Os maiores fabricantes de máquinas e implementos agrícolas do país, presentes na Agrishow Cerrado 2003, exposição realizada na última semana em Rondonópolis (MT), acreditam que com o fim da guerra no Iraque as vendas internas e externas de tratores e colheitadeiras vão crescer. "A história mostra que, após as guerras, cresce a demanda por alimentos e máquinas agrícolas", afirma Martin Mundstock, diretor comercial da John Deere para a América do Sul. O presidente da companhia para a América do Sul, o norte-americano Jim Martinez, aposta não somente no aumento das vendas internas de máquinas, para a produção de commodities agrícolas destinadas ao mercado externo, como também na exportação de tratores e colheitadeiras, inclusive para países na região do conflito, até mesmo para o próprio Iraque.
A John Deere do Brasil, que responde por dois terços das exportações de tratores e colheitadeiras do país, faturou US$ 300 milhões no ano passado, 20% mais do que em 2001; as exportações representaram 24% da receita. O objetivo da empresa, com fábrica em Horizontina (RS), é pelo menos manter as vendas neste ano e, a médio prazo, elevar para 40% a participação das vendas externas sobre a receita.
Faturamento maior
"O mundo não vai deixar de comer nem de produzir por causa da guerra", afirma Carlito Eckert, diretor nacional de vendas da Agco, que produz máquinas com 20 marcas em todo o mundo, entre elas a Massey Fergunson. A companhia, com fábrica em Canoas (RS), faturou no Brasil em 2002 o equivalente a US$ 350 milhões, dos quais 30% em exportações. O faturamento deve saltar para US$ 500 milhões neste ano em razão do aumento das vendas externas, que passarão a responder por 40% da receita da companhia.
"O Brasil tem neutralidade cultural que ajudará na abertura de novos mercados", diz Othon D’Eça Cals de Abreu, presidente da Kepler Weber, fabricante de sistemas de armazenagem e conservação de grãos. A empresa acaba de perder um negócio no Iraque, devido à guerra.
Nova fábrica
"Mas muitos novos negócios deverão aparecer no momento de paz", acrescenta. A Kepler Weber, que investe R$ 85 milhões na construção de uma moderna fábrica em Campo Grande (MS), faturou em 2002 R$ 256 milhões. Neste ano, espera crescer 20%, com contribuição do mercado externo, que historicamente representa entre 15% e 20% do faturamento.
Para Valentino Rizzioli, presidente da CNH para a América Latina, "a tendência, em momentos de guerra, é de as pessoas comprarem mais alimentos para estocar em casa". O executivo italiano, que comanda as operações da Case, New Holland e Fiat Allis na América Latina, com receita de R$ 2,5 bilhões em 2002, acha que a recuperação do Iraque exigirá o aumento da produção de alimentos e, conseqüentemente, de máquinas e implementos agrícolas.
No primeiro trimestre, as vendas domésticas de tratores e colheitadeiras caíram 10% devido ao esgotamento, em janeiro, dos recursos do Moderfrota - programa de financiamento para a compra de máquinas agrícolas. Com a retomada do programa, anunciada no mês de março, executivos do setor acreditam que, até o final do ano, o mercado supere o resultado de 2002, quando foram vendidos internamente 33,2 mil tratores e 5,6 mil colheitadeiras.
No primeiro trimestre, apesar da redução das vendas, a produção de tratores subiu 13% (para 8,1 mil unidades) e a de colheitadeiras, 3% (para 2 mil unidades). O aumento da produção justifica-se pelo grande salto das exportações no período, de 53,6%, para US$ 227,1 milhões.