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Falta sistema de alerta de temporal

Coordenadora da Estação Climatolótica da Universidade Estadual de Maringáa fala sobre os efeitos do aquecimento global na região


A Em função do fenômeno conhecido como La Niña, que causa o resfriamento das águas do oceano Pacífico, a coordenadora da Estação Climatolótica da Universidade Estadual de Maringá, Leonor Marcon Silveira, diz que meteorologistas previam, há alguns meses, que a região de Maringá enfrentaria estiagem no começo de 2011. As previsões a longo prazo, que segundo ela têm índice de acerto entre 60% e 65% deram errado.


Apenas nos seis primeiros dias deste mês, choveu mais do que a soma dos meses de fevereiro de 2004 e 2005. Foram 121 milímetros do dia 1ª ao dia 6, 54 milímetros de c huva a mais do que esperava a estação da UEM para todo o mês. O temporal do início da semana, explica Leonor, foi causado pelo encontro de uma frente fria com uma massa de umidade vinda da floresta amazônica.

A notícia ruim é que, ao contrário dos países ricos e desenvolvidos, nem Maringá nem cidade alguma no Brasil possui sistema de alerta contra temporais. Faltam equipamentos de última geração. Há apenas, diz a coordenadora da estação, o alerta contra geadas.

Na entrevista, Leonor fala também sobre os efeitos do aquecimento global na região de Maringá, do risco que o agricultor corre ao planejar o plantio com base na previsão do tempo e do trabalho realizado pela Estação Climatológica da UEM, que é uma das 400 estações espalhadas pelo Brasil.

"Em Maringá e em todo o Brasil, a Defesa Civil faz o que pode, mas não há um serviço de alerta nem equipamentos sofisticados como nos países desenvolvidos’’.

"Nos últimos cem anos a temperatura mundial aumentou 0,76°C. Se continuar aumentando desse jeito, estima-se que daqui cem anos vamos poder cultivar café em Curitiba’’.

O Diário - A Estação Climatológica da UEM informou que, de 1º a 6 de fevereiro, choveu 121 milímetros em Maringá. O volume registrado em uma semana já é maior do que a soma dos meses de fevereiro de 2004 e de 2005. Isso era esperado?

Leonor Silveira - A média que fizemos para fevereiro deste ano é de 175 milímetros de chuva, isso tendo por base 25 anos de observação da Estação Climatológica da UEM. Choveu bastante no início deste mês, mas como a distribuição das chuvas não é regular nessa época do ano, pode ocorrer de chover demais nas primeiras semanas e não chover no final do mês.

O Diário - Havia alguma previsão para chuvas fortes nessa época do ano, como essas que causaram alagamentos em Maringá?

Leonor Silveira - Tem meteorologistas que afirmam ser possível fazer a previsão do tempo com meses de antecedência, dizendo o quanto vai chover. Isso é teatro, não dá para saber. É possível prever chuvas fortes ou um temporal no curto prazo, em função da variação da pressão atmosférica. Se estiver baixa, é maior a chance de temporais.

O Diário - Qual a explicação dos especialistas em clima para essa enxurrada em Maringá, no início da semana, e para situações mais graves como as tempestades no Rio de Janeiro?

Leonor Silveira - As cartas meteorológicas revelam que uma frente fria se encontrou, nessa região [entre Sul e Sudeste] com a umidade vinda da amazônia. Foi isso fez com que chovesse mais esta semana em Maringá. Naquele momento da chuvarada do Rio de Janeiro, o problema foi que o campo de baixa pressão do Atlântico Sul se encontrava próximo do litoral no encontro da frente fria com a umidade vinda da amazônia.

O Diário - Essas alterações climáticas tem alguma relação com o fenômeno La Niña (resfriamento das águas do Oceano Pacífico)?

Leonor Silveira - Não temos tanta certeza. Em função da La Niña, os meteorologistas estavam prevendo o contrário. Diziam que teríamos um período de estiagem mais intenso no início deste ano, enquanto o normal é ter chuva de dezembro a fevereiro. A previsão de que o verão seria anormal, mais quente, deu errada, isso porque a margem de acerto desses prognósticos fica em torno de 60% a 65% aqui no Brasil.


O Diário - Com uma margem de acerto dessas, longe de ser precisa, é prudente o agricultor planejar o plantio com base nas previsões do tempo?

Leonor Silveira - Sempre digo que o Instituto Agronômico do Paraná é quem mais ajuda os agricultores. O instituto conta com boa equipe de profissionais, que conhecem e trabalham com o ritmo climático da região. Por isso, sabemos que dezembro, janeiro e fevereiro são meses de muita chuva aqui na região. As exceções, chamadas de arritmias, podem ocorrer.

O Diário - Dá pra prever se teremos em 2011 um ano mais chuvoso do que a média histórica?

Leonor Silveira - Não. O máximo do prognóstico, baseado na temperatura dos oceanos, é de três meses. A previsão dos meteorologistas é que a chuva vai ficar um pouco abaixo da média, mas tenho minhas dúvidas.

O Diário - É possível traçar alterações significativas no clima de Maringá e região ao longo dos anos?

Leonor Silveira
- Precisaria um estudo mais aprofundado, mas climatologistas vêm percebendo que nos últimos anos as temperaturas máximas continuam as mesmas, mas as mínimas estão mais altas. Não estamos tendo mais geadas como antigamente. Mesmo assim, não arriscaria que vai parar de gear em Maringá no futuro. Eu nasci na roça e vi meu pai arrancar os cabelos por causa de geada, então prefiro ter cautela. A natureza é dinâmica e às vezes o clima dá suas guinadas.

O Diário - Fala-se muito do aquecimento global. Maringá já sente os efeitos do aumento da temperatura?

Leonor Silveira - Não houve grande mudança, mas o ambiente climático daqui já está alterado. Esse aumento do calor, gerado pelas grandes cidades, potencializa a formação de nuvens de temporais. Isso explica os frequentes temporais em São Paulo. Quanto ao aquecimento global, foi feito um cálculo de que nos últimos cem anos a temperatura mundial aumentou 0,76°C. Se continuar aumentando desse jeito, estima-se que daqui cem anos vamos poder cultivar café em Curitiba.

O Diário - A senhora falou em temporais. Existe algum tipo de alerta de temporais em Maringá?

Leonor Silveira - Estava vendo uma reportagem sobre a inundação na Austrália. Ao contrário daqui, lá não morreu ninguém, isso porque existe um alerta eficiente de tempestades, com a população treinada para isso. Em Maringá e em todo o Brasil, a Defesa Civil faz o que pode, mas não há um serviço de alerta nem equipamentos sofisticados como nos países desenvolvidos. No Paraná existe apenas um serviço de alerta para geada, mas não para alerta de temporais.

O Diário - A Estação Climatológica da UEM é uma das 400 espalhadas pelo Brasil. Elas conversam entre si? Com que frequência são gerados relatórios?

Leonor Silveira - Todas as estações do Instituto Nacional de Meteorologista (Inmet) estão ligadas. Enviamos três vezes por dia informações para Porto Alegre, que é uma das dez sedes regionais no País. Lá existem supercomputadores que coletam os dados, geram a previsão do tempo para a região e dão o feedback para as estações, além de enviar os dados para Brasília. E não para por aí. Os dados da capital federal vão para Washington, nos Estados Unidos, que tem uma das três centrais internacionais. As outras duas ficam em Melbourne, na Austrália, e em Moscou, na Rússia.

O Diário - A UEM disponibiliza ao público essa previsão do tempo que retorna de Porto Alegre?

Leonor Silveira - Discutimos isso antes das férias. Hoje, divulgamos a previsão do tempo, verbalmente, apenas na rádio universitária. A intenção é divulgar também na TV e no site da UEM nos próximos meses. Mas é possível conferir o tempo em Maringá no site do Inmet, clicando em rede de estações e escolhendo a cidade. O relatório do dia fica arquivado no site por até três meses.

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