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Falta de acordos internacionais expõe política comercial defensiva do Brasil

Nos últimos dez anos o Brasil não fechou praticamente nenhum acordo comercial relevante


Nos últimos dez anos o Brasil não fechou praticamente nenhum acordo comercial relevante. Segundo o especialista em Agronegócio, Marcos Sawaya Jank, apenas três foram assinados durante o período. Um deles com Israel, o único verdadeiramente operacional. Para Jank, o Brasil deveria ter assinado acordos com a União Europeia, o acordo da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) e principalmente com países do Sudeste da Ásia: China e Índia, os grandes consumidores do futuro. “O Brasil sempre toma posições mais defensivas do que ofensivas em relação a acordos comerciais. Ele vê a China, por exemplo, como uma ameaça e não como oportunidade”, comenta o especialista. Jank foi palestrante do Painel Conjuntural da AveSui 2013, realizado hoje (14/05), em Florianópolis (SC).


O caso chinês é interessante. O Brasil é o maior exportador mundial de commodities, produtos que normalmente têm forte protecionismo tarifário e não tarifário, além de subsídios em muitos países. Atualmente, os chineses respondem por 20% das exportações do agronegócio brasileiro, com a perspectiva de chegar a 40% em pouco tempo. De toda a soja embarcada pelo Brasil, por exemplo, 40% já têm como destino o gigante oriental. No entanto, nenhum acordo comercial relevante foi fechado com os chineses visando uma maior abertura comercial, como para ampliação das exportações de carnes. “Um dos lugares mais importantes para o Brasil ter embaixada ativa hoje é na China”, ressalta o especialista.

Setores industriais normalmente pressionam o governo federal em relação à entrada de produtos chineses no Brasil. Isto dificulta os acordos. A questão é que o País é um grande exportador de commodities, os quais a China não tem e não terá devido a limitações de terra e água. O agronegócio é um setor de alta relevância para a economia brasileira. Uma abertura beneficiaria enormemente o País como um todo. “Quem acaba indo à Brasília são algumas indústrias que, dentro do total do País, representam pouco em termos de população e renda, mas sabem fazer muito barulho. Só que a grande maioria da população brasileira se beneficiaria de um mercado mais aberto”, reforça Jank.


O exemplo da China demonstra uma característica da política comercial externa do País nos últimos anos, que é marcado mais por bases ideológicas e afinidades políticas do que por pragmatismo econômico. Tanto que nos últimos anos o País abriu postos diplomáticos em cidades como Baku, Belmopã, Malabo, Castries e Uagadugu. Enquanto isto, no mundo, foram fechados acordos como a Aliança Transatlântica (Estados Unidos e Europa) ou mesmo a Parceria Transpacífica, que envolve parceiros comerciais da América do Norte e Sul, Ásia e Oceania. O Chile anunciou vários acordos, assim como o México. A Austrália possui acordos comerciais que dão a sua carne acesso aos mais diversos mercados, muitos dos quais o Brasil enfrenta resistência. “Os australianos são um exemplo para o Brasil. Se eles negociam acordos e o Brasil não, eles abrem mercado; e nós não”, conclui Jank.

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