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Gargalos da irrigação desanimam o campo

Falta de energia e demora dos licenciamentos são alguns dos entraves


Falta de energia e demora dos licenciamentos são alguns dos entraves para minimizar as perdas no campo com a seca

Com acréscimo anual de 150 mil hectares, o Brasil levará 170 anos para alcançar a área potencialmente irrigável, dimensionada pela Secretaria Nacional de Irrigação em 30 milhões de hectares. O tempo é calculado pelo presidente da americana Valmont, uma das raras fabricantes de pivôs com atuação no País, Marcelo Borges Lopes, inconformado com os 4,9 milhões de hectares atuais cobertos por métodos de irrigação, liderados pela aspersão. Segundo Lopes, 500 mil hectares estão prontos (com garantia de água) hoje para receber pivôs, mas falta energia elétrica para ligar os equipamentos. O argumento dos fabricantes é um só. “Os 5% da área irrigada respondem por 18% da produção agrícola”, contabiliza o executivo, reforçando a eficiência.

Lopes adverte que, além da energia, o maior gargalo é a demora dos licenciamentos e da emissão de outorgas. Ele cita que 22 pedidos de outorga de clientes da empresa no Estado aguardavam desde maio de 2011 pelo aval do Departamento de Recursos Hídricos (DRH). “Se tivesse saído em 90 dias, dava tempo de instalar os pivôs. Seriam 3,5 mil hectares a mais irrigados.” A agilização do documento é vital, pois é um dos requisitos para o banco liberar crédito, que tem sobrado por falta de pretendentes em linhas como Moderinfra no País.

As indústrias asseguram que têm capacidade para suprir eventual corrida a aspersores, caso o plano de irrigação prometido pelo Estado saia do papel. E esta é a hora, dizem. O mercado local é considerado um dos mais promissores. O crédito mais barato será um dos desafios do plano estadual, que focará a irrigação no milho. A meta é agregar até 175 mil novos hectares até 2014.

A corrida é contra o tempo, diz o diretor-superintendente da Fockink, com sede em Panambi, Ziegfried Kwast, que opinou sobre o plano de irrigação. Para garantir reserva de água na safra 2012/2013, os avais ambientais para novos açudes ou captação de rios precisam sair até maio, para contratação e instalação de pivôs até setembro. O Estado tem maior oferta de açudes em área pequenas, que poderiam servir a pastagens para gado leiteiro ou assegurar menor perda. “Irrigando metade, evitaria o prejuízo maior.” O superintendente da Fockink aponta que a mentalidade do agricultor ainda é de adiar o investimento.

Dados da Abimaq projetam venda de 770 máquinas em 2012 e 15 mil no País. O superintendente defende que o Estado priorize áreas mais carentes, como Fronteira-Oeste, Centro e parte do Sul, para incentivo à irrigação. Kwast é adepto de subsídio para reduzir os aportes dos produtores nos financiamentos e no uso do diesel. No Brasil, a medida atinge IPI e ICMS. “Todos os países que tiveram explosão da irrigação aportaram subsídios”, alerta. Ele aponta a redução do PIS/Cofins como desafio. A popularização dos pivôs também reduzirá preços. Atrair fornecedores de peças para se instalar no Estado daria mais um empurrão para baratear os sistemas.

Plano terá isenção em diesel e barateia crédito

O novo plano de irrigação do governo estadual compensará o alto custo do óleo diesel usado nos pivôs devido à escassez de energia elétrica com juro mais barato nos financiamentos para compra dos pivôs. O nível de abatimento será de acordo com o tamanho da propriedade. O diesel chega a dobrar a despesa de energia. Outra estratégia será permitir a contratação de redes trifásicas com o crédito do Bndes, operado por Banrisul, Brde e Badesul, para assegurar estabilidade na operação. Hoje, quando um produtor aciona o motor, se não tiver a infraestrutura adequada, pode gerar queda da energia na região onde reside.

Com os atrativos, o governo atual alavancará programas antes limitados a construir açudes e barragens. “Queremos estimular os investimentos nos sistemas. O produtor terá três anos para começar a pagar”, aposta o secretário-adjunto da Agricultura, Cláudio Fioreze.

O recurso para custear a rede elétrica é tão importante quanto ter água. Segundo empresas e agricultores, o valor, que pode chegar a R$ 1 milhão, torna inviável implantar os sistemas, que valem de R$ 4 mil a R$ 5 mil por hectare. As alternativas financeiras já compõem o Plano de Irrigação estadual, a ser anunciado este mês. Fioreze alega que a isenção de ICMS no diesel, já cogitada, exigiria legislação específica e seria de difícil controle. “Não teríamos como fiscalizar cada propriedade”, justifica.

A solução no suprimento de energia não deve ser viável em 2012. Um grupo analisará as medidas. Para este ano, a aposta é baratear o custo do crédito para que as propriedades possam instalar o maquinário. Na área ambiental, a outorga será prévia e sem prazo. Até porque a lei ambiental prevê que o uso da água pode ser cassado a qualquer tempo. As licenças de operação também serão ilimitadas. O vice-presidente da Farsul, Gedeão Pereira, já reclamou ao governador Tarso Genro que o Estado adotava período inferior ao que a lei federal permite.

Secretário visita propriedades no Interior
O secretário da Agricultura, Pecuária e Agronegócio, Luiz Fernando Mainardi, está percorrendo o Estado para conferir experiências exitosas de produtividade com o uso de irrigação. Na sexta-feira, Mainardi conheceu em Dom Pedrito uma pastagem irrigada que aumenta a produção em mais de quinze vezes o volume de carne por hectare/ano.

Na Agropecuária Viragro, as raças Red Angus e Aberdeen Angus pastam em um sistema de rodízio em 210 hectares de sorgo irrigado, abastecidos por cinco pivôs móveis que distribuem em torno de 300 mililitros de água por ano. Segundo o gerente Gilberto Loureiro de Souza, o novilho ganha em torno de 1,3kg por dia. “Para garantir renda ao produtor e o crescimento do Estado, temos que trabalhar com previsibilidade. Aumentar a área de culturas irrigadas vai contribuir para isso”, destacou o secretário.

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