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Gaúchos sondam investimento na Índia

Praticamente todos os integrantes da comitiva brasileira na Índia compareceram ao encontro na Embaixada


Praticamente todos os integrantes da comitiva brasileira na Índia compareceram ao encontro na Embaixada

Nada como um dia depois do outro. Depois das declarações ríspidas que deram a tônica do encontro de quarta-feira entre a delegação do governo brasileiro na Conferência das Partes (COP 7) da Convenção-Quadro e integrantes da comitiva de lideranças da cadeia produtiva do tabaco, em Nova Délhi, na Índia, ambas as partes voltaram a se reunir ontem, desta vez, em clima bem mais ameno. O reencontro ocorreu na sede da Embaixada do Brasil. A diferença é que, desta vez, a reunião não teve a participação das ONGs antitabagistas, que costumam marcar presença em todas as oportunidades nas quais a delegação oficial topa conversar com  integrantes do setor do tabaco.

A agenda na Embaixada havia sido solicitada pelo presidente da Comissão de Agricultura da Assembleia gaúcha, deputado Adolfo Brito, e ainda por prefeitos que acompanham a comitiva na Ásia. A intenção do grupo era obter do embaixador Tovar da Silva Nunes um panorama das oportunidades de aproximação comercial ou das possibilidades de investimentos que a Índia poderia oferecer ao Brasil. Justamente por isso, desta vez o tabaco não centralizou a conversa – diferente da reunião anterior, quando o deputado estadual Edson Brum havia acusado a delegação oficial do Brasil de não estar defendendo com a devida ênfase os interesses brasileiros e ter se omitido na decisão de não permitir o acesso dessas lideranças ao prédio onde ocorre a COP 7.

Praticamente todos os integrantes da comitiva brasileira na Índia compareceram ao encontro na Embaixada. Tovar Nunes prontamente salientou que a iniciativa da representação dos deputados e prefeitos do Rio Grande do Sul, bem como dos egressos de outros estados, era muito positiva, pois a Índia efetivamente apresentava muitas possibilidades de aproximação comercial. Para ele, basta apenas paciência e empenho nas negociações preliminares, e organização no sentido de detalhar ao máximo os méritos e os diferenciais de cada setor interessado.

Adolfo Brito ressaltou que, na condição de presidente da Comissão de Agricultura, buscaria divulgar essas áreas de interesse junto a seus pares na Assembleia Legislativa. E por sugestão do embaixador, uma nova reunião foi viabilizada para hoje. O objetivo, desta vez, é fazer contatos no equivalente ao Ministério da Indústria e Comércio do governo indiano, aproveitando a presença das autoridades da região sul na Índia.

Lentilha e frutas

Duas áreas são atrativas para o governo indiano em suas intenções de investimentos no Brasil: a produção de lentilhas e outras leguminosas e a fabricação de agroquímicos, que já motiva os primeiros projetos. Nas exportações para a Índia, Tovar citou as frutas em geral (peras, maçãs, ameixas, morango e até açaí), processadas como geleias e doces, e café. Em relação à carne de frango, ele referiu o desafio de dirimir questões sanitárias e tarifárias, pois a tarifa de importação chega a 35%. “Os indianos estão cada vez mais predispostos a experimentar coisas diferentes. O Estado que souber se organizar no Brasil pode encontrar excelentes oportunidades.”

CORTINA DE FUMAÇA

A delegação brasileira estaria sob ameaça de ser contemplada, ao final da COP 7, com o chamado “troféu cinzeiro sujo” por causa do diálogo com as representações da cadeia produtiva do tabaco, o que chefias do evento denominam de “contatos com a indústria”, rechaçados com veemência e rigor. Outro motivo é a insistência da delegação em possibilitar que o público ao menos tenha acesso ao local da conferência.

A secretária-executiva da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco, a brasileira Vera Costa e Silva, esquiva-se de todas as formas possíveis da imprensa. Diante de pedidos de entrevista, costuma brindar o jornalista com frases como “agora não posso”, “estou com pressa”, “agenda com meu secretário”. Igualmente, ela não costuma comparecer aos encontros de final de dia com a imprensa. Abertura zero.

Entre os membros da delegação oficial brasileira, ninguém faz mistério sobre o fato de que todos os integrantes do grupo oficial na Índia precisaram assinar um termo, onde asseguram que não têm qualquer contato com a indústria do cigarro e do tabaco ou recebem algum tipo de subvenção dela. Ainda que se trate de uma instância pública, a pressão, para alguns deles, não tem nada de democrática.

Chama atenção de todos a movimentação extremamente livre e desenvolta de integrantes de ONGs junto às delegações. No caso do Brasil, costumam estar presentes ou comparecer com muita naturalidade, como se governo fossem. Já o embaixador Tovar da Silva Nunes revelou ontem que ele próprio tem a determinação pontual de conceder apenas três encontros de exatos 30 minutos cada para conversar com representações da cadeia produtiva.

Debates da COP 7 chegam à reta final

No ambiente da COP 7, ontem foi dia de agilização das tratativas e encaminhamentos finais em alguns dos pontos discutidos nas duas comissões, as de assuntos técnicos e de temas institucionais e de orçamento. O subchefe da delegação brasileira, Carlos Cuenca, enfatizou que a partir da manhã desta sexta-feira muitos dos documentos finais estariam sendo divulgados. Todos os trabalhos confluem para a plenária final, amanhã de manhã, quando se terá o panorama geral das decisões da conferência.
A porta-voz do secretariado da COP 7, Stella Bialous, lembrou que a reta final da semana de trabalhos costuma invadir a noite, nas conversas e nos debates. “Todas as aprovações precisam ser definidas em consenso dentro do comitê. Caso contrário, pode-se suspender os estudos até a conferencia seguinte”, ressaltou.

Amanhã, após a última plenária, assegurou Stella, a publicação do documento final será rápida, até porque os documentos dos pontos de consenso já terão sido publicados. De parte do público brasileiro, Stella salientou que o maior interesse costuma estar centrado sobre os artigos 17 e 18, que versam sobre a busca de alternativas economicamente viáveis à lavoura de tabaco, e que ainda continuavam em debate ontem.

Mas o representante do Ministério da Agricultura na delegação brasileira, Savio Pereira, garantia que nesse terreno nada havia a acrescentar. “O Brasil já sabe que a decisão, nesse ponto, é de que essa cultura está preservada e a partir de agora o esforço deve ser por criar linhas de financiamento e apoios efetivos a quem quiser diversificar”, disse.  “Acho mesmo que se deve defender, no Brasil, a disponibilização de linha de financiamento via Pronaf para o produtor de tabaco que desejar investir em outras fontes de renda, ainda que, com toda a liberdade, opte por seguir produzindo fumo”, finalizou.

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