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Frigoríficos podem ser boicotados ao comprar carne de desmatadores


A cultura da soja, apontada como uma das principais culpadas pela destruição da Amazônia, recebeu duas avaliações de "boa conduta" na reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em Manaus. "Não há evidências de que a soja esteja influenciando um aumento do desmatamento", disse 6ª feira (17) o diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Gilberto Câmara - confirmando colocação do dia anterior feita pelo ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc.

"A soja deixou de ser fator relevante no desmatamento da Amazônia", disse Minc. A principal razão, segundo ele, é o pacto feito entre a indústria e organizações não-governamentais para que empresas do setor não comprem mais soja produzida em áreas recentemente desmatadas - a Moratória da Soja, que funciona desde 2006. "O que está mais fora de controle agora é a pecuária", completou Minc.

O Ministério, segundo ele, tentou fechar um acordo semelhante com a indústria de carne, sem sucesso. "O frigorífico não desmata, mas compra carne dos fazendeiros que desmatam", criticou. "Eles vão ter de entrar na linha ou vão se lascar", completou Minc, dizendo que a carne brasileira poderá enfrentar rejeição no mercado internacional por causa disso. Dados do Inpe mostram que o desmatamento está em queda em Mato Grosso, principal produtor de soja. Segundo Câmara, isso deve-se à combinação da moratória e de esforços de controle das autoridades.

Ao contrário de Minc, Câmara disse que não é possível afirmar que 2009 será o ano de "menor desmatamento nos últimos 20 anos na Amazônia". Isso porque nuvens têm mantido a maior parte da região "invisível" para os satélites do Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter). "Até agora, o Deter só viu Mato Grosso", disse. "Não conseguimos ver nada no Pará, que é onde está o maior dilema." Mato Grosso, segundo ele, tem fronteira agrícola consolidada, enquanto no Pará há tendência de expansão. A conta de que 20% das emissões de CO2 do mundo vêm do desmatamento "não tem base científica", disse.

Segundo Câmara, o cálculo foi feito no âmbito do quarto relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), quando as taxas de desmatamento no mundo eram bem mais elevadas e as estimativas sobre carbono e biomassa florestal, superestimadas. Ele calcula que a contribuição do desmatamento para as emissões não passe de 10% - dos quais metade viria do desflorestamento na Amazônia.(AE)

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