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Fusão entre Marfrig e Bertin já deixa pecuaristas apreensivos


Priscila Machado

SÃO PAULO - O anúncio da aguardada fusão entre Marfrig e Bertin poderá ocorrer ainda hoje. Segundo funcionários da empresa, as negociações estariam em fase final e as investigações iniciadas pelo Ministério Público Federal (MPF) nos últimos dias teriam acelerado o processo. Também estaria sendo preparado pelo Bertin um pronunciamento oficial a respeito das acusações de um caso de aquisição de animais criados em áreas de desmatamento da Amazônia. A empresa deve ainda prestar contas sobre a rescisão do contrato com o Banco Mundial, na qual deixou de receber uma parcela de US$ 30 milhões e terá de devolver outros US$ 60 milhões de um empréstimo firmado em 2007.


O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) pode participar da operação com cerca de R$ 3 bilhões. O BNDESPar, holding criada para administrar as participações do Banco em empresas, já tem uma fatia de 26,9% do capital do Bertin e de 14,66% do Marfrig.

Se para a agroindústria brasileira a união das operações das duas empresas pouparia o Bertin de enfrentar uma grave crise financeira e faria nascer uma companhia com faturamento bruto anual de R$ 14 bilhões, para o pecuarista a notícia remete a cautela e temor. Nos corredores da Feira Internacional da Cadeia Produtiva de Carne (Feicorte), criadores de médio e grande porte acreditam que a fusão deverá dificultar a já controlada negociação sobre os preços. Muitos não quiseram se identificar ao comentar a união das empresas, já temendo sofrer algum tipo de restrição futura. "A JBS [Friboi] já nada de braçada. Agora, se tivermos só mais uma opção, como vai ficar o mercado?", indagou um pecuarista cuja propriedade está localizada no Estado de Goiás.

Para muitos a notícia da fusão é vista com maior preocupação que a "Operação Abate", ação conjunta do MPF e da Polícia Federal que já culminou com a prisão de pessoas ligadas à pecuária.

Para Luiz Carlos Castelo, pecuarista do Mato Grosso, o criador vive hoje um clima de insegurança total e sente dificuldade de fazer parcerias com frigoríficos. Credor do Frigorífico Independência e com poucas opções para diversificar a comercialização, vendendo inclusive a prazo, Castelo é um retrato da situação de muitos produtores brasileiros. "Antes havia mais de sete frigoríficos que podiam abater na região. Hoje vendo apenas para dois: o Frialto e o Friboi", disse.

Daniel Carvalho, zootecnista da Agropecuária Jacarezinho, mostra cautela ao avaliar a fusão. A Jacarezinho faz parte da Conexão Delta G., que é fornecedora do Bertin e faz parte da carteira de clientes especiais da empresa. Segundo Carvalho, a expectativa da fusão e as investigações sobre o Bertin não devem inibir a renovação da parceria neste ano. Para ele, a crise deve reforçar o processo de fidelização entre e empresa e fornecedor. No caso da parceria com o Bertin, a empresa consegue uma bonificação nos preços em troca da entrega de um produto diferenciado, com garantia de escala e volume. "A imagem desses frigoríficos é pejorativa, mas isso é pontual", avalia.


Procurando dar mais transparência ao seu trabalho, o Bertin passará a disponibilizar, a partir de 22 de junho, seu sistema de rastreabilidade de produtos para todos os clientes, permitindo o controle de procedência das carnes adquiridas. Segundo a empresa, esse sistema de checagem já faz parte do "Procedimento de Compra de Gado da Bertin", que considera critérios socioambientais dos fornecedores. Diariamente, essas listagens são checadas pela companhia, que exclui entre seus fornecedores aquelas que figurarem na "lista suja", como é conhecida a lista do Ministério do Trabalho que aponta fazendas que têm práticas semelhantes à escravidão, ou da lista de áreas embargadas pelo Ibama. Até o momento, a empresa já deixou de comprar de 165 fornecedores que estão nessas listas.

"Disponibilizar o nosso sistema de controle de rastreabilidade de produtos foi uma forma encontrada para compartilhar com nossos clientes e também com os cidadãos o nosso compromisso de administrar a companhia de forma integrada, com a responsabilidade social e ambiental", declara Simone Soares, diretora de Comunicação e Sustentabilidade da Bertin. A executiva explica que essa é uma das diversas ações que e empresa planeja adotar em sua agenda para promover a prática da pecuária sustentável.

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