando em uma nova etapa da viagem, e doravante aparentemente, o céu será de brigadeiro.

Conversando com amigos em Brasília, ouvi de um deles que a síndrome da ilha da fantasia, iniciava um novo ciclo, como as gripes de fim de outono costumam fazer novas vítimas.

Concordando em grande parte com os pressupostos econômicos desenvolvidos pelo atual governo, quero salientar entretanto que alguns setores industriais encontram-se com níveis de ociosidade elevadíssimos, ao redor dos 50%. A exportação até o momento tem sido uma espécie de tábua de salvação para algumas tantas industrias manterem sua atividade, e a manutenção de empregos, todavia a instabilidade da taxa de câmbio é muito preocupante.

Nos últimos dias temos ouvido de diferentes autoridades que o câmbio é flutuante e portanto nada será feito pelo Banco Central no sentido de sinalizar o degrau em que deverá situar-se a taxa de câmbio. Não sendo economista, atrevo-me a dizer que se a taxa de juros é o maior dos componentes da gestão monetária, da mesma forma a taxa de câmbio deveria ser tratada. Porque os juros devem determinar o nível de atividade da economia, porque se determina a cada reunião do COPOM, um viés que sinaliza ao mercado financeiro claramente o que se espera, e o mercado de câmbio deve ficar sujeito aos humores dos especuladores internacionais, aqueles mesmos que terminaram por impingir a todos nós brasileiros uma taxa de inflação bastante significativa nos últimos meses, e que poderiam até ter influenciado no resultado das eleições se nosso povo não estivesse determinado a fazer mudanças mais profundas, se for cumprido é claro o que foi prometido.

Nossas autoridades econômicas, sabem muito bem que a taxa de câmbio é fator dos mais representativos para desenvolvimento de uma real política industrial, ou seja, aquela que os próprios agentes econômicos desenvolvem, como o estímulo que grandes empresas multinacionais com raízes antigas no Brasil praticam junto a seus fornecedores, a industria brasileira, visando à substituição de importações, políticas estas não ditadas pelo governo e que nada custam ao erário público.

Será que existe alguém neste pais que acredite que após a importante alta de preços dos insumos industrias como a Energia Elétrica, o GLP, os produtos siderúrgicos, o cobre, o zinco entre outros tantos, estes terão seus preços reduzidos face a apreciação do real? Portanto esta apreciação do real é danosa à industria e a economia nacional, e se não contida, ocasionará novamente desestímulo às exportações e a entrada de capital externo genuíno, gerado pelo setor produtivo e não virtual, não especulativo, como o capital descompromissado que chega pela manhã e a noite está na Ásia. Entendo que este capital de curta permanência, deveria receber tratamento adequado quando de sua entrada, de maneira a não influenciar de maneira deletéria nossos indicadores econômicos, face aos humores e a ganância de especuladores.

O atual governo tão comprometido com a geração de empregos e com a solução dos imensos problemas sociais que nos afetam, deveria tratar a entrada de capital de forma distinta, pois se nada for feito e com a liberdade cambial que vivemos, uma vez mais veremos esforços para conquista de mercados serem perdidos, e em breve estaremos substituindo a citada expressão do Prof. Fernando Henrique por “EXPORTAR E MORRER”.

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Dr.Humberto Barbato é...

Administrador de Empresas, com especialização em comércio exterior.

Foi assessor do Ministro do Trabalho no governo João Figueiredo, posteriormente foi Secretário de Orçamento e Finanças daquele Ministério até 1985.

Há 12 anos é Diretor Superintendente da Cerâmica Santa Terezinha S/A, empresa líder de mercado na fabricação de isoladores elétricos de porcelana e vidro temperado para linhas de transmissão e distribuição de energia elétrica.

Atualmente é Diretor de Relações Internacionais da Abinee - Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica.

Representa a Entidade na Coalizão Empresarial Brasileira coordenada pela CNI - Confederação Nacional da Industria.

Também é membro permanente do Conselho Temático de Integração Internacional da CNI, e membro do Fórum de Produtividade da Indústria Elétrica e Eletrônica, coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento, Industria e Comércio Exterior.

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