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Gargalo não está no campo, mas na pesquisa, diz indústria

A soja transgênica vai ocupar 80% da área nacional destinada à cultura na safra 2010/11


Líder absoluta nos campos brasileiros, a soja transgênica vai ocupar 80% da área nacional destinada à cultura na safra 2010/11. A estimativa é da Monsanto, multinacional norte-americana detentora da tecnologia Roundup Ready (RR), a única oleaginosa geneticamente modificada disponível atualmente no mercado nacional. A projeção considera dados de produção e comercialização de sementes da empresa no país.

Se as contas da Monsanto estiverem certas, quase 55 milhões das 68 milhões de toneladas que, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), devem ser colhidas no Brasil no ciclo 2010/11 serão de soja transgênica. Na safra passada, ainda segundo os cálculos da multinacional, as sementes GM cobriram 73% dos 23,5 milhões de hectares que foram cultivados com a oleaginosa no país, o equivalente a pouco mais de 50 milhões de toneladas.

“Como no Rio Grande do Sul, quase 100% dos produtores já usam a tecnologia, a expansão deve ocorrer no cerrado”, detalha o diretor comercial da empresa, Antonio Smith, lembrando que nos Estados Unidos os transgênicos correspondem a 90% da produção da oleaginosa e na Argentina o porcentual é de quase 100%.

“A biotecnologia é um caminho sem volta. Na soja e, ainda mais rapidamente, no milho. Daqui a alguns anos, só haverá lavouras transgênicas”, prevê o presidente da Coamo, José Aroldo Gallassini. Ele lembra que a soja GM levou cerca de cinco anos para alcançar cobertura de 70%, índice atingido pelo milho transgênico em apenas três anos. “Se você falar para o produtor: ‘Olha, te pago um prêmio de R$ 10 por saca pela soja convencional’. Acho quem nem assim ele plantaria”, diz. O gargalo, afirma o diretor operacional da Imcopa, José Enrique Marti Traver, não está no campo ou no mercado, mas na pesquisa. Para ele, a aposta massiva dos produtores brasileiros na transgeníase acontece porque investe-se mais na pesquisa e desenvolvimento de variedades geneticamente modificadas do que em sementes convencionais.

Gallassini endossa a avaliação de Traver. Segundo o dirigente da Coamo, foram lançadas neste ano oito novas variedades de soja transgênica, mas apenas uma convencional. No ano passado, essa relação foi de 12 para 2. Segundo ele, além de mais numerosas, as sementes GM seriam mais produtivas. Para lançar uma nova variedade de soja geneticamente modificada as empresas precisam primeiro desenvolver a tecnologia usando grãos convencionais, explica Traver. “Mas essas sementes muitas vezes nem chegam ao mercado porque as empresas não têm interesse em comercializar o produto convencional”, diz.

O problema, afirma, é que a legislação brasileira não estimula o desenvolvimento de novas variedades não-transgênicas. A Lei de Proteção de Cultivares (LPC), que regula o mercado de sementes convencionais, protege os direitos intelectuais de criação, mas não prevê a cobrança de royalties como a Lei de Patentes, que rege o mercado GM. “Precisamos uniformizar a legislação para não desestimular a produção de uma ou de outra. Se continuar como está vai virar tudo transgênico mesmo, por questões econômicas”, considera Traver. Para ele, o grande desafio a vencer é viabilizar as duas opções de forma que o direito de livre escolha seja assegurado tanto ao produtor quanto ao consumidor.

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