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Família gaúcha dá exemplo ao abandonar cultivo do tabaco

Após prejúizos com a cultura, os investimentos foram replanejados


Sete anos cultivando tabaco trouxeram prejuízos para as finanças e para a saúde da família da agricultora Oracelia Vieira Delfino, do assentamento Fazenda do Sobrado, em Pinhal Grande (RS). Na safra do ano passado, cerca de 20 dias antes da colheita, o granizo destruiu a lavoura de 60 mil pés. Sobraram cerca de 3 mil, e as dívidas no banco. "Perdemos o investimento e tivemos que vender boi", conta Oracelia.


Foi a gota d'água. "Já era o terceiro ano de prejuízo. E o filho voltava tonto da lavoura, por causa do veneno". A família decidiu abandonar a cultura, principal fonte de renda no ano. A alternativa? "Voltamos para as feiras. Estamos plantando melancia, mandioca, batatas, repolho, tomate, pepino...". Ela lembra que foi assim, há 17 anos, quando foram assentados, que a família começou a trabalhar no lote.

Naquela época, a família não tinha transporte e levava a produção de ônibus até Júlio de Castilhos, a cerca de 40 km do assentamento. O esforço garantiu a criação dos cinco filhos - atualmente, apenas dois residem com o casal, um de 16 e outro de 8 anos. A filha é assentada em Itacurubi e outros dois estão no Mato Grosso, trabalhando com lavoura - um deles é técnico agrícola.

Expectativas


Hoje, a questão do transporte está facilitada: a família tem um veículo. Das primeiras vezes que voltaram a vender em Júlio de Castilhos, comercializaram tudo. A renda não é a mesma que a da lavoura de fumo. "Mas é mais permanente e a gente sempre volta com um dinheirinho". Além disto, a família não está usando mais agrotóxicos na produção.


A opção pelas hortaliças, tubérculos e frutos é acertada, de acordo com o técnico da Emater/RS Rodinei Carvalho dos Santos. "A área é propícia para a olericultura. O solo é arenoso". A família também quer ampliar o pomar de pessegueiros e laranjas. "Sugerimos bergamotas (tangerina) e variedades que pegam fora de época e que não sejam perecíveis", complementa Rodinei, que presta assistência técnica ao assentamento através de contrato com o Incra/RS.

A vontade agora é voltar a criar frango e investir em uma estufa e em um trator. Mas há dificuldades, pois a família ainda tem dívidas e, com a saída dos filhos, a mão de obra está reduzida. Isto não assusta Oracelia. Natural de Ijuí, ela trabalhou desde pequena como empregada doméstica. Quando conheceu o marido, João Jorge Ramos Delfino, filho de assentados, decidiram acampar para conquistar um pedaço de terra. "Não estranhei a vida no campo, porque sempre trabalhei muito", lembra. "A vida aqui é boa, a terra é boa. A gente pede por Deus para que dê saúde. O resto é trabalho”.

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